SPOTTED: Behind the Gossip (...

By naymeestwick

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Uma fanfic sobre a vida real nos bastidores de Gossip Girl. Ed Westwick e Leighton Meester de um jeito que vo... More

Before the reading
Prólogo - Welcome to New York
Capítulo 1 - With me
Capítulo 2 - Girls just wanna have fun!
Capítulo 3 - Bad News, Meester
Capítulo 4 - Lose all control (Parte 1)
Capítulo 5 - Our first time
Capítulo 6- Lose all control (parte 2)
Capítulo 7 - Entitled mine
Capítulo 8 - Elastic heart
Capítulo 9- NYC - Gone, gone
Capítulo 10 - 4 in the morning (versão estendida)
Capítulo 11 - Two is better than one
Capítulo 12 - The words
Capítulo 13 - I can't say THE WORDS because my HEART IS OF STONE
Capítulo 14- Crazy! (Versão estendida)
Capítulo 15- Leighton Meester must fight!
Capítulo 16 - City lights
Capítulo 17- Dangerous woman
Capítulo 18 - All night
Capítulo 19 - Fire meet gasoline*
Capítulo 20 - Trading Time (parte 1)
Capítulo 21 - Trading time (parte 2)
Capítulo 22 - Run away
Capítulo 23- Help!
Capítulo 24- Dark Night
Capítulo 25- Unwritten
Capítulo 26- The Meester Hit Project
Capítulo 27- Photograph (versão estendida)
Capítulo 28 - Only thing I ever get for Christmas*
Capítulo 29- Remember the daze
Capítulo 30 - Shut up and drive*
Capítulo 31 - Prom Queen
Capítulo 32- We are stars
Capítulo 33 - Empire State of Mind
Capítulo 34 - Sweet
Capítulo 35 - She will be loved
Capítulo 36 - Hurricane
Capítulo 37 - Hurts like heaven
Capítulo 38 - Hurts good
Capítulo 39 - Hurts so good!
Capítulo 40 - Your love is a drug*
Capítulo 41 - Pillowtalk
Capítulo 42 - New York's best kept secret
Capítulo 43- I knew you were trouble
Capítulo 44- Do I wanna know?
Capítulo 45- Serendipity
Capítulo 46 - Happy (blackest) day!
Capítulo 48 - Someone New
Capítulo 49 - Dive
Capítulo 50 - The ice is getting thinner
Capítulo 51 - Gravity
Capítulo 52 - Good girls go bad
Capítulo 53 - Lost in reality
Capítulo 54 - Lust for life *
nota de esclarecimento
Capítulo 55 - Stay or leave
Capítulo 56 - No new tale to tell
Capítulo 57 - Send my love to your new lover
Capítulo 58 - New York, I love you but you're bringing me down
Capítulo 59 - Burn the pages
Capítulo 60 - Beautiful people, beautiful problems
Capítulo 61 - Back to you
Capítulo 62 - Broken arrow (versão estendida)
Capítulo 63 - Blue afternoon
Capítulo 64 - Die for you
Capítulo 65 - Radar
Capítulo 66 - Flesh without blood
Capítulo 67 - Rose-colored boy

Capítulo 47 - I see you (versão estendida)

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By naymeestwick

Tradução: Eu te vejo
(assistam ao vídeo fixado)

"I'm sitting across from you, and dreaming of the things I do. I don't speak, you don't know me at all. For fear of what you might do, I say nothing but stare at you. And I'm dreaming. I'm trippin' over you. Truth be told, my problem's solved. You mean the world to be but you'll never know. You could be cruel to me, while we're risking the way that I see you. / Eu estou sentado na sua frente e sonhando com as coisas que eu faço. Eu não falo, você não me conhece de verdade. Por medo do que você poderia fazer, eu não digo nada, mas fico encarando você. E eu estou sonhando. Eu estou viajando em você. Verdade seja dita, você é a solução para os meus problemas. Você significa tudo para mim, mas nunca saberá. Você poderia ser cruel comigo, enquanto estamos nos arriscando pelo modo que eu vejo você."
(Mika, I see you)

n/a iniciais: meus amores, que saudade!
Acabei de perceber que tem um mês e dois dias que a gente não se encontra e eu nem sei como me desculpar por isso. Aliás, acho que sei, sim! Começando por esse capítulo <gigaaante>. Além disso, eis que nosso aniversário no wattpad está chegando em 6 dias! E nós vamos comemorar muuuito até lá. Para começar, tem capítulo hoje e também tem amanhã! (Yes!) É um momento difícil para todos nós, mas espero que curtam! <3

🌸🌸🌸

Nos capítulos anteriores...

— E se eu dissesse que já tínhamos nos cruzado antes?

— O quê? É alguma história que você inventou? O que você pode saber que eu ainda não sei?

— Esse é seu filme, Leighton. Mas você já parou para pensar que ele pode não ter sido escrito apenas por você? Sempre há múltiplos pontos de vista em uma história.

***

— Não é só isso, Leigh! O universo inteiro conspira quando duas pessoas têm de se encontrar. Como você pode explicar essa série de eventos contínuos que só acontecem para nos aproximar?

— Coincidência!

— Coincidência é quando você joga uma moeda não viciada e obtém três caras consecutivamente. Não existe relação de causa e efeito entre o resultado anterior e o próximo resultado. Não é como o que acontece com a gente. Está tudo muito conectado.

***

...Estamos conectados, Leigh. Pertencemos um ao outro assim como o Empire State pertence à Nova York. Talvez, eu não sinta tanto agora. Mas, daqui a alguns anos, quando a série acabar, e eu perceber que estou ficando velho sem ter a mulher da minha vida ao meu lado... Isso vai acabar comigo.

— Ed, por que você está dizendo isso? Você tem 21 anos. É prematuro demais para prever! — Murmurejei com os lábios trêmulos e voz embargada.

— Porque eu... Eu te amo, Leighton.

🎬🎬🎬

Quando o Universo está rindo de nossas vidas patéticas no meio de tantos eventos infelizes e nos coloca diante de uma nova realidade cheia de esperança e de felicidade, como devemos chamar? O que devemos fazer?

Agarrar com unhas de dentes? Continuar aceitando a pessoa que nos fere como se fossem os jeans que não servem mais, mas insistimos em manter no fundo do armário, apenas porque estamos um pouco demais apegados para nos livrarmos?

Então você se pergunta: destino ou uma coincidência? Existe uma razão para isso estar acontecendo?

Eu esperava que sim.

O caminho de táxi até a minha casa pareceu levar uma eternidade. Estava cansada, aflita e receosa quanto ao que havia acabado de ouvir. Ele me amava. Me amava de verdade. E isso era preocupante.

Quanto mais eu lutava para afastar os pensamentos, mais meu cérebro me empurrava para aquele abismo. E se, por acaso, ele disse aquilo no calor da emoção causada pela intensidade da situação?

Era uma hipótese a se considerar. Eu havia feito isso mais de uma vez e ainda não tinha certeza se era o que eu realmente queria dizer ou se fui afetada pela emoção.

Eu nunca tinha certeza das coisas com Ed. Desde o começo, enfrentamos tantos desencontros e situações constrangedoras que era difícil imaginar uma vida tranquila ao lado dele. Não apenas por culpa dele, mas, porque a vida parecia estar jogando contra nós.

Mas se era tão inatingível e eu sabia disso, por que eu continuava a sentir toda aquela dor dentro de mim? — Pensei no meio do trajeto, enterrando o rosto nas mãos.

Eu não me compreendia mais. Não via sentido em nada. Eu sabia que tinha de ter evitado isso.

Eu tinha a minha resposta. As palavras exatas, previamente definidas para momentos como esse. Mas, haviam fatores maiores que tinham o poder de mudar tudo.

Com a sensação de ter atravessado a cidade, desci do táxi e subi direto para o meu andar, sem cumprimentar o porteiro, o segurança ou olhar para os lados. Precisava urgentemente de paz e de um momento só meu para extravasar todas as emoções acumuladas nas últimas horas.

