Duas semanas depois.
Minhas poucas malas estavam prontas junto com roupinhas dos meus filhos, nunca fui apegada em bens materiais, portanto tinha poucas coisas. As coisas que mais tenho de valor são as joias da minha mãe que não pretendo vender, são minhas últimas lembranças dela e dos momentos em que ela mais se embelezava para meus pais, por isso não vou vender nem se realmente precisar.
A ganância pelo dinheiro matou meus pais, tornando a minha vida um verdadeiro inferno na terra, por isso, quando senhora Zélia apareceu com vários presentes para mim e meus filhos quis rejeitar, não era certo aceitar. A família Ambrósio foi tão boa pra mim, que seria até uma indelicadeza minha aceitar presentes deles, mas senhor Felipe me obrigou, por assim dizer, a pegá-los. Fazer isso me deixou bem desconfortável, mas não teve jeito, homens como meu pai e senhor Felipe são difíceis de serem dobrados.
– Saiba que poderá voltar quando quiser, as portas de nossa casa estarão sempre abertas para você e suas crianças. Pra falar a verdade, minhas filhas queriam sequestrar seus filhos, nós é que não deixamos.
Fabiana e Laís se ligaram muito as crianças, fiz uma boa amizade com elas também. Apenas é difícil para mim por causa da depressão e do medo em confiar nas pessoas, me entregar a relações humanas ainda é um desafio.
– Ainda pensamos em sequestrar esses bonitinhos.
Cada uma das irmãs seguravam no colo, Tiago e Gisele.
Meu filho ainda sente falta do pai, mas com muita atenção e carinho estou conseguido sanar essa falta. Ando muito ansiosa essa última semana, já que Alexandre não deu sinal de vida, e isso me deixa em alerta. É triste dizer isso, mas conheço aquele homem como a palma da minha mão, e o silêncio dele não é nada bom.
– Tem certeza que não quer dizer para onde vai? Queremos ir visitar vocês!
– Sou grata por tudo que fizeram por mim, queria muito poder contar para vocês. Mas, se quero recomeçar preciso me afastar totalmente da La máfia. Prometo que tentarei mandar notícias assim que tudo estiver resolvido, darei um jeito de entrar em contato com vocês.
Se eles souberem aonde estou indo não será bom para essa família, Alexandre pode fazer algo com eles somente para saber de meu paradeiro. A última coisa que quero é prejudicar essas pessoas que me ajudaram tanto.
– Querida, os sete anos vão passar, nós do consejo precisamos saber aonde está indo. No momento certo, teremos que reportar o lugar aonde escolheu viver para Alexandre.
– Enzo Pontes, sabe para onde estou indo. No momento certo oriento que procurem ele.
Sabia que não poderia fugir do pai dos meus filhos, mas apenas quero ter um tempo pra mim, poder voltar a fazer o tratamento psicológico, retomar meus estudos e começar a trabalhar. Ser mãe sozinha não será fácil, mas acredito que com muita fé, amor e perseverança, vou conseguir superar todos os obstáculos que possam aparecer.
– Agradeço mais uma vez por tudo que fizeram, desejo muitas felicidades para todos. E que Deus possa abençoar a vida de cada um de vocês.
Os filhos, as noras, as filhas, Felipe, senhora Zélia e meu amigo Murilo, estavam todos ali para minha despedida. É estranho saber que vivi tantas coisas em poucos anos. Parece que ir embora daqui é uma loucura, afinal de contas cresci dentro da la máfia, mas hoje vejo que não quero fazer parte dessa vida.
– Pretende voltar um dia?
Tânia estava ao lado de Murilo de mãos dadas, os dois fazem um belo casal. Fico feliz por isso.
– Penso que daqui sete anos, precise voltar. Mas, durante esse período não pretendo voltar, espero de coração encontrar todos bem!
Entro no carro sendo ajudada pelas duas filhas mais novas de Felipe, elas colocam as crianças nas cadeirinhas, mas não sem antes beijar e abraçar muito meus bebês. As malas já estavam no porta malas, tudo estava pronto para minha partida.
– Desejamos felicidades e um bom recomeço para você, minha querida!
Zélia me abraçou com carinho, seguida pelas noras e suas filhas, fui tão bem acolhida aqui. Sei que sentirei falta de todos, pois em um momento difícil da minha vida foram bons e generosos comigo. As crianças perceberam que estávamos partindo, principalmente Tiago que começou a sacudir suas mãozinhas dando um tchau alegre para as mulheres Ambrósio.
O motorista nos levou rápido até o aeroporto, meu pai já estava nos esperando, e ajudou com Tiago, enquanto o motorista levava as malas.
– Filha, tem certeza que quer ir? Pense bem.
– Sei que quer me proteger, mas preciso aprender a andar com as próprias pernas. Preciso disso, papai. Por favor deixe que eu viva e decida o que é melhor pra mim.
Agora tudo que quero nessa vida é viver sem a interferência de ninguém, por mais difícil que possa ser, quero caminhar com minhas próprias pernas.
