SPOTTED: Behind the Gossip (...

By naymeestwick

71.4K 4.9K 18.2K

Uma fanfic sobre a vida real nos bastidores de Gossip Girl. Ed Westwick e Leighton Meester de um jeito que vo... More

Before the reading
Prólogo - Welcome to New York
Capítulo 1 - With me
Capítulo 2 - Girls just wanna have fun!
Capítulo 3 - Bad News, Meester
Capítulo 4 - Lose all control (Parte 1)
Capítulo 5 - Our first time
Capítulo 6- Lose all control (parte 2)
Capítulo 7 - Entitled mine
Capítulo 8 - Elastic heart
Capítulo 9- NYC - Gone, gone
Capítulo 10 - 4 in the morning (versão estendida)
Capítulo 11 - Two is better than one
Capítulo 12 - The words
Capítulo 13 - I can't say THE WORDS because my HEART IS OF STONE
Capítulo 14- Crazy! (Versão estendida)
Capítulo 15- Leighton Meester must fight!
Capítulo 16 - City lights
Capítulo 17- Dangerous woman
Capítulo 18 - All night
Capítulo 19 - Fire meet gasoline*
Capítulo 20 - Trading Time (parte 1)
Capítulo 21 - Trading time (parte 2)
Capítulo 22 - Run away
Capítulo 23- Help!
Capítulo 24- Dark Night
Capítulo 25- Unwritten
Capítulo 26- The Meester Hit Project
Capítulo 27- Photograph (versão estendida)
Capítulo 28 - Only thing I ever get for Christmas*
Capítulo 29- Remember the daze
Capítulo 30 - Shut up and drive*
Capítulo 31 - Prom Queen
Capítulo 32- We are stars
Capítulo 33 - Empire State of Mind
Capítulo 34 - Sweet
Capítulo 35 - She will be loved
Capítulo 36 - Hurricane
Capítulo 37 - Hurts like heaven
Capítulo 38 - Hurts good
Capítulo 39 - Hurts so good!
Capítulo 40 - Your love is a drug*
Capítulo 41 - Pillowtalk
Capítulo 42 - New York's best kept secret
Capítulo 43- I knew you were trouble
Capítulo 44- Do I wanna know?
Capítulo 46 - Happy (blackest) day!
Capítulo 47 - I see you (versão estendida)
Capítulo 48 - Someone New
Capítulo 49 - Dive
Capítulo 50 - The ice is getting thinner
Capítulo 51 - Gravity
Capítulo 52 - Good girls go bad
Capítulo 53 - Lost in reality
Capítulo 54 - Lust for life *
nota de esclarecimento
Capítulo 55 - Stay or leave
Capítulo 56 - No new tale to tell
Capítulo 57 - Send my love to your new lover
Capítulo 58 - New York, I love you but you're bringing me down
Capítulo 59 - Burn the pages
Capítulo 60 - Beautiful people, beautiful problems
Capítulo 61 - Back to you
Capítulo 62 - Broken arrow (versão estendida)
Capítulo 63 - Blue afternoon
Capítulo 64 - Die for you
Capítulo 65 - Radar
Capítulo 66 - Flesh without blood
Capítulo 67 - Rose-colored boy

Capítulo 45- Serendipity

479 42 132
By naymeestwick

"A vida não é apenas um amontoado de coincidências. É uma coleção de acontecimentos que culmina num plano sublime e belo."

(Serendipity: Escrito nas Estrelas)

n/a iniciais:

1. Acima temos a belíssima imagem da cidade de NY vista do alto do Empire State (caso vocês queiram saber como é quando for mencionada ao longo do capítulo)

2. Versão especial estendida em virtude das comemorações do aniversário da Leighton.

3. Não deixe de ler o capítulo 46 que vem logo abaixo.

4. Votem e comentem.

Obrigada :))

🎬🎬🎬

Parte I - Love Song (Sara Bareilles)

— Corta! Beleza, pessoal. Vamos voltar para o início, mas agora é pra valer! — O diretor sinalizou, balançando o script encadernado quando finalizamos a última parte do ensaio geral.

Toda a equipe se moveu e a correria de sempre se iniciou. Maquiadores, operadores de câmera, assistentes de produção e direção, responsáveis pelo figurino em cena, estagiários, assessores, time de montagem, diretores e produtores iam e vinham, para garantir que nada estivesse fora do lugar para o momento do "ação".

Apenas Ed e eu permanecíamos deitados ao lado um do outro sem trocar mais palavras do que o necessário para dois colegas de trabalho. O início da primeira tomada era a razão de estarmos assim, mas não havia script que pudesse desfazer o vale de distanciamento que deixei que se instalasse entre nós.

Aquele era o primeiro dia de gravação do nosso último episódio naquela temporada, estávamos a um dia da assinatura definitiva do contrato oficial e, além disso, era o dia do meu aniversário de 22 anos. Não que fosse algo relevante, mas as pessoas ao meu redor faziam questão de me fazer recordar a cada dois minutos.

A última vez que trocamos algumas palavras foi no café da manhã, quando fui surpreendida com um bolo surpresa, proporcionado pela equipe da série, e que ele fez questão de carregar e esperar pacientemente até que todas as vinte e duas pequenas velas em tom verde fluorescente fossem apagadas.

Faça um pedido.

A rouquidão em sua voz causava em mim um efeito de ordenança a ser acatada rapidamente. Não consegui pensar em nada, além do que já estava a minha frente.

— Mais sinceridade. — Recitei em voz alta sem me importar com possíveis especulações. Após uma semana, certos comentários não me afetavam mais. Apenas aguardava ansiosamente para o fim dos boatos que colocavam o meu nome ao lado do de Ed e Jessica para completar as linhas das fofocas.