Saí do elevador bufando e andei depressa até a porta, procurando as chaves na bolsa com certo desespero.

— Leighton! — Ouvi chamar meu nome e fechei os olhos, dizendo a mim mesma que aquele som havia sido algo oriundo da minha imaginação.

Abri os olhos de repente, ao sentir alguém tocar meu ombro. Só então percebi que era real.

— O que você quer? — Falei em tom ácido, virando-me para Sebastian que estava parado atrás de mim com um pequeno ramalhete de rosas vermelhas. Rolei os olhos. Sempre as achei muito clichê.

— Hoje é o seu aniversário, não é? Vim para te parabenizar! — Ele me entregou as flores.

— Obrigada. Agora, se você me der licença, não estou tendo um grande dia. Preciso de um tempo sozinha. — Fui curta e grossa.

— Mas eu ainda nem entreguei meu presente.

— Seja breve, Sebastian! Por favor... — Pedi, sentindo os olhos queimarem. Quanto mais o tempo passava, mais o desespero me consumia.

— Bem... Feliz aniversário! — Retirando um envelope A4 pardo do interior da jaqueta de couro, ele estendeu a mão e eu rapidamente compreendi o real motivo de ele estar ali.

Na semana anterior, durante a festa do Kent, quando compartilhamos algumas bebidas e nos divertimos com uma conversa animada, percebi que queria dar a Ed da mesma dose para que ele soubesse como é ser passado para trás por uma pessoa que tanto odeia.

Sebastian era o cara ideal. Desde o início, a relação entre ele e Ed foi conturbada. Eles simplesmente não se davam e isso sempre ficava bastante evidente em seus olhares furiosos sempre que se cruzavam no set.

Além disso, escolhi Sebastian como aliado visando suas habilidades sociais. Ele sempre foi conhecido por ser engenhoso e por conhecer muitas pessoas influentes. Pelo menos, era o que eu ouvia dizer em todas as festas em Los Angeles.

Cheguei a acreditar que ele pudesse ser algum tipo de traficante de luxo, mas, alguns anos depois, trabalhando com ele em Gossip Girl, percebi que ele era apenas carismático e um tanto persuasivo.

Aproveitei de toda a fragilidade que o beijo entre Ed e Jessica me causou e a presença de Sebastian na festa, acreditando estar diante da oportunidade perfeita, para fazer o que tinha de fazer. Meu objetivo central era livrar minha pele de algumas manchas do passado que ainda poderiam me fazer mal e que eram uma das razões pela qual Ed e eu não poderíamos ficar juntos naquele momento.

No fundo, eu tinha a expectativa de que, se conseguisse eliminar uma a uma as dezenas de razões que nos impediam de ficarmos realmente juntos, aquela relação poderia funcionar algum dia. Quando eu me sentisse completamente pronta para enfrentar meu maior medo.

Fazer Ed ficar irritado com a aproximação de Sebastian e me dar razão ao fim era apenas um bônus. Ele precisava saber que me magoou de verdade. Não era porque existia uma chance remota de ficarmos juntos que eu perderia a chance de revidar.

Sebastian tinha ciência da divulgação das minhas fotos pelos meus queridos colegas, há alguns anos atrás, na festa de formatura. Ele não era um deles, mas todos os habitantes da área que concentrava Beverly Hills, Hollywood, West Hollywood, Malibu e Terrence tiveram acesso ao vídeo, ainda que por pouco tempo, até que eu conseguisse uma liminar judicial para exterminar o conteúdo da rede.

Entretanto, se há uma coisa nesse mundo que podemos garantir, é que uma vez na World Wide Web, para sempre o conteúdo pertencerá a ela. Seja ele qual for.

Todos estavam acostumados a ver esse tipo de material vazado. Essa era Los Angeles agindo naturalmente. Mas eu nunca conseguiria seguir em frente sabendo da possibilidade de haver um blog de quinta categoria vasculhando a minha vida pessoal e meu passado, a fim de trazer à superfície tudo que um dia fiz questão de enterrar abaixo de sete palmos.

Abordando o assunto sobre Sebastian ter acesso às informações mais privilegiadas da comunidade de fofocas da Camila Montgomery e companhia, instiguei-o a respeito da possibilidade de haver algo relacionado às fotos expostas. Tendo em vista a ameaça que eu havia recebido há algumas semanas.

Precisava me certificar de que não seria mais incomodada com esse assunto repugnante. E se para isso, eu tivesse de firmar um pacto de estabilidade com Sebastian, eu faria. Estava disposta a tudo e encarar meu orgulho era um preço pequeno a se pagar.

— Aqui estão todas as provas contra você que tinham.

— Você conseguiu!!!

Extasiada pela notícia, pulei em seu pescoço e abracei o mais forte que pude. Ele havia acabado de salvar o meu dia, minha reputação e minha carreira em uma única tacada.

— Bem, nesse caso, parabéns pra mim! — Ele deu um sorriso convencido, fitando-me com afinco, quando o soltei.

— Obrigada, obrigada, obrigada! Você é um máximo! — Eu estava histérica. Não parava de sorrir e abraçar o envelope que eu pretendia queimar assim que conseguisse entrar.

— Seu conceito muda bem rápido! — Ele cruzou os braços, apoiando um ombro na parede.

— Isso aqui mudou a minha vida! E é bom que você não tenha visto. — Falei em tom de ameaça.

— Relaxa, gata! O envelope veio lacrado.

— Ainda não sei como você consegue essas coisas... — Olhei para o papel mais uma vez e, em seguida, para ele — Como você consegue essas coisas? — Decidi perguntar, mesmo já tendo alguma ideia, apenas para satisfazer minha curiosidade.

— Eu conheço muita gente, Leighton. Mas confesso que ter aquela rede de fofocas rolando no meu celular facilitou muito. Não se preocupe com o método utilizado para resolver isso. — Ele apontou para o papel.

Revirei os olhos quando ele falou sobre o método. Minhas suspeitas apenas se confirmaram quando ele disse aquilo. Era lógico que isso tinha a ver como o boato de que ele transou com a Camila e, depois, com Brenda, a melhor amiga, causando uma tensão na administração das fofocas e fazendo a rede virar uma grande lavanderia de roupas sujas sem filtro. Era mesmo uma sorte poder contar com a Taylor e seu faro jornalístico para nos colocar a par de tudo que acontecia a nossa volta enquanto estávamos muito ocupados trabalhando.

— O que eu não consigo entender é como uma pessoa como você faria uma coisa dessas. Quer dizer, você aparenta ser tão correta e tem um jeito doce... — Ele continuou, sorrindo de lado.

Claramente ele não sabe nada sobre mim.

— Eu tive meus motivos. — Encarei-o sem hesitar — Mas não quero falar sobre isso depois do dia que eu tive. — Baixei os olhos, sentindo a angústia me atormentar outra vez.

— Aconteceu alguma coisa? — Ele disse em tom brando e projetou um olhar preocupado.

Respirei fundo, questionando-me sobre contar ou não o que estava acontecendo naquela noite fatídica, enquanto ele me estudava em silêncio.

— Aconteceu! — Deixei escapar, sentindo uma necessidade desesperadora de desabafar — Quer dizer, não foi nada demais. Eu estou saindo com um cara há alguns meses e hoje, sem mais nem menos, ele disse que me ama na frente de umas seis pessoas e um violinista quando eu estava com a boca suja de algodão doce e completamente despreparada para ser tão fortemente golpeada.

— Você deveria dizer o que sente! — Ele falou com naturalidade.

Não conhecia esse lado afetivo de Sebastian e nunca o imaginaria me aconselhando a falar sobre meus sentimentos com alguém.

De repente, me peguei analisando-o perdida naquele par de olhos azuis brilhantes e, só então, me dei conta do quanto ele era bonito.