Meu pai abraça e beija os netos com carinho, enquanto escuto a chamada para entrar no avião.
– Promete que vai se comunicar comigo? Não me deixe sem notícias das crianças e nem sem saber sobre você, minha filha. Se não conseguir emprego não pense duas vezes antes de me procurar.
– Vou conseguir um emprego sim, papai. Apenas irei procurá-lo para dizer como estou bem com as crianças, não se preocupe.
Saio em direção a porta de embarque, mas claro, não sem antes beijar e abraçar meu pai, ficarei um bom tempo sem vê-lo, por este motivo demoro em um abraço bem apertado. Vou levando as crianças nos carrinhos até o avião.
Fazia tanto tempo que não viajava de avião que quando deram preferência para mim na fila de embarque, achei estranho. Mas entendi que já não era uma simples adolescente, e sim, uma mulher e mãe de duas crianças.
Entreguei os documentos que autorizavam minha viagens com meus pequenos. Meu pai comprou passagens para viajarmos durante a noite, para que as crianças pudesse dormir a viagem inteira, não tendo risco de ficarem assustadas com o vôo. Seria a primeira viagem de avião dos dois, mas como eles iriam dormir seria tranquilo.
Começo a olhar as marcas em meus pulsos lembrando do dia mais terrível da minha vida, tudo que queria era morrer para não sofrer nas mãos de Alexandre, mas existe algo maior pra mim nessa vida, e por esse motivo não fui morta por ele e nem consegui tirar minha vida.
Já tínhamos entrado no avião, meu pai fez questão de comprar passagens na primeira classe. Não sou uma pessoa de luxos, mas meu pai sempre gostou de dar tudo do bom e do melhor pra mim.
Seguro a corrente em meu pescoço que um dia foi de Dona Gisele, poderia ter jogado ela fora ou devolvido para Alexandre, mas sabia que essa correntinha com o pingente de rosa tinha um significado muito maior pra mim do que apenas um presente dado por Alexandre. Ela representava uma mulher que não teve chance de recomeçar e que viveu a vida inteira refém do medo como um dia eu fui. Por dona Gisele e por mim preciso continuar a lutar, não vou desistir enquanto não conquistar minha independência, por este motivo não vou parar de usar essa corrente, ela é o símbolo da minha resistência como a rosa que é bela mas que tem sua força em seus espinhos. Serei como a rosa, a flor que sempre admirei por sua beleza e força.
Paris será minha nova casa, meu novo recomeço!
Alexandre
– Conseguiu alguma notícia dela?
Estava tentando descobrir para onde Marisa poderia ir. Essas últimas semanas venho me dedicando em saber para onde ela está indo junto com meus filhos e cuidar dos assuntos da la máfia. Ninguém aparentemente sabe sobre ela, Marisa sumiu do mapa com meus pequenos, mas não vou desistir até encontrá-la, darei um jeito de achar minha mulher, assim poderei acompanhar cada passo que der.
– Não descobri nada senhor. Quando deixei ela e as crianças no aeroporto, o senhor Enzo logo deu um jeito de dispensar meus serviços, o homem é esperto.
Sabia que tinha um dedo daquele desgraçado do Enzo. No momento certo vou tirá-lo do meu caminho fazendo ele pagar por tudo que fez contra mim, mas agora tenho que focar em encontrar minha família.
– Continue sendo meu informante e será muito bem recompensado por isso.
Entrego uma boa quantia em dinheiro para o motorista dos Ambrósio, enquanto resolvo algumas pendências da la máfia em minha mansão. O homem saiu contente com se estivesse extremamente animado, sou generoso mesmo ele não me trazendo nenhuma informação útil.
– O senhor não irá jantar?
– Se puder traga o jantar até aqui, Abigail. Será melhor pra mim.
É difícil pra mim ir na sala de jantar, pois lá foi o lugar onde mais humilhei Marisa. Minha mulher era uma jovem dama com comportamentos refinados, mas acabei transformando Marisa em uma cachorra de rua, fazendo ela comer em uma tigela para dar ração aos cães. Fiz ela se sentar no chão como se não fosse nada e ainda fiz com que ela comesse um pedaço de bolo que joguei e pisoteei no chão. Ela estava com desejo de grávida, esperando meu primogênito, mas mesmo assim tratei a mãe dos meus filhos como um ser sem valor. Olhar aquele lugar é um lembrete eterno para nunca esquecer que perdi minha família por ignorância, maldade e crueldade, agora vejo como sou um monstro por não ter amado Marisa. Quando menti, mesmo tendo a chance te ter falado a verdade e de como destruí sua inocência e doçura, fui um verdadeiro demônio, e agora compreendo isso.
Esses sete anos serão pra mim como sete mil anos, pois a falta que ela e meus filhos vão fazer em minha vida será torturante, já que a cada dia irei lembrar de todas as coisas que fiz sabendo que por mais poder que possa ter, jamais poderei voltar no tempo e concertar o passado. Apenas posso construir um futuro ao lado dos meus filhos e quem sabe ao lado de Marisa, pois nunca vou desistir da mulher da minha vida.
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