Ed se sobressaltou, sabendo que era a ele que me referia e eu esperava de todo o coração que ele tivesse recebido minha resposta como uma farpa bastante afiada.

Embora tentasse não agir como uma adolescente que morre de raiva e sai falando mal do ex para todas as amigas, ainda existiam alguns resquícios da horrível sensação que causamos um ao outro na semana anterior. Ele estava se esforçando bastante para tentar uma reaproximação desde quando ele me deu o melhor presente que eu poderia ganhar: Jack, o cãozinho que, em poucas horas, passou a ser todo o meu mundo. Tudo graças a Ed, o cara que eu precisava odiar. Mas não conseguia.

Seja firme.

Sentindo-me um pouco cansada de ficar deitada na mesma posição por muitos minutos, virei-me na direção dele e acompanhei com os olhos o modo como ele se concentrava em suas linhas e repetia fonemas como um menino em processo de aquisição de uma nova língua.

— Geo-gina. Georrrgina. Geor... rrrr. — Ele bufou. — Ar. Arrrr. — Ele forçava sons de "r" arrastados que iam além da sua zona de conforto e o deixavam tenso e um tanto angustiado. Sorri baixo com o quanto suas tentativas o faziam soar como um cara de Wisconsin perdido na cidade grande.

— Você precisa colocar a língua na parte mole do palato. — Falei com calma e ele virou o rosto devagar, estreitando os olhos como se minha voz surtisse efeito de uma quimera.

Ele continuou a me fitar, parecendo não entender. Virei um pouco mais, com cuidado para não amassar o vestido ou tirar o cabelo da posição.

— Quando você quiser soar natural em palavras com "r", é só você colocar a língua na parte lisa do céu da boca. — Estendi uma mão — Posso? — Ele concordou apenas movendo a cabeça — Me dê seu deu indicador. — Ordenei e, quando ele o fez, toquei sua mão e a levei até sua própria boca, indicando para que ele a abrisse — Sente isso? — Sorri para sua expressão confusa enquanto o induzia a tocar o interior da boca com um dedo. — Esse é o seu palato mole, é aqui que a ponta da língua deve tocar. Se você fizer isso, não tem erro. — Recolhi a mão rapidamente ao perceber poderíamos ser mal interpretados.

Ele fechou os olhos por alguns segundos, parecendo concentrar-se em algo ou ainda estar degustando da sensação causada pelo contato físico entre nós. Era compreensível. Me sentia da mesma forma. Era como se um vazio gigantesco fosse preenchido em milésimos de segundo. E isso não me deixava tão feliz quanto deveria ser. Um sentimento que machuca não pode ser tomado como algo bom.

Georgina Sparks. Blair. Blair Waldorf. New York. Edward. Upper East Side. — Ele disparou de uma vez, mantendo os olhos fechados, fazendo uso de uma pronúncia perfeitamente aceitável para um nova-iorquino nato.

Uma ponta de orgulho saltou dentro de mim e ele abriu os olhos com um sorriso jovial. Fui tomada por uma luminescência que cintilou no fundo da minha alma. Essa dependência era absurda.

— Meu trabalho está feito. De nada! — Falei convencida.

— Quando você se tornou fonoaudióloga? — Ele questionou com ar zombeteiro.

— Fazia consultas semanais na época do colégio. O doutor Zeke era um ótimo ouvinte.

— E, pelo visto, você devia ser uma ótima expectadora!

— É uma área de estudo que me fascina. — Dei de ombros.

Ed ficou calado por algum tempo, a me encarar, piscando muito mais do que o esperado para um minuto. Parecia ansioso.

— O que foi? — Perguntei, franzindo cenho.

— Estou otimista por hoje à noite. — Ele rompeu o silêncio com uma declaração que me desarmou. — Será uma noite inesquecível.

— Não tenha dúvida, Ed. — Retruquei — Eu espero mesmo que seja em um bom sentido. Não quero terminar esse dia com o rosto enterrado em meu travesseiro, chorando mais uma vez.

Ele respirou fundo e estendeu uma mão para me tocar, pigarreei, sinalizando para que ele não fizesse. Aquela conversa não podia parecer o que na verdade era.

— Você tem chorado? — Ele perguntou, colocando uma das mãos no bolso, para conter o constante impulso de me tocar.

Dissolvi sua pergunta devagar sem ideia alguma do que responder. Não queria dar a ele esse gosto, mas já estava acostumada demais em transmitir a verdade para ele, não havia porquê mentir agora.

— Nos primeiros três dias, sim. — Ele baixou os olhos — Mas foi por mim, pela estupidez de não dar ouvido aos conselhos da minha própria razão.

— Leigh... — Ele suspirou.

— Chega desse assunto! — Declarei com uma expressão dura e me virei a fim de visualizar algum assistente e sinalizar que estávamos prontos.

Ed afundou a cabeça no colchão, dando o seu melhor para não deixar escapar todos os palavrões que lhe passaram pela mente.

Sejamos firmes, meu querido Edward.

🎬🎬🎬

Após um dia inteiro dentro do estúdio, era chegado o tão esperado momento do tal encontro com Ed. Não podia negar que estive ansiosa por isso durante todo o dia.

Com a intenção de passar em casa para tomar uma boa ducha antes de sairmos, enviei uma mensagem a ele, avisando que poderíamos encontrar na esquina da Rua 3 com a 14, em frente ao Union Square Park, já que a nossa primeira parada seria no abrigo de animais a qual foi destinado parte do dinheiro arrecadado com a venda de ingressos do evento que eu participaria naquela noite.

Ai meu Deus, o evento!