— Você acha? — Ergui os olhos, ainda muito surpresa com a atitude dele e tentando desviar os pensamentos para a Antártida. — Eu sinto o mesmo por ele, mas não posso dizer. Tenho medo de estragar tudo.

— Você não vai estragar tudo! — Ele se aproximou um pouco e se permitiu tocar meu pulso. — Eu não sou nenhum tipo de especialista em romances. Longe de mim me envolver em uma confusão dessas! Mas homens não costumam se declarar assim, Leighton. Principalmente se a garota em questão está suja de algodão doce no meio da rua. Você deveria valorizar o esforço do cara!

Sorri pelo modo descontraído que ele tratava um assunto tão sério.

Quanto mais o conhecia, mais sentia que éramos parecidos em muitos aspectos, principalmente pelo modo de pensar.

Voltei a pensar em suas palavras e comecei a rir de repente.

— O quê? — Ele indagou com o cenho levemente franzido.

— É a segunda vez que você me chama pelo nome e não por um apelidinho esdrúxulo. — Constatei.

— Sério?! Nem percebi, aniversariante.

Cai na gargalhada novamente.

— Obrigada pelo conselho. Vou considerar o que você disse, Sebastian. Só preciso pensar se esse esforço realmente vale à pena.

Forcei um sorriso, desejando que fosse tão simples assim.

— Está certo. Espero que as coisas se resolvam logo para vocês, gatinha.

— Obrigada. E, obrigada por isso — Estendi o envelope e as flores — Significa muito para mim o que você fez.

— Não foi nada. Você é uma garota especial, Leighton. Não merece o que fizeram.

— Agora é passado! — Sorri, aliviada por dizer aquilo. Estava cada vez mais decidida a colocar o passado no lugar dele.

— Certo. — Ele fez uma pausa — Tenho que ir agora, não vou mais te interromper.

— Claro!

Ele se aproximou para se despedir com um cumprimento e, em um movimento desajeitado, ele acabou acertando no canto da minha boca o beijo que era para ser dado em minha bochecha.

Não reagi. Então, ele deslizou os lábios pelos meus, gentilmente, e me beijou de verdade. Não o impedi. Por um breve segundo, aquilo e fez esquecer todas as minhas preocupações.

Rapidamente, recobrei a consciência e percebi que aquilo não estava certo. Me afastei um pouco e a minha demonstração de desconforto o fez parar.

Ficamos sem reação por um instante. No instante seguinte, vi Sebastian sendo afastado bruscamente por Ed que, furiosamente, o pressionou contra a porta com uma das mãos sobre sua garganta.

— Ed, o que você está fazendo? Enlouqueceu?! Solta ele! — Gritei o mais alto que pude, puxando-o e, com certo custo, ele obedeceu.

— O que foi, almofadinha? Colocaram energético no seu chazinho? — Sebastian provocou, ajeitando a camisa. Ed ameaçou tocá-lo novamente, mas eu o contive.

— O que deu em você, Ed? — O encarei com mágoa nos olhos. Não havia sequer um resquício do Ed amoroso e respeitoso que passou as últimas três horas ao meu lado.

— Não ouse encostar suas patas sujas na minha namorada outra vez ou eu não responderei por mim! — Ele vociferou em

bom som para quem quisesse ouvir. Olhei para os lados, com medo de estar incomodando os vizinhos e, depois, lancei um olhar enraivecido para Ed.

— Sua o quê? — Sebastian deu um sorriso debochado.

— É exatamente isso que você ouviu!

Ed cerrou as mãos em punho e deu outro passo na direção dele.

— Ed! — Gritei ainda mais alto, levando uma mão à testa. Minha cabeça parecia estar prestes a explodir. Que confusão!

— É verdade, Leigh?! — Sebastian falou quase sussurrando. Parecia decepcionado.

— Sim. Estamos juntos! — Confirmei, mesmo sabendo que nós já havíamos dado um tempo. Ed estava errado em agir daquela forma, mas não queria intensificar a confusão. — Olhei para Ed — Mas isso não te dá o direito de chegar aqui desse jeito, Ed. Você sabe que eu não gosto disso!

Sebastian coçou a cabeça, parecendo ainda mais confuso.

Ed cerrou os dentes e respirou fundo, tentando manter a calma. Então eu o soltei.

— Então, esse é o cara que...

— Sim. — Confirmei, cortando antes que ele expusesse tudo que eu havia acabo de confidenciar.

— Disse que o quê? — Ele se dirigiu a mim com os olhos semicerrados.

— Nada, ed! Disse que acabei de chegar porque estava com você. — Não me sentia no direito de dar mais explicações.

— Bem, vou deixar vocês a sós. Se resolvam aí! — Sebastian disse, sentindo toda a tensão existente ali.

— Não, você fica! — Falei com voz firme — E você também, Ed! — Os dois me encararam, curiosos. — Vamos entrar e conversar civilizadamente.

— Eu não quero conversar, Leighton! — Ed insistiu.

— E eu preciso mesmo ir! — Sebastian também se esquivou.

— Nada disso! Você vai me ajudar a explicar o que está acontecendo... E você vai calar a boca e me escutar. — Me dirigi a cada um deles e voltei a procurar a chave na bolsa.

— Isso é ridículo! — Ed murmurou.

— Ridículo?! — Abri a porta e, ao invés de convidá-los a entrar, virei-me para ele e encarei-o com os olhos semicerrados. — Sabe o que é ridículo, Ed? Você fazer um escândalo desses na porta da minha cara e no dia do meu aniversário! Por mais que tenhamos mantido um namoro escondido por esses últimos três meses e que você tenha decidido dizer aquelas palavras logo hoje, isso não significa que você tenha que controlar a minha vida! — Desabafei, sentindo parte da pressão se dissipar.

— Leighton, falamos sobre isso depois— Ed segurou meu braço. Perecia um pouco mais ansioso e desesperado a cada segundo. Sebastian acompanhava, atento.

Ignorando-o, acendi a luz e continuei a falar, mantendo-me virada para o corredor: Estava tão brava que nem consegui pensar em continuar aquela conversa na sala.

— Ao contrário de você, eu pedi ajuda ao Sebastian para resolver algo importante. E não é o tipo de ajuda que inclui você ficar aos beijos com a Jessica Szohr na frente dos nossos amigos só para salvar a sua carreira. Você diz que estava tentando nos proteger... Pois, eu também! E não vou admitir que você venha aqui e o trate mal sem antes me ouvir. Você estragou o meu dia! Está contente agora? — Relatei, magoada, sem dar importância para o Sebastian poderia estar pensando sobre tudo que eu dizia.

— Leighton! — Ele gritou para que eu me calasse e acenou com a cabeça para dentro do apartamento.

— O quê? — Girei o corpo e dei de cara com um apartamento repleto de balões, enfeites, cupcakes, girassóis e... todos os nossos colegas de trabalho que mal tiveram forças para anunciar a surpresa.

Estavam boquiabertos e atônitos com toda a sequência de informações privilegiadas que tanto batalhamos para mantermos em segredo durante todos aqueles meses. Meses de trabalho duro que eu joguei ao vento em menos de um minuto. Parabéns para você, Leighton.

Alguém quer bolo? — A voz de Taylor soou ao fundo e as atenções foram dividas.

— Ed, você preparou isso? — Falei quase sem forças, pressionando o estômago que começava a queimar.

— Foda-se! — Ele gritou e todos olharam assustados novamente. — Eu estraguei o seu dia, não vou ficar aqui para torná-lo ainda pior. Divirta-se!

Me vendo completamente sem palavras e sem energia para reagir, deixei que ele saísse.

Blake logo tratou de dispersar os olhares curiosos.

— Anda, gente! Procurem o que fazer. Isso não é da conta de vocês!

Me encolhi de vergonha, desejando desaparecer do planeja. Já que a minha casa não era mais um refúgio a se considerar.

Ainda bastante perplexa, olhei para Sebastian que estava atrás de mim e ele ainda parecia um pouco assustado. Era completamente compreensível.

Respirei fundo e fui em sua direção.

— Sebastian, eu...

— Tá esperando o quê? Vai! — Sebastian disse, erguendo as sobrancelhas e apontando para a porta.

Sem acreditar em sua atitude, abri um sorriso grato e, sem pensar duas vezes, saí em disparada atrás de Ed, ignorando todos os contras, antes que ele sumisse de uma vez. Era engraçado como aquilo parecia tão mais sensato vindo da boca de um cara tão insensato como Sebastian.

Apertei os botões de subir e descer do elevador várias vezes, na esperança de que ele pudesse chegar mais rápido, mas nada acontecia. Então eu decidi encarar os dez andares de escada, esperando que aquela situação complicada pudesse ser resolvida de uma vez por todas.

🎬🎬🎬

— Ed, espera! — Gritei, em desespero, ao vê-lo prestes a atravessar a rua.

Ele virou-se lentamente e, quando seus olhos me viram, ele freou os passos, permanecendo parado, com as mãos pousadas nos quadris.

— Volta pra sua festa!

— O que deu em você? Eu não consigo te entender... — Falei ofegante quando consegui me aproximar.

— O que deu em mim? Vamos ver se eu consigo me fazer mais claro. Eu acabo de me declarar para você e, logo em seguida, encontro você aqui com aquele canalha filho da puta! Como você quer que eu me sinta?

Engoli em seco, antes de dar uma declaração sobre o ocorrido. A raiva dele até que fazia um certo sentido se vista por esse ponto.

— Ele é meu amigo. — Cruzei os braços, mantendo a postura.

— Ele não é seu amigo! — Ele deu uma risada sarcástica — Você está usando ele para tentar me dizer algo.

Estreitei os olhos, tentando entender sua declaração. Agora, Ed estava sendo rude sem ao menos procurar entender o meu lado.

— Eu tinha mesmo algo a dizer, mas agora não faz o menor sentido! — Falei, gesticulando automaticamente.

— Eu não gosto de te ver de segredinhos com ele!

Além de rude, agora ele estava sendo um completo hipócrita.

— Assim como você tem os seus com a Jessica?

Eu precisava mostrar que ele estava enganado quanto às intenções de Sebastian em me ajudar e, ao mesmo tempo, sentia que ainda existiam resquícios de mágoa a serem extirpados.

Ele respirou fundo antes de responder.

— Leighton, não é a mesma coisa! — Ele diminuiu o tom e desviou o olhar. Homens...

— Realmente, Ed. A diferença é que não existe segredo aqui, você apenas não me deixou explicar as coisas.

— Não tem o que explicar. — Ele reuniu fôlego e se aproximou um pouco mais, tocando levemente meus ombros. Em seguida, ele olhou em meus olhos, buscando dentro de mim alguma espécie de sinal ou conexão. E ela sempre estava lá, me deixando à mercê daquele sentimento. — Você me ama? Apenas diga que você me ama também e poderemos seguir em frente.

Desviei o olhar, pestanejando com certa dificuldade. Meu estômago se contorceu e comecei a sentir a garganta fechar.

— Eu não posso... — Foi tudo que consegui dizer. Meu tom era vacilante, mas me esforcei para parecer sincera.

— Então você não me ama? Eu só preciso saber a verdade, Leighton. — Seus olhos marejados partiram meu coração.

— Ed, eu não... — Toquei seu rosto, lutando incessantemente contra as lágrimas.

Impaciente, ele me soltou depressa e bufou, passando as duas mãos pelo rosto.

— Leighton, vamos simplificar as coisas para nós, ok? — Ele disse completamente alterado — Faz o que você quiser! Você é livre para decidir o que é melhor para a sua vida. Você deixou claro que não precisa de mim nem dos meus sentimentos. Se era esse o recado que você queria passar, está entregue. Agora, volta pra ele e tenha uma boa noite!

Abracei o meu próprio corpo, sentindo-me muito magoada para responder naquele momento.

Ele tateou o bolso e puxou um cigarro para acender, tornando a caminhar em direção à rua. Pisquei várias vezes para afastar as lágrimas, sem acreditar que ele achava mesmo que eu seria capaz de fazer algo tão baixo com ele e com seus sentimentos.

— Quer saber, Ed?! Você tem toda a razão! — Comecei a falar, cega pelo ressentimento. Ele parou de andar e permaneceu onde estava, apenas interessado em ouvir. — Isso aqui já deu o que tinha de dar e é bom que você tenha entendido o recado. — Notei que seus ombros subiam e desciam, ele estava furioso. — Agora vê se vai embora e não pense em voltar, porque você já fez muitos estragos em apenas uma noite.

— Ótimo! Vou dar um jeito de não estragar mais sua vida nem a de ninguém.

Inclinei um pouco a cabeça, procurando entender a intenção daquela declaração, mas logo me consertei. Não podia e não iria esmorecer. Nossa relação havia se tornado uma enorme guerra de ego e orgulho próprio, e eu iria lutar pelo meu.

— Faça como achar melhor! Agora, se me der licença, tenho convidados para atender.

Ele deu de ombros e eu corri de volta para o apartamento antes de ouvir uma resposta, esforçando-me avidamente para desviar os pensamentos ruins.

Eu não queria ter sido grosseira com ele, nem dizer coisas que o pudessem magoar, mas ele também havia me atingido com sua maneira de insinuar inverdades sobre mim. E ele não fazia ideia do quanto eu abominava esse tipo de atitude.

🎬🎬🎬

Chegando ao apartamento, encontrei todos os convidados da festa surpresa organizada por ele.

Observei os detalhes da decoração. Os girassóis e os cupcakes de chocolate na bancada ao lado do bolo branco e amarelo com a palavra "Sunshine" (raio de sol) escrita em dourado no topo, junto às velas júpiter que eu tanto adorava.

Tudo tinha um toque especial dele e contava uma história tão intima e feliz que era difícil acreditar que havia terminado de maneira tão inconveniente.

Chace me parou, antes que eu pudesse alcançar o corredor, mostrando-se preocupado com o meu estado.

— Ei, você está bem?

— Não, preciso de um momento! — Afastei-me sem dar mais explicações e ele não me impediu. Sabia o quanto eu presava meus momentos a sós comigo mesma.

Logo em seguida, Taylor e Dreama me cercaram, deixando-me sem meio de escapatória. Cheguei a pensar em me esquivar, mas elas foram mais rápidas.

— Leighton, é verdade o que você disse? — Taylor perguntou primeiro.

— Então, você era a namorada dele esse tempo todo? — Dreama disparou em seguida. — Como não desconfiamos?

— É, estava tão na cara! — Taylor retrucou.

Incapaz de responder àquele interrogatório, girei os olhos ao redor e o desespero tomou conta de mim. Era como se a ficha caísse e tudo que aconteceu entre nós durante todo esse tempo fosse de fato algo. E, agora, todos sabiam.

O segredo que nos pressionou durante todos os meses que estivemos juntos estava à disposição de todos os nossos amigos em comum.

Pensei em todos que se sentiriam magoados ou ofendidos com aquela omissão e em como nossos chefes reagiriam à notícia. E pensar que havíamos chegado tão perto da assinatura do novo contrato sem ter novas infrações... Éramos dois idiotas.

Sem dizer uma palavra, corri até o meu quarto e tranquei a porta, deixando meu corpo escorregar, teatralmente, pela madeira fria ao mesmo tempo que as lágrimas começavam a rolar compulsivamente.

Eu precisava disso, precisava me permitir sentir algo pela primeira vez.

Tudo que eu queria era que aquela tempestade em meu interior parasse de uma vez. Como é que pode uma vida ter tantos altos e baixos como a minha? Deveria haver algo de errado comigo e isso era, simplesmente, insuportável.