Estava concentrando tanta pressão dentro de mim em relação a sair com Ed que mal pude me preparar para cantar em público depois de tantos anos. Ao menos, havia conseguido escolher a música com antecedência, depois de me apaixonar pelo que ouvi no último show da Sara Bareilles: Love Song.

A fim de não esquecer nenhuma nota ou parte da letra no meio da apresentação, liguei o som do quarto ao sair do banho e deixei os primeiros acordes invadirem meus ouvidos com os olhos fechados, antes de começar a secar os cabelos.

"Head under water
And they tell me to
breathe easy for a while
The breathing gets harder,
even I know that"

Por diversas vezes naquele dia pensei em cancelar meu compromisso com Ed, pois sentia que aquela seria uma má ideia e que eu me arrependeria por ser tão teimosa. Mas, todas as vezes que nos encontrávamos, ele deixava escapar um sorriso sincero, carregado de otimismo, que me destruía por dentro.

"You made room for me,
but it's too soon to see
If I'm happy in your hands
I'm unusually hard to hold on to"

Então, eu me esforcei para colocar o meu melhor sorriso no rosto e manter o combinado de pé. Não conseguiríamos nos evitar, de qualquer forma. Não enquanto ainda estivéssemos trabalhando juntos. Por sorte, eu teria um mês inteiro longe, quando a temporada acabasse, que eu usaria para acabar com todo o resquício de sentimento que ainda pudesse nutrir por ele. Estava ansiosa por isso.

"Blank stares at blank pages
No easy way to say this
You mean well, but you
make this hard on me"

Sequei os cabelos e deixei os fios soltos e escorridos. Sorri para o resultado, eles estavam sedosos, macios e maiores do que que eu me recordava.

Finalizei a preparação com uma maquiagem leve. Não havia escolhido nada especial para aquela noite, apenas uma calça jeans de lavagem escura, uma t-shirt branca com listras pretas e sapatilhas vermelhas.

Já estava prestes a anoitecer e a agitação dentro de mim começava a se intensificar.

Peguei uma bolsa pequena e coloquei de lado, jogando o celular dentro após avisar a Ed que estava saindo. Apressei-me em ir até a porta e senti algo se aproximar, lambendo os meus pés. Olhei para baixo e encontrei enormes olhos escuros que faziam parte da minha vida há tão pouco tempo e já me faziam sentir como se sempre estivessem lá.

— Olá, pequeno Jack. A mamãe precisa sair agora, mas eu volto logo, tá? — Abaixei-me para afagar o canto da orelhinha dele e ele chorou baixinho, parecendo ter ciência de tudo que ouvira. — É, eu sei. Seu papai é um grande idiota, mas espero que ele dê uma dentro pelo menos uma vez. — Ele moveu a cabecinha para o lado, em um protesto silencioso, e eu abri um enorme sorriso. — Tudo bem, mais uma bola dentro. Ele acertou na mosca com você.

Afaguei-o uma última vez e me levantei, pegando a jaqueta de couro preta e respirando fundo antes de ir.

Ainda estava um tanto impactada pela tamanha coincidência que fez Ed acertar em cheio com Jack. Adotar um filhote era exatamente o que eu pretendia fazer nos próximos dias.

Abri a porta e dei um salto para trás ao ver Ed parado à minha frente com uma mão apoiada no batente. Escaneei-o de cima a baixo, fazendo o melhor que pude para afastar a vontade imediata de sorrir.

Com um casaco de moletom azul e a cabeça coberta pelo capuz, por pouco, não o reconheci. Mas, ainda que meus olhos estivessem vendados, eu saberia a quem pertencia aquela fragrância amadeirada.

Ele deu um passo em minha direção com um sorriso natural, me segurou pelos ombros e me deu um beijo contido nos lábios.

— Ed! — Protestei em um murmúrio baixo, afetada pela sensação de ter seus lábios juntos aos meus novamente. Isso não deveria acontecer.

— Isso foi um beijo de amigo, como um desejo de feliz aniversário. — Ele falou calmamente, erguendo as mãos em defesa. — Oi, garotão! — Ele me soltou e foi ao encontro de Jack que abanava o rabo afoitamente. Pequeno traidor!

— Você não me engana, Ed! — Ele fez um biquinho e eu dei uma risada baixa. — Por que você veio até aqui? Não combinamos de nos encontrarmos às 7, longe daqui?! — Ergui as duas sobrancelhas.

— Mudança de planos! — Respondeu calmamente e passou por mim, voltando à porta. Jack se afastou com a cabeça e as orelhas baixas.

Franzi a testa e cruzei os braços, analisando a possível proposta que viria a seguir.

— O que você ainda está fazendo parada aí? Vamos nos atrasar! — Ele reforçou, me puxando pelo braço.

Respirei fundo e passei pela porta, esperando que ele me dissesse algo enquanto esperávamos o elevador, mas ele não deu um pio. Gostava de provocar os meus limites.

🎬🎬🎬

Toda e qualquer expectativa que eu pudesse ter criado durante o percurso se dissipou quando desembarcamos, cinco minutos depois, ao pé do Empire State Building: o maior edifício da Cidade de Nova York, que, também, possuía um dos mais importantes observatórios da cidade. Perdia para o Top of the Rock, mas ainda era o mais memorável. Era um símbolo nacional e pessoal. Reavivava em mim muitas memórias da infância.

Fiquei paralisada por um tempo, minha respiração começou a falhar. Observei a movimentação de entrada e saída do prédio sem entender o motivo que fizera Ed me levar para uma das atrações turísticas mais visitadas da cidade. E, com visitada, eu quero dizer lotada e com muitas filas.

— Não fica parada aí. Vem! — Ele me puxou pelo braço e acompanhei seus passos rápidos quase tendo de correr para alcançá-lo.