🎬🎬🎬

Algum tempo depois, acordei com o barulho ensurdecedor de batidas na porta, seguidas por chamamentos e latidos de Jack. Abri os olhos devagar sem conseguir reconhecer a voz ou identificar as palavras, devido ao som da música que vinha da sala.

Levantei-me, sentindo a cabeça pesar. Devia ter cochilado por alguns minutos, pois não me lembrava de ter deitado no chão, nem do momento exato em que minhas lágrimas cessaram.

— Leighton, pelo amor de Deus, não faz isso comigo. Eu vou pedir para arrombarem essa porta! — Consegui ouvir nitidamente quando a música parou antes de uma outra iniciar. Era Blake e ela parecia estar em pânico.

— Já vou abrir! — Murmurei baixo, destrancando a porta.

— Ai, Leigh! Graça a Deus! — Ela me abraçou — Achei que você tinha morrido aí dentro. Não me assuste desse jeito, menina! — Ela me advertiu, segurando em meus ombros.

Senti vontade de sorrir devido à maneira protetora como ela falava.

— Estou bem, só acho que acabei cochilando. Foi um dia exaustivo. — Falei calmamente, sem encará-la.

— Sua cara está péssima. Estava chorando?

— Sim. — Expirei e puxei-a para dentro, fechando a porta novamente. — Eu fiz a maior merda da minha vida!

— Qual delas? — Ela sorriu de maneira descontraída, se jogando na cama.

Andei em direção a ela e me sentei ao seu lado. Jack me seguiu e encaixou-se entre nós duas.

— Você estava aqui há uma hora atrás? — Perguntei com uma dose de sarcasmo na voz.

Ela soltou uma gargalhada, parecendo entender a que merda eu me referia.

— Se for sobre o seu lance com o Ed, não precisa esquentar a cabeça...

— Como? Todo mundo sabe e... — Fiz uma pausa — Espera, você deveria estar com raiva de mim!

— É, eu deveria. Se eu já não soubesse disso há um tempinho. E o Chace também soube. — Ela revelou calmamente.

— Como você soube? Quer dizer, como vocês souberam? — Perguntei, sentindo a garganta apertar.

— Bem, eu poderia dizer que foi pela maneira com que ele cuidou dos detalhes da sua festa surpresa e jeito que os olhos dele brilhavam sempre que pronunciava seu nome. Ou poderia ser pela forma como vocês se olham quando trabalham juntos ou pelo fato de ele ter dado um cachorrinho a você de presente de aniversário. Mas a verdade é que ele me contou e ele me contou e eu contei pro Chace antes da festa começar. E, sim, eu deveria estar muito chateada por você ter mentido para mim, mas isso não vem ao caso agora.

— Ele contou? — Ergui os olhos, sem acreditar naquilo. Ele traiu nosso pacto.

— Ele meio que foi intimado a fazer isso enquanto fazíamos alguns preparativos lá em casa na hora do almoço. Não fique brava, ele não teve escolha. Por falar nisso, você sabia que ele tem uma foto sua na carteira? Ele é tão romântico! — Ela suspirou, olhando para o teto, com um certo brilho no olhar.

Ele era mesmo. Romântico até demais. Parecia ter saído diretamente de um filme dos anos 60, como "Bonequinha de Luxo" ou "Descalços no Parque".

— Desculpa por isso. Não tínhamos escolha. — Ergui um pouco os ombros, como se não tivesse uma boa explicação. E eu não tinha mesmo.

— Eu vi como ele saiu na hora da surpresa. — Ela voltou a falar — Deu para perceber que vocês não estão bem e eu me senti na obrigação de fazer alguma coisa, por isso vim falar com você. Eu gosto tanto de vocês e sei que vocês juntos seriam muito felizes. Apenas um cego não conseguiria enxergar o quanto vocês são perfeitos um para o outro.

Ao ouvir suas palavras, meu coração apertou dentro do peito. Não fazia sentido algum estar balançada daquela forma quando tudo que eu mais precisava era odiá-lo.

— É tarde demais, Bla. O que o Ed e eu tivemos foi algo... inexplicável. Mas acabou como tinha de ser e, no fundo, nós sempre soubemos que seria assim.

— Mas não precisa ser assim, minha amiga. — Ela virou para o lado e pegou minhas duas mãos, abrindo um sorriso compassivo. — As coisas não precisam ser a ferro e fogo apenas porque estamos na vida real. Devemos nos permitir viver momentos bons, sentir a felicidade e estar ao lado de quem amamos.

— Eu me permiti. E foi além do que eu normalmente me permitiria. Nós apenas nos ferimos de maneiras diferentes no começo de nossas trajetórias e, em vez de nos ajudarmos, acabamos abrindo novas feridas em cima das antigas. Não fomos feitos para ficar juntos.

Ela balançou a cabeça, em discordância, mas não disse nada, demonstrando respeito pelo meu ponto de vista.

— Eu pensei que vocês tivessem brigados por causa do que aconteceu entre ele e a Jessica na festa do "bumbum dourado". Não sabia que era algo tão profundo. Aliás, essa parte eu não entendi muito bem... Por que eles ficaram se vocês estavam juntos?

— Foi uma idiotice! Esse nosso desespero em ocultar as coisas, o fez tomar uma medida extrema e pedir para ela fingir ser a namorada dele por um dia para despistar o verdadeiro foco. Mas aquele beijo foi coisa dela. Não dá para acreditar em como o Ed é ingênuo! — De repente, me vi cerrando os punhos de raiva, pela atitude prepotente da Jessica.

— Se você sabe que não foi culpa dele, por que estão se evitando dessa forma?

— Sinceramente, eu não sei mais. — Relatei apenas uma parte. O real motivo era, no mínimo, bizarro, para explicar para Blake, para Ed ou para quem quer que fosse. — Foram tantas coisas, tantas idas e vindas que, para ser sincera, eu não sei qual foi o nosso maior problema.

— Ainda há tempo de descobrir. — Ela respondeu, cheia de esperanças em seu olhar azul. — Não o deixe fugir e cair nas mãos daquela cobra. Porque o que vocês estão fazendo é exatamente o que ela quer.

— Eu não sei o que fazer... — Baixei os olhos, tentando digerir toda aquela história e, principalmente, tudo que estava acontecendo entre nós que nos levava a estar naquela situação.

De repente, o barulho da porta me despertou de meus pensamentos e ergui a cabeça rapidamente.

Sorri aliviada por ver Chace, mas ele não sorriu de volta. Parecia estarrecido com algo que ele não relatou de imediato.

— Quem morreu? — Blake brincou e sorriu, franzindo a testa assim como eu.

Chace respirou fundo e tornou suas expressões ainda mais indecifráveis.

— Porra, nem brinca com isso! — Ele encostou no batente, falando com ar de seriedade em sua voz.

— O que foi, bro? — Me levantei e fui até ele — Você está nos assustando!

Chace suavizou um pouco o rosto e me olhou por alguns segundos. Estremeci por dentro, pois sabia que ele não ia tolerar a omissão de mais aquele segredo e talvez estivesse chateado pelo que fizemos.

— Você sabe do Ed?

— Não. — Estreitei os olhos — Não o vejo desde que ele saiu daqui. Por quê? O que houve com ele? Ele falou alguma coisa? — Disparei, começando a compartilhar de sua preocupação.

— Eu não sei, Leigh. — Ele falou calmamente e isso me tranquilizou. Em seguida, ele passou por mim e começou a caminhar pelo quarto — Eu vi quando ele saiu daqui. Achei que ele voltaria depois de andar por aí e fumar alguma coisa... Mas ele desapareceu!

— Como assim, desapareceu? — Blake disparou, levantando-se. Agora éramos os três compartilhando da mesma preocupação.

— Eu também não sei. — Chace balançou a cabeça — Ele não atende o celular, não responde as mensagens e também não está no apartamento. Na única vez que consegui falar, ele disse algumas coisas sem sentido, tais como "morte e vida são a mesma coisa". Eu não entendi nada, mas ele parecia transtornado. Agora só cai na caixa postal.

— Ele deve estar fazendo drama... — Dei de ombros e me movi para o outro lado do quarto, temerosa por ter minha hesitação captada por eles.

— Mas ele normalmente faz isso batendo a porta do quarto. E ele nem sequer voltou ao apartamento. — Chace explicou.

Senti o embrulho no estômago intensificar-se. Ele não podia estar fazendo isso de novo.

— Ele costuma ir a algum lugar? Um bar, uma boate, um pub? — Blake procurou saber.

— Bem, ele... — Chace começou a pensar. Então, uma lâmpada acendeu em minha mente e tudo clareou para mim.

— Queens! — Disparei, de repente, como se tudo começasse a se encaixar.

— O quê? — Os dois disseram ao mesmo tempo.

— Fiquem aqui, eu já sei onde ele pode estar! — Falei de uma vez, já pegando minha bolsa e minha jaqueta.

— Aonde você está indo a essa hora? Pode ser perigoso. E se ele foi para aquele bar de novo? — Blake me segurou quando alcancei a porta.

— Não se preocupe. Você disse que eu precisava me permitir, não é? Chegou a hora! — Ela sorriu, concordando — Eu ligo quando chegar! — Dei um beijo em sua bochecha e parti, passando por entre os convidados sem ao menos me permitir ser notada.

Chegando à portaria, o carismático senhor Douglas me cumprimentou pela data que já estava prestes a findar. Em seguida, ele notificou-me sobre uma entrega deixada lá há poucos minutos. Concordei em recebê-la de uma vez. Ele logo tratou de entregar-me um buquê de peônias amarelas e um bonito envelope marfim. Franzi o cenho para aquela entrega inusitada, tentando imaginar quem optaria justamente por dar-me aquele tipo de flores de cor tão específica e que, ironicamente, eram minhas favoritas.

Assim que agradeci, o porteiro correu para segurar o táxi que que parava ao lado da calçada naquele exato momento.

— Obrigada, senhor Douglas. — Ofereci-lhe meu sorriso mais simpático. Ele retribuiu tocando de leve seu quepe.

— Bayside, por favor! — Avisei ao motorista do táxi.

Por um instante, me esqueci das misteriosas flores largadas ao meu lado e do envelope que se assemelhava a um convite de casamento, deixando que minha mente me levasse até Ed. A imagem dele dizendo que a amava não saía da minha cabeça.

Eu me lembrava de esperar que isso acontecesse, mas não naquelas circunstâncias. Eu realmente precisava daquele tempo para colocar a cabeça no lugar e analisar todas as consequências de se levar adiante o nosso – cada vez mais sério – relacionamento.

E se de repente eu dissesse que sentia o mesmo? Será que faria diferença? Será que agora, que todos sabiam, as coisas poderiam ser mais fáceis?

Estava cada vez mais insuportável sustentar aquela guerra por tanto tempo. Eu não queria aquele sofrimento e agora que estava livre das ameaças sobre seu passado, acreditava que poderia tentar consertar as coisas com ele, mesmo após a série de farpas que trocamos.

Estava aflita, com a terrível sensação de não estar considerando algo mais sério, mas não ia retroceder.

Não estava certa quanto a reação de Ed. Ambos estávamos muito zangados um com o outro. Eu não deveria estar indo atrás dele, mas a lembrança da última vez que o encontrei em uma situação de risco no Queens me impulsionava a ultrapassar meu orgulho.

Não entendia como as coisas foram desandar assim. A situação estava pior do que antes e agora Ed estava sendo cruel comigo para lidar com o sentimento. Era até compreensível, mas eu desejava que as coisas fossem mais fáceis.

Tentei ligar para ele diversas vezes durante o trajeto e em todas as tentativas, a mesma resposta: caixa postal.

"Por que você não pode me amar também?" – A pergunta de Ed não parava de preencher meus pensamentos, me deixando devastada e completamente sem chão.

Eu simplesmente não podia dizer naquele momento e, se ele me amasse mesmo, teria compreendido isso.

Meu telefone me despertou com mais uma mensagem aleatória de "feliz aniversário". Feliz? Eu só desejava que esse dia tivesse logo um fim.

Olhei para o lado e o cintilante envelope chamou a minha atenção. Então, decidi saber de onde vinha o presente. 

Ao abrir uma caligrafia conhecida paralisou todo o meu corpo, antes mesmo de iniciar a leitura, e eu demorei alguns segundos para me recompor, quando li:

Olá, minha pequena. Sentiu a minha falta?

Tenho sentindo a sua como um louco. Para garantir que não houvesse nenhum tipo de extravio em sua entrega, decidi eu mesmo fazê-la, na esperança de encontrar você. Também deixei essas, elas eram as suas favoritas. Você está a cada dia mais bonita, uma mulher impressionante que nunca deixará de ser a minha doce menina. Tenho observado você de longe nos últimos dias e me contenho ao máximo para não te atrapalhar quando você está olhando, concentrada, para as câmeras, porque quero esperar o momento certo para dar continuidade a nossa história de amor. Quero aproveitar para parabenizá-la pelo sucesso. Quem diria que a minha influência na sua vida viria a ser tão positiva? Lamento que você não tenha podido ligar para agradecer, mas falemos disso uma outra hora. Por enquanto, isso é tudo, pequena Leigh. Nós vamos nos encontrar em breve, eu prometo. Espero que você tenha aproveitado seu tempo com seu amante, pois, em breve você voltará a ser apenas minha. Por enquanto, estou muito ocupado, procurando um bom apartamento na cidade. Você tem alguma recomendação? Soube que os apartamentos no Queens são bem aconchegantes. Especialmente em Bayside. Até muito breve.

Com amor,
Seu Phillip.

Levei uma mão à boca, sentindo-me imediatamente indefesa. Eu achei que iria vomitar. Conseguia visualizar seu sorriso traiçoeiro enquanto escrevia aquela carta que me provocou tanto pavor e desespero.

Minhas mãos tremiam e suavam. Desejava que aquilo fosse um pesadelo.  O inferno ainda existia e eu estava dentro dele. Não havia saída. O sofrimento não tinha fim.

Enfiei a carta na bolsa e a arremessei as flores pela janela do carro, ignorando o olhar repreensivo do motorista.

Esse era o real motivo de ainda haver reservas da minha parte em relação a Ed. Sentia medo do que Phillip podia fazer com ele se decidisse tomar providências quanto ao caso que ele mesmo considerava como uma "traição". Ele não mediria esforços para acabar com Ed se pudesse e era responsabilidade minha impedir que isso acontecesse.

Um arrepio percorreu meu corpo quando li sobre ele estar na cidade e sobre os apartamentos em Bayside. Ele estava mesmo por perto e mantinha olhos em nós dois, para não perder nenhum passo que dávamos. Como ele poderia fazer isso? É anormal para um ser-humano. Eu só me perguntava quando eu me livraria daquele pesadelo.

A carta de Phillip me transportou diretamente para o passado, causando uma dor enorme no meu peito ao me fazer lembrar do dia em que eu fui sentenciada e obrigada a me fechar para o amor e a construir os muros em meu coração.

🎬🎬🎬

2006
Los Angeles, CA

[Flashback]

O ano era 2006 e as coisas iam de mal a pior. Depois de um processo doloroso de superação, por diversos motivos profissionais e sentimentais, decidi que era hora de reerguer-me e, entre altos e baixos, eu ia seguir em frente.

Apenas não sabia como e por onde começaria. Minha carreira estava oscilando e eu não sentia-me entusiasmada para esforçar-me por algo que poderia escapar das minhas mãos quando eu menos esperasse.

A Juilliard em Nova York não era mais uma opção após aquele maldito advento escolar e, mesmo quando eu decidi seguir em frente e consegui meu primeiro papel principal em uma série, as coisas deram errado.

Eu sentia que precisava me reerguer e tentar novamente, mas necessitava de uma motivação para iniciar uma nova vida.