Um grupo de estudantes passou por nós, com olhos fixos, prestes a criarem um pequeno burburinho. Percebendo o momento, Ed puxou um pouco mais o capuz e segurou firme a minha mão, andando o mais rápido que podia e me levando consigo pelo hall do edifício.

Estava um pouco ofegante quando paramos em um lugar muito apertado e um tanto escuro, ao lado das escadas de emergência. Ambos tínhamos as respirações pesadas, que se tornavam mais expressivas pelos poucos centímetros de distância que havia entre nós.

— O que está acontecendo, Ed?

— Você confia em mim? — Ele deslizou as mãos pelos meus braços e prendeu meus dedos trêmulos.

— Eu não sei. — Fechei os olhos. — Só quero entender o que está acontecendo...

Ele abriu um sorriso compassivo e olhou para os lados.

— Eu disse que hoje seria um dia especial...

— Mais de cem vezes. — Completei.

— Eu sei. Mas não vai ser do jeito que você imaginou, precisei fazer algumas mudanças de emergência devido à nossa atual condição.

— Fala de uma vez, Ed. Estou ficando agoniada!

— Quero te levar para dentro do seu filme favorito.

Serendipity? Não é bem assim que começa...

— Espera, Leigh. Vou explicar... Esse é o nosso... — Pigarreou — Quer dizer, o seu Serendipity. Tomei a liberdade de fazer algumas alterações no roteiro, mas prometo que a essência continua a mesma.

Não contive o sorriso tímido que tomou meus lábios ao ouvir o nome do meu filme favorito ser pronunciado por ele de maneira tão única. Mas logo voltei a ficar séria, pois odiava me sentir curiosa.

— E como você pretende fazer isso?

— Só preciso que você me acompanhe e confie em mim. Você consegue fazer isso?

— Acho que posso.

— Ótimo. Mas, antes, toma isso. — Ele retirou um boné preto e um par de óculos Ray Ban do interior do casaco e me entregou. Fiquei olhando sem entender. — Não vai querer ser reconhecida, não é? — Ele explicou, respondeu à pergunta que não cheguei a fazer, e sorriu.

— Bem pensado, Westwick. Quase me esqueci do quanto você é inteligente.

— Você tem se esquecido de tanta coisa ultimamente...

— Anda logo! — Dei um tapa de leve em sua mão.

— Está bem. Precisamos nos apressar. Temos apenas 20 minutos!

— Pra quê?

Até onde sabia, as atividades encerravam durante a madrugada.

— Você vai ver!

🎬🎬🎬

Entramos em um elevador praticamente lotado e eu agradeci internamente por estar dividindo o espaço com mais umas quinze pessoas além de Ed e eu.

— Não se preocupe. Eles só vão com a gente até o 86º andar. — Ed cochichou, como se pudesse ler meus pensamentos, passando uma mão pela minha cintura e me posicionando a sua frente, de modo que pudéssemos fazer a longa viagem com nossos corpos grudados o suficiente para me causar vertigens.

— São muitos andares... — Constatei — E o que faremos até lá?

— Lembra do dia que nos vimos pela primeira vez no estúdio?

— Claro, como poderia esquecer?

— Assim como no filme, o nosso tema de hoje é destino. Vamos falar sobre isso.

Abri um sorriso surpreso e me esforcei um pouco para olhar para ele. Ele me abraçou um pouco mais forte e se inclinou um pouco até aproximar-se da minha orelha. Fechei os olhos para conter o arrepio.

Como quem conta um segredo de estado, Ed começou a narrar com um sussurro a história que eu bem conhecia. Meus pensamentos voaram para quase um ano atrás...

***

[Flashback]

> LEIGHTON <

11 meses atrás...

Era nosso primeiro dia de gravação e se eu dissesse que estava uma pilha de nervos, ainda estaria sendo muito sucinta.

Havíamos passado por um longo processo de preparação e ambientação e eu já estava um pouco familiarizada com todos os meus colegas, o que era bom. A pior coisa em um novo projeto é quando te jogam para trabalhar com um monte de desconhecidos.

Eu conhecia minhas falas, sabia o que ia vestir, como me portar e o que esperar dos meus colegas. Havíamos ensaiado bastante para iniciar as gravações do que costumávamos chamar de teste. Isso, porque, apenas seríamos efetivados para o cast oficial, uma vez que obtivéssemos êxito em todas as etapas da gravação do piloto. Não podíamos vacilar ou todo o esforço que havíamos feito para chegar até ali, teria sido em vão.

Mas eu já tinha cometido meu primeiro furo, ao concordar em ir a uma festa de desconhecidos na noite anterior. Havia bebido mais do que o recomendado e agora eu estava um caos, interna e externamente. Minha cabeça explodia e eu sentia como se não fizesse ideia do que fazer quando ouvisse o sinal de ação.

Tinha certeza que pagaria pelo meu erro sendo cortada na primeira cena.

Sinceramente, não sabia o que havia dado em mim. As regras haviam sido bem claras: fazer uma refeição balanceada, não deixar o quarto após as 8 e dormir cedo para obter um bom desempenho no dia seguinte. Não era tão difícil assim.

Mas me sentia tão ansiosa e aflita pelo que aconteceria na manhã seguinte que não recusei o convite de algumas amigas da época da escola, que havia reencontrado, por acaso, andando pelas ruas de Manhattan.

Eu jurei a mim mesma que não beberia e que seriam apenas alguns minutos. Mas, após juntar uma série de substâncias diferentes, me tornei quem meu menos queria ser e perdi a noção. Literalmente.

Por milagre, consegui acordar naquela manhã e, sem ao menos escolher algo melhor do que os velhos jeans claros e uma regata branca para vestir, corri até o estúdio antes do serviço de quarto chegar.

Queria ser a primeira a estar no set, assim poderia passar uma boa impressão e aproveitaria todo o tempo livre para me concentrar nas minhas falas e tentar salvar o resto de dignidade que me restava.

— Droga! — Bati com força no material emborrachado que cobria o chão. Estava presa na mesma frase há quase uma hora e eu simplesmente não conseguia fazer a expressão que havia acordado com a preparadora de elenco. Seja fria. Sorria duramente. Seja superior. Repetia a mim mesma aquelas três frases de ordem que havia aprendido no treinamento. Respirei fundo e tentei de novo: — Eu te amo, Nate Archi... Archi o quê? Sempre amarei e... Isso não está dando certo! — Queria soar naturalmente sexy e apaixonada, mas o máximo que eu conseguia era parecer uma criança mimada exigindo aos pais que compre doce para ela. — Mil vezes droga!

Esbravejei, jogando para longe o bolo de papeis, não adiantaria reparar o que já estava feito. Eu não havia dormido, minha cabeça doía e eu estava exausta.

Está bem, se concentre...

— Eu te amo...

Sempre amei e sempre vou amar.

Fui interrompida por uma voz masculina que não me lembrava de ter escutado antes. Era diferente, grave demais e tinha um sotaque bastante carregado. A curiosidade me levou a erguer os olhos e me deparar com alguém, até então, desconhecido para mim. Deve ser do setor de figuração ou um novo estagiário, pensei.

— O que é você? Quer dizer, quem é você? — Franzi a testa para minha própria reação.

— Oh, desculpe minha intromissão. Eu treinei muito para ser o Nate, acabei decorando as falas dele e também as da Blair. Meu nome é Edward, o novo Chuck Bass.

— Ah, olá! Eu sou a possível Blair Waldorf. Meu nome é Leighton, na verdade. — Me se levantei depressa e passei as mãos, molhadas de suor pelo nervosismo, nos jeans surrados que vestia antes de estender a mão para cumprimentá-lo — Você veio para o teste?

— Sim, eu meio que caí de paraquedas.

— Então, seja bem-vindo! Café? — Estendi o meu copo de isopor apenas por educação. O conteúdo já deveria está congelado.

— Não, obrigado. Sou mais adepto aos chás. — Ele sorriu.

Ele tinha um sotaque lindo e um sorriso de canto de boca bastante notável. Mas havia algo a mais nele que me chamou a atenção, algo indecifrável que despertou em mim emoções e sensações até então desconhecidas. Eu não sabia explicar. Devo tê-lo visto em alguma produção. Aquele cara daquele filme.

— Seu cheiro... — Ele disse, chegando mais perto, aspirando minha fragrância como um filhote. Será que eu estava cheirando a café?

— O que tem? — Dei um passo para trás com os olhos arregalados.

— É familiar, não sei...

— É Dior. Você é Francês?

— Sou Inglês.

— Ah, perfeito! — Declarei, estranhamente animada por isso — Quer dizer... que ótimo! — Me concertei, tentando ser mais imparcial. — Desculpe. É que as pessoas de lá são muito simpáticas. Prazer em conhecê-lo, senhor Edward.

— Pode me chamar de Ed, Leigh...

Estreitei os olhos para o estrangeiro de olhos claros.

— Ninguém me chama de Leigh por aqui, você, ahm... Você me conhece?

— Não, eu... tenho essa mania de encurtar o nome das pessoas. Desculpe, isso é muito impessoal para o primeiro dia.

— Não. Está tudo bem! Eu gosto... — Ensaiei o meu sorriso mais simpático.

— Você quer ajuda com essas falas? — Ele perguntou, apontando para os papeis deixados no chão.

— Ah, sério? Eu preciso muito! — Abri um sorriso imenso e me abaixei para pegar os scripts — Estou muito perdida aqui e um pouco tímida em fazer essa cena com o Chace e já cansamos de repetir isso aqui. Mas, talvez, eu deva tentar de novo com uma pessoa anônima. Acho que vai funcionar!

— Ótimo, eu também preciso estudar. Qual é a sua questão?

— Bem, para encurtar, eu preciso ser sexy. Parecer e soar sexy, mas eu não tenho ideia de como fazer isso sóbria. — Rimos juntos.

— Sexy? — Ele repetiu coçando o queixo.

— Sim. Preciso de mais... audácia. Isso! Essa é a palavra!

— Entendi. Bem, Leigh. Vamos criar uma situação. Imagine que estamos em um bar e eu sou o cara mais excitante que você já teve a sorte de um dia conhecer...

— Tá legal! — Mordi os lábios para segurar a risada.

Ele segurou-me bem de leve pelos ombros.

— Agora, feche os olhos. — Obedeci — Imagina a música alta, as pessoas curtindo e você saboreando o melhor Blue Martini da sua vida. Consegue fazer isso?

Ao som da sua voz aveludada, deixei-me levar a um universo paralelo, como se estivesse realmente hipnotizada. E eu conseguia me ver fazendo exatamente tudo que ele dizia.

— Agora você me encontra e pensa consigo mesma "como foi que eu vivi até hoje sem conhecer esse cara?" — Não contive a gargalhada altiva, mas voltei a me concentrar logo em seguida. — Se concentre. Você está vindo em minha direção agora e eu não faço ideia de que estou prestes a conhecer a garota mais linda e audaciosa da festa.

— O que eu faço agora?

— Seja ela!

— Ela quem?

— Blair Waldorf! — Ele sussurrou bem próximo a mim.

Senti um arrepio imediato percorrer a minha pele. Ele era bom nisso.