Como se não bastasse todo a bagunça em meu presente, o meu passado era um fantasma, que voltava para me assombrar sempre que as coisas começavam a funcionar para mim. Ou, pelo menos, quando eu me esforçava para fazer as coisas acontecerem. Um fantasma que tinha nome, influência e sempre sabia onde me encontrar.

— Phillip, o que você quer? Que parte do "acabou" você não entendeu?

Eu andava apressada pela rua, segurando a alça da bolsa com uma mão e alguns livros na outra. Havia desenvolvido gosto pela leitura desde que comecei a sentir a imensa necessidade de escapar do mundo real de vez em quando.

Phillip me seguia, após estacionar o carro de qualquer jeito há poucos metros dali, insistindo que precisávamos conversar.

Era sempre assim. Ele não compreendia o fim da nossa relação e sempre me convencia de que ele havia se tornado uma pessoa melhor durante o tempo que ficamos separados. Eu sempre acreditava, porque eu sentia que precisava disso. Era como se nunca tivéssemos um desfecho real e, no meio dessas idas e vindas, eu sempre me machucava um pouco mais.

— Leighton, me escuta. Eu amo você. Eu estou tomando meus remédios e estou controlado agora!

Parei de andar e fiquei imóvel, apenas sentindo sua presença atrás de mim. Sempre que aquele assunto vinha à tona, eu ficava paralisada.

Phillip havia sido um bom companheiro por muito tempo. Nós tínhamos amizade e nos sentíamos à vontade juntos. Ele era tudo que eu tinha quando o mundo me dava as costas e ele sempre esteve lá para me apoiar. Até o momento em que o seu comportamento agressivo e atitudes impulsivas me obrigaram a me afastar dele.

Eu sentia medo. Estava sempre vulnerável. Ele tinha uma maneira possessiva de falar e lidar comigo que me deixava atormentada.

Eu sempre me deixava ser levada por seus discursos persuasivos, até que coisas terríveis aconteceram. Foi o balde de água fria que eu precisava para decidir me afastar de uma vez por todas. Eu sabia que o que tínhamos estava se tornando uma doença, e logo descobri que de fato era.

Todo aquele comportamento agressivo era atribuído algo bem mais grave e definitivo: Phillip havia sido diagnosticado com esquizofrenia depois do surto de ocasionou feridas profundas em mim dois anos antes.

Eu o odiei e o amaldiçoei por não respeitar a minha decisão de esperar o momento certo para ter a minha primeira relação sexual com alguém. Eu nunca me sentia segura o suficiente e sabia que quando o momento certo chegasse, eu iria saber. Ia ser natural, livre e inesquecível. Esse não era o tipo de coisa que uma menina ou mulher seja coagida a fazer. Mas Phillip insistia em fazer isso, acusando-me de destruir nossa relação por uma "bobeira". Suas atitudes me faziam sentir-me insegura ao lado dele.

Eu demorei a aceitar que estava há quase quatro anos em um relacionamento abusivo. Acreditava que tudo que eu fazia por ele era por amor, quando, na verdade, eu estava deixando de amar a mim mesma. Principalmente, quando eu aceitava continuar ao lado dele mesmo quando ele me agredia com palavras e atos. 

"Ele me feriu e pareceu um beijo, com a sua ultraviolência. Eu poderia ter morrido ali mesmo, porque ele estava bem ao meu lado. Jim me levantou. Ele me machucou mas pareceu amor verdadeiro. Jim me ensinou que amá-lo nunca era suficiente. Abençoada seja essa união, chorando lágrimas de ouro, como limonada."
(Lana Del Rey, Ultraviolence)

Quando ele me procurou e explicou que havia sofrido um surto psicótico e que havia sido diagnosticado com uma doença tão grave que, de certa forma, justificava esse e todos os outros desvios. Senti-me muito desolada, dividida entre a rancor e dúvida: devia perdoá-lo diante da nova situação que nos acometia?

Lembrava das diversas vezes que o chamei de doente e louco, e me senti culpada por isso por muito tempo. Ele tinha algo que era extremamente sério e necessitava de tratamento intensivo, uso de medicamentos pesados.

Decidi que deveríamos nos afastar de uma vez para que ele pudesse se tratar. Phillip não quis aceitar e ele era obstinado. Ele também se negava a se submeter ao tratamento, pois não conseguia aceitar o fato de ser "doente", como ele mesmo dizia. 

Certo dia, ele desapareceu. Fiquei aliviada. Meses depois, descobri que ele havia deixado o país para se tratar na Europa, pois seus pais estavam temerosos pela repercussão negativa da informação. Certamente, estavam mais preocupados com a imagem do que com a real situação do filho.

Desde de sua volta, Phillip havia me procurado como um louco, decido a me encontrar e conversar. Quando, finalmente, me encontrou, contou toda a experiência que viveu fora, jurando que havia mudado e que estava pronto para recomeçar.

Mas eu não estava disposta a passar por isso. Eu não confiava mais nele. Suas crises eram muito severas e, na maioria das vezes, o faziam perder completamente o controle sobre suas atitudes.

Eu era muito nova, inexperiente e imatura para lidar com isso. E eu estava completamente sozinha.

Ele, por outro lado, se recusava a compreender que tínhamos uma relação não era saudável para nenhum dos dois. E, mesmo com a doença diagnosticada, depois do que ele fez, eu jamais o olharia com os mesmos olhos, pois eu tinha o medo estampado nos meus.

— Como vai o tratamento? — Falei, calmamente, virando-me devagar. Não queria agitá-lo ainda mais.

— Foi ótimo. Eu sou um novo homem! — Ele sorriu, orgulhoso de si mesmo.

Foi? — Enfatizei o uso do tempo verbal — Você não está mais se tratando? Eu não acredito, Phillip!

— Eu falei para o meu pai que eu não preciso mais. Estou completamente estável.

Nós dois sabíamos o quanto aquela doença poderia ser agressiva e, independentemente dos progressos no tratamento, não havia cura para isso. Ele não poderia simplesmente dormir e acordar um novo homem. Cuidar-se diariamente era uma obrigação.

Mais do que tempo, algo dessa gravidade requeria dedicação e muito amor próprio.

— Leighton, eu sei que você pode me ajudar. Eu te amo e preciso de você.

— Eu não posso fazer isso, Phill. Você sabe que eu não posso! Você me... — Me recusei a continuar. A dor ainda existia. Eu mal conseguia pronunciar as palavras.

— Perdão. Eu já te pedi um milhão de desculpas. O que você quer que eu faça agora? — Seu tom de voz elevou-se.

Ele se recusava a entender que não era uma palavra que mudaria tudo. O que ele fez não tem perdão. Eu confiava nele, coloquei minha vida em suas mãos. Não era justo.

— Eu quero que você desapareça, Phillip! Me deixa em paz. Eu quero seguir em frente. Eu preciso disso!

— Eu não vejo por que ir. Você me ama também. Fomos feitos um para o outro, você não vê?

A forma como ele via as coisas me enojava. Como ele poderia pensar que eu ainda amaria alguém que destruiu minha moral em todos os sentidos e acabou com o meu futuro?

— Eu estou com outra pessoa! — Declarei firme, disposta a fazê-lo acreditar no que eu dizia. — Estamos felizes juntos e vamos nos mudar para Nova York. — Menti descaradamente. Não existia ninguém na minha vida. Ele preenchia todos os espaços, da pior maneira possível. Entretanto, mudar-me para o outro lado do país era tudo que eu mais desejava naquele momento. Eu tinha esse plano em mente desde quando soube que ele voltou da Europa, mas eu não tinha condição alguma para isso.

— Não! — Ele gritou, fazendo alguns olhos se voltarem para nós — Eu não aceito isso! Você é minha, tá me ouvindo? Minha! — Ele berrava sem se importar com as pessoas de bem que passavam por nós.

Ignorei seu descontrole e voltei a andar, como se aquele assunto não fosse da minha conta.