— Ok, vamos lá. — Respirando fundo, posicionei-me com uma postura que só a Blair teria e arquitetei aquele olhar que só ela faria. Seja fria. Sorria duramente. Seja superior. — Com licença, este lugar está vago?

— Depende de quem pergunta. Eu me viro lentamente. Ele narrou Você é a...?

— Blair Waldorf. E é melhor que você tenha uma boa resposta para mim na próxima vez. Você não vai querer me ver embora!

— Pode apostar que não! Sente-se. — Ele respondeu. Ainda estávamos de olhos fechados — Você aceita e eu te acompanho com os olhos. Você está linda em seu vestido de noite preto. Não ia precisar de muito para me conquistar, mas eu vou me fazer de durão, porque o orgulho masculino arde em minhas veias. — Ele narrava com riqueza em detalhes.

— E, então, você vai ficar parado aí ou vai me pagar uma bebida?

— Não sei se deveria. O que eu ganho com isso?

— A minha atenção é o seu bilhete dourado. Faça bom uso dela!

— Uau. — Ele abriu os olhos um tanto embasbacado — Você pegou mesmo o espírito da coisa, não tem como você ir mal. Pelo menos, a mim, você conquistou.

— Você gosta de garotas malvadas, Ed?

— São divertidas, mas prefiro as versáteis. Eu entendo que as mulheres têm seus momentos.

Concordei, cruzando os braços, enquanto analisava rapidamente sua feição. Além de divertido e inteligente, ele ainda era sensível.

Notando que tínhamos companhia, Ed deu uma leve pigarreada e eu olhei para o lado. Bob Levy, o primeiro produtor executivo, e seu assistente assistiam interação, parecendo bastante entretidos e satisfeitos com o que viam.

— Vocês têm alguma linha para esses dois? — Bob perguntou ao assistente.

— Acredito que não. Na reunião com a Cecily não foram mencionadas interações entre Chuck e Blair.

— Agora terá. Eles ficam bem quando enquadrados juntos. Avisa ao Josh que eu quero refazer a reunião e propor novas ideias.

— Sim, senhor! Agora mesmo! — O assistente saiu, em direção ao corredor principal.

Bob, então, passou por nós dois com um olhar sério e nos fingimos desapercebidos para não parecermos tão indiscretos.

— Bom dia! — Ele disse de modo bastante impessoal.

— Bom dia! — Respondemos juntos sem ao menos entender a que se deveria o recém descoberto interesse dele em nós. Mas eu não tinha dúvidas de que, o que quer que ele pretendesse, seria bom para nossos personagens e para o desenvolvimento da série.

***

— Quem diria que uma simples improvisação daria tanta repercussão? — Relembrei o caso, sentindo um pouco de saudade da época em que não tínhamos problemas.

— Quem diria que teríamos feito algo do tipo juntos. Até o dia que nos encontramos na cafeteria, só tínhamos trocado aquelas palavras e mais duas ou três por dia. — Ele retrucou.

— Acho que ficamos um pouco tímidos por fingir flertarmos na frente de membros importantes da produção.

— É, pode ser.

Fizemos um desembarque obrigatório no 86º andar junto aos demais passageiros e Ed andou apressado até o guichê preferencial da bilheteria.

— Reservas para Edward J. P. Westwick. — Ele falou rápido, entregando a identidade à funcionária de olhos azuis vibrantes e cabelos ruivos presos em um coque baixo.

Reservas?

— Está aqui, senhor Westwick. 50 ingressos para o grupo das 19:15. O elevador já está à espera. Onde está o seu grupo?

— Hum... — Ele olhou para os lados — Eles furaram. Seremos só eu e a senhorita ao meu lado. Algum problema?

— De maneira alguma, senhor. Mas deveremos liberar o acesso ao observatório para os demais visitantes em poucos minutos.

— Certo.

— Podem seguir por ali, primeiro elevador à esquerda. — Ela apontou, entregando a Ed uma corrente de tíquetes que mais parecia aquela de fichas que ganhamos em playgrounds.

— Que loucura é essa?

— Comprei todos os ingressos do grupo das 19:15 para podermos ficar sozinhos, sem o risco de nos reconhecerem.

Fiquei boquiaberta por alguns segundos.

— Você é maluco, sabia?

— Tenho meus motivos.

🎬🎬🎬

— É uma grande ideia me trazer para o lugar onde aquele advogado se jogou ano passado. — Cutuquei-o, irritada pelo silêncio quando o elevador indicou que chegamos ao Top Deck no 102º andar. Surpresas nem sempre funcionavam bem com a gente.

Ele suspirou.

— Leighton, olha pra trás! — Ele pediu, parecendo aflito.

— O que fo... — Me calei quando uma imensidão alaranjada me invadiu, preenchendo todo o meu campo de visão. O mais bonito pôr do sol esperava por mim no momento em que me virei.

Hipnotizada pelo que via, andei um pouco mais até tocar a grade de ferro reforçado que era a única barreira que nos separava do céu.

O céu estava limpo e a temperatura incrivelmente agradável. Ventava o suficiente para me causar a sensação de estar voando e, se eu fechasse os olhos, podia sentir meus pés saírem do chão.

Ed entrelaçou seus dedos aos meus e eu não o impedi. Estava tão vislumbrada pela sensação de ter toda Nova York diante de mim que poderia aceitar qualquer coisa da pessoa que me proporcionou uma das melhores sensações da minha vida.

— É a coisa mais bela que eu já vi em toda a minha vida. É magnífico, é inspirador, é... — Respirei fundo — Obrigada, Ed.

Me virei para dizer isso com os olhos fixos nos dele e foi a decisão mais acertada que tomei. Os olhos dele cintilavam como ouro puro diante de todo aquele show de luzes oferecido pela natureza. Dei um beijo em sua bochecha e puxei-o para próximo da contenção. Precisávamos curtir cada segundo antes que o sol se fosse de uma vez.

— No seu filme favorito, tudo começa em Nova York. Por isso, quis que começássemos aqui, com essa vista do topo... — Ele estendeu uma mão — Daria essa cidade de presente para você se pudesse.

Abri um sorriso atônito. Foi uma ideia genial. Ele deveria tentar algo no ramo de criação em uma próxima vez.

— Ed, eu nem sei o que dizer. Isso é tão perfeito. Estou completamente sem palavras...

Ele sorriu, satisfeito, e me girou pela mão, pedindo para que eu fizesse a observação pelo binóculo especial que eles dispunham ali.

Assenti e comecei a correr os olhos de um lado para o outro, visualizando os prédios acinzentados e as águas calmas do Hudson River ao fundo, que cintilavam com uma pintura marcada pelo pôr do sol mais perfeito que os meus olhos já puderam contemplar.

— Dá para ver todo o West Village daqui! Tenho certeza que aquela é a minha casa. — Apontei, empolgada como uma criança conhecendo a Disney pela primeira vez.

Ed sorriu novamente. Estava tão feliz e empolgado quanto eu. Não podia negar o quanto isso me contentava.

Dei espaço para que ele pudesse o olhar um edifício qualquer que eu acreditava ser o meu e ele concordou, dizendo que eu tinha uma visão incrível. Eu mencionei ter esquecido os óculos de grau em casa? Ed sabia como me iludir.

Quando voltei a me concentrar, Ed começou a discursar, retomando o assunto relacionado ao filme, narrando a história que eu conhecia muito bem, encaixando o queixo em meu ombro ao me abraçar por trás.

— Um cidadão americano conhece uma moça inglesa que está na cidade apenas de passagem e, por obra do destino, quando, no meio da loucura da correria de natal, eles se apaixonam pelo mesmo par de luvas. Deixando a loja de departamentos, eles saem juntos para um inocente sundae com calda de chocolate na sorveteria Serendipity. Após se despedirem, eles se reencontram na mesma noite e têm um momento épico juntos. Eles não se conhecem, não sabem o nome um do outro, mas sentem algo bater mais forte dentro deles e não podem negar. Entretanto, ambos têm suas próprias relações com outras pessoas, mas nada que já pudessem ter vivido se compara à sensação que tiveram em um único encontro promovido pela casualidade.

— Eles se apaixonam perdidamente um pelo outro e passam anos mantendo dentro de si a lembrança do que nem chegou a ser... Um clássico da ficção! — Completei, sorrindo, e ergui um pouco o pescoço para olhar para ele.

— Até os sinais os conectarem novamente e os mostrarem que eles sempre pertenceram um ao outro. — Ele deu continuidade com um sorriso divertido, fitando-me com os olhos semicerrados.

— Na nossa história, você é o inglês com sardas e eu sou a orgulhosa cidadã americana. — Continuei a falar, porque aquela proximidade entre nós e o contato direto de nossos olhos estavam começando a me fazer perder o juízo.

— É a maldição dos ingleses... muitas sardas, pele clara e dentes escuros... — Ele riu, baixando um pouco a cabeça.

— Isso é parte do filme. Não acredito que você decorou as falas!

— Não dá para esquecer os fatos. Você sabia que serendipity é o ato de encontrar algo valioso quando você não está procurando por isso?

— É lógico que eu sei, Ed.

— Isso não soa familiar para você?

— Do que você está falando? Não vai me dizer que tudo isso é sobre nós...

— Isso é sobre nós! Você não acha que toda a nossa história estava predestinada a acontecer e que de algum jeito tínhamos de nos encontrar?

— Ed, eu acho que você está tomando muito café americano ou então ficou acordado a noite toda assistindo Serendipity.  — Dei um passo para o lado, sentindo-me tensa demais para continuar tão perto.

— É verdade. Talvez eu tenha assistido mais do que deveria. Talvez eu tenha assistido todas as noites depois que você se foi... Mas não vamos entrar nesse assunto. — Ele fez uma pausa e ampliou o espaço entre nós — Quando estávamos subindo até aqui, você disse que me conheceu quando nos cruzamos no estúdio no primeiro dia de gravação quando você estava sentada no chão, tentando entender aquela linha da Blair com o Nate.

— E foi...

— E se eu dissesse que já tínhamos nos cruzado antes.

— O quê? É alguma história que você inventou? O que você pode saber que eu ainda não sei?

— Esse é seu filme, Leighton. Mas você já parou para pensar que ele pode não ter sido escrito apenas por você? Sempre há múltiplos pontos de vista em uma história.

Lancei um olhar perplexo para ele.

De repente, as portas do elevador se abriram e um grupo de senhoras desembarcou, dando fim ao silêncio e à privacidade que nos privilegiava. Elas estavam animadas demais para notar nossa presença ali, mas outros grupos viriam e eu começava a me preocupar com isso.

— Ed, estão começando a liberar a entrada das pessoas.

Ele olhou para os lados e me levou até um canto mais afastado das pessoas.

A paisagem laranja se transformava em um breu monocromático, salpicado por luzes artificiais que surgiam em todos os cantos rapidamente.

A vista cativante era igualmente arrebatadora durante a noite e me fazia perder a concentração vez ou outra, pensando nesse desencontro diário entre o sol e a lua.

— O que você quis dizer com essa coisa de a minha história estar sendo escrita por outra pessoa e que já nos encontramos? Tenho a impressão de que já sei disso.