— Leighton! — Ele me puxou pelo braço com força, fazendo meus livros caírem no chão. Peguei-os rapidamente e guardei na bolsa. Ele segurou o com força o pulso, que ainda carregava a marca da ultraviolência e que, agora, era disfarçada com uma flor, que representava pureza arrancada de um jeito tão cruel e desumano.

Virei em sua direção, começando a realmente ficar nervosa. Por sorte, estávamos em uma das ruas mais agitadas do centro e ele não arriscaria me fazer mal enquanto estivéssemos em público.

— Você está me ouvindo? — Ele insistiu.

— Me deixa em paz! Eu não sou sua. Eu não sou sua! — Gritei, desesperada, tentando me desvencilhar.

Dominado pela raiva e com os olhos carregados de ódio, ele segurou ainda mais firme o meu braço e me arrastou para uma viela vazia, garantindo-se de que ninguém nos veria ali.

Eu pedia, em silêncio, a Deus que me livrasse de outro surto.

De novo, não. De novo, não.

— Phillip, por favor! — Pedi com a voz rouca de tanto suprimir o medo.

— Cala a boca! — Ele esbravejou — Acho que aqui podemos conversar melhor. Quero te ajudar a lembrar que você já tem alguém e esse alguém sou eu, Leighton. — Ele prendeu-me contra a parede. Eu tentei resistir, mas meu esforço era em vão.

— Não, me solta! — Minha voz estava embargada, meus olhos tremiam e minha cabeça girava.

— Só quando você admitir que é minha e que você não vai para porra nenhuma de Nova York! — Ele estava completamente for a de si e eu, em pânico. — Fala! — Ele gritou.

Fechei os olhos, sem forças para lutar, e comecei a chorar.

— Me deixe ir. Por favor, Phillip. Não faz isso comigo! — Implorei em meio a soluços de desespero.

— Você quer ir? — Ele grudou ainda mais o corpo contra o meu e beijou o canto da minha boca. Fiz que sim com a cabeça e ele sorriu diabolicamente. — Só quando você disser... Você é minha?

Não respondi. Não faria mais nada que ele quisesse, já estava mais do que na hora de pensar em mim e ser valente. Além disso, nada que eu dissesse o convenceria do contrário. Ele não estava certo de suas faculdades mentais. Eu não sabia o que fazer.

Ele começou a deslizar as mãos por dentro da minha saia e eu me retraí, tentando me esquivar de suas investidas. Tentei gritar, mas ele abafou meu grito, pressionando sua boca à minha. Não era a primeira vez que isso acontecia. Eu confiava nele e ele sempre fazia questão de me machucar. Em todos os sentidos.

— Por favor... — Supliquei. Minha garganta apertava cada vez mais, como se ele mantivesse as mãos sobre ela.

Ele não parava.

De repente, no meio daquela confusão, uma ideia me ocorreu. Só podia ter sido intervenção divina. Relaxei os braços e parei de lutar, tateando o bolso da saia e encontrei a pequena navalha, que comecei a carregar comigo desde que comecei a me sentir ameaçada por ele.

Puxei o objeto, com cuidado para que ele não percebesse e, sem pensar duas vezes, deslizei-o pelo seu rosto.

Ele parou, me encarando com o olhar duro. Comecei a me afastar devagar, enquanto ele tentava estancar o sangramento intenso em sua bochecha.

— Sua filha da puta! O que você fez?!

— Você mereceu isso! — Rebati sem pensar no quanto isso agravaria as coisas.

— Eu vou acabar com você! — Ele andou em minha direção, mas não conseguiu dar longos passos.

Eu estava em estado de pânico, mas minhas pernas não me obedeciam, estavam fracas e trêmulas para fugir. Eu forçava o máximo que podia sem me virar de costas para ele. Tinha medo de ser pega de surpresa.

Ele chegou mais perto, cem vezes mais transtornado e eu apontei a navalha suja de sangue para ele, fazendo-o recuar um pouco.

— Se você chegar mais perto, eu te mato! — Ameacei-o, sem compreender de onde vinha aquela coragem repentina. Sabia que ele não ficaria longe por muito tempo, mas eu ganharia algum tempo para me recuperar.

Ele parou e me encarou com os olhos vermelhos, antes de declarar o veredito que mudou a minha história:

— Eu juro que eu vou destruir todo homem que você amar e que amar você. Seja ele quem for, eu vou descobrir e vou persegui-lo. Você não vai ser de mais ninguém. Você é minha, entendeu? — Ele vociferou, cobrindo a bochecha ensanguentada.

Sem pensar mais, consegui me virar e correr de volta à civilização. Sabia que ele não tentaria nada se eu estivesse perto de outras pessoas. Então, eu continuei, o mais rápido que pude, sem olhar para trás.

Não me lembro por quanto tempo durou meu trajeto, mas eu precisava fugir para o local mais longe possível dele ou me cercar de testemunhas em potencial, para garantir que ele não se aproximasse mais. Eu não aguentava mais viver assim.

Parei em frente ao Lullaby, café onde eu costumava ir para ler e me distrair sozinha. Estava cansada demais para continuar e a prostração me levou a entrar.

Havia muitos conhecidos e me senti aliviada por um instante, mesmo sabendo que não podia contar aquilo para ninguém. Fui até o banheiro, lavei o rosto e as mãos, tentando não permitir que as palavras dele tivessem efeito sobre mim.

Ele estava agindo por impulso. Não seria capaz de acabar com a vida de uma pessoa só por estar apaixonado por mim. Ou seria? Ai, meu Deus!

O desespero voltou a me dominar. Graças a Phillip eu nunca mais seria feliz.

Tudo que eu queria era minha vida de volta.

Sentindo-me momentaneamente recomposta, segui para fora e avistei a minha mesa favorita. Por um momento, ponderei sobre sentar-me perto da janela, mas logo afastei os pensamentos. Não podia deixar minha vida parar por ele. Não podia viver com medo. Ele não iria me escravizar! – Declarei com firmeza em pensamento.

Pedi apenas uma água e puxei um dos livros da bolsa. Estava um pouco sujo de terra, mas não me importei. Precisava me desligar, precisava manter a calma.

Minutos depois, recebi a inesperada visita da senhora James. Era tudo que eu precisava. Ela reavivou as esperanças que eu tinha em mim ao sugerir que me inscrevesse para as audições de Gossip Girl. Ela havia me dito que a remuneração era boa e que havia uma certa especulação obre a grandiosidade do projeto. Além disso, se selecionada, me mudaria para Nova York. O lugar, que segundo ela, era onde eu deveria estar se queria ter uma carreira de prestígio. E, de fato, era tudo que eu mais queria.

Ela se foi e, então, decidi ir também. Reuni minhas coisas e me levantei. Apressada, me choquei contra um desconhecido. Primeiro, me assustei e, depois, me irritei por ele ter derrubado tudo no chão novamente.

Abaixei-me para pegar e minha mente me levou para momentos antes. A apreensão tomou conta do meu corpo e, logo, o medo deu lugar à raiva, me fazendo dizer coisas rudes, como uma espécie de desabafo para alguém que eu sabia que não tinha culpa.

— Vocês, homens, são um bando de idiotas. Não enxergam nem um palmo a sua frente. 

— Desculpe. — Foi tudo o que o atrapalhado rapaz conseguiu dizer, mas não me interessei em escutar, menos ainda em encará-lo para dizer "está tudo bem". Não estava nada bem! Apenas recolhi minhas coisas e corri para casa. Havia tido demais para apenas um dia e não queria mais importunações. Não hoje.

Nem nunca mais.

Continua...

🎬🎬🎬


Olá novamente!

Passando aqui para explicar que estamos em capítulos sequenciais antes de entrarmos na segunda fase da história. Grandes mudanças estão por vir. (Eu juro juradinho que não vai ter tanto drama na próxima season e vocês vão se divertir um pouco depois de tanta dor e sofrimento). Preparadas?

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