— É algo que preciso te contar. Mas, por favor, não se assuste!

***

[Flashback]

< EDWARD >

11 meses atrás...

Eu me considerava um cara do tipo cético para histórias de amor, até encontrar dentro de mim uma fonte de inspiração para me apaixonar.

E eu me apaixonei, perdidamente, pela garota de olhos castanhos e cabelos dourados que, sequer, sabia da minha existência. Mesmo quando o destino nos levou a esbarramos um no outro, ela não ligou, não deu a mínima para mim e nem ao mesmo me olhou. Parecia ter coisas mais importantes para se preocupar em seu mundo pessoal.

No entanto, após um ano inteiro me agarrando à expectativa do que nem veio a ser algo, eu a reencontrei, quase irreconhecível em seu novo estilo para interpretar sua personagem na série de TV a qual eu, o cara antes recusado, faria parte.

Não seríamos um casal e não havia linha na história que fizesse as nossas vidas se cruzarem. Exceto, é claro, por obra de uma força maior chamada destino, que já trabalhava habilidosamente em nossas, até então, tão distantes vidas.

Mas essa parte da história já é familiar para nós, não há nada aqui que nos cause surpresas por enquanto.

Na verdade, são os acontecimentos anteriores e, até pouco tempo, também desconhecidos para mim que me deixam atônito. Essa coisa de sina ou sorte é real e só faz mais sentido com o passar do tempo.

Na noite anterior ao primeiro dia oficial de gravação, cheguei ao Lotte Palace Hotel ao entardecer e fui logo apresentado a uma parte da equipe e aos meus novos colegas de elenco, com os quais também dividiria um quarto de porte médio no local até ser capaz de me virar por conta própria na cidade grande.

Por volta das 10 da noite, quando toda a ansiedade acumulada por conta da viagem se esvaiu, decidi descer até o restaurante para ver se descolava algo para comer. Minha última refeição havia sido feita na Inglaterra e eu faminto.

Havia uma festa realmente grande acontecendo no salão principal, mas eu já sabia que não poderia adentrar ao local, nem em pensamento. Era uma ordem do comitê de produção da série.

A filha de grandes empresários locais estava completando 18 anos e, segundo as informações dadas a nós, os convites não haviam sido nada baratos. Mesmo que se tratasse de uma lista bastante restrita. Era estranho o comportamento daquelas pessoas.

Quem pagaria para entrar em uma festa de aniversário? Isso devia ser um costume dos americanos mais afortunados...

O restaurante ficava bem ao lado do salão, por isso não deixei de observar a movimentação que vinha de dentro ao passar. Todos estavam muito bem vestidos e trajando máscaras que eram entregues aos convidados logo na entrada do evento, após terem o acesso liberado por meio de credenciais.

O tema não poderia ser mais propício: Carnaval em Veneza. Por isso as máscaras. — Concluí. Não havia dúvidas de que a festa do ano estava acontecendo ali.

Satisfazendo a minha curiosidade, voltei ao caminho do restaurante e me senti instantaneamente mais confortável. Sem conhecer muito bem o menu, ou os hábitos locais, pedi uma massa simples. Precisava me enturmar depressa, não gostava de me sentir tão perdido e sozinho.

Fui atendido rapidamente e, cerca de dez minutos depois, meu pedido foi servido.

Comi rápido, pois precisava estar na cama cedo. Teríamos gravação logo no dia seguinte e eu não havia feito parte de nenhum ensaio ou preparação devido a alguns contratempos federais. E, por mais que não me considerasse um cara do tipo medroso, toda aquela novidade realmente me assustava.

Ao finalizar o prato principal, virei a única taça de vinho branco que havia pedido como acompanhamento e sinalizei para que o garçom trouxesse a conta. Paguei e saí do local, acompanhando o fluxo de pessoas que iam para um sentido diferente do que eu havia vindo, mas que acreditava ser o caminho em direção à saída.

Não demorou muito até que eu começasse a realmente me sentir perdido. Estava em um corredor mais escuro e deserto que parecia não dar em lugar nenhum.

Decidi andar mais um pouco até que encontrei uma porta de madeira que, para a minha surpresa, estava destrancada.

Deparei-me com um grupo, preparando-se para alguma espécie de apresentação. Logo entendi que aquele deveria ser um tipo de camarim.

Sem saber o que fazer, entrei, pensando em perguntar como fazer para sair daquele labirinto.

— Com licença, senhorita. Boa noite! — Toquei o ombro da moça de cabelos vermelhos e conjunto de couro sintético. Ela se virou, mascando uma goma com cara de poucos amigos.

— Você é o Ricky?

— Perdão?!

— Ricky, o guitarrista substituto.

— Eu...

Ela não me deixou completar.

— Você deveria estar aqui há meia hora! Anda logo, vai se arrumar! — Ela me empurrou para a porta e eu saí sem entender o que estava acontecendo. Quem era Ricky?

— Moça, você não está entendendo. Eu...

— Ah, claro. A máscara patética. Toma a sua! E coloca esse crachá idiota. Não vai querer ser preso. — Ela colocou o objeto dourado e coberto por plumagens vermelhas em minha mão e também me entregou o que parecia ser uma credencial.

Imediatamente tudo ficou mais claro. Aquela banda devia estar se preparando para tocar na festa que estávamos proibidos de ir. Droga, eu não devia estar aqui.

— Como faço para ir até lá?

— Você é britânico, não é?! Tinha que ser! — Ela bufou — É só pegar a sua esquerda. Está todo mundo te esperando para a passagem do som.

Aceitando a informação, apenas para poder encontrar a saída, segui para a esquerda, por uma passagem que me levou direto à parte de trás de um palco. Toquei a cortina escura que ainda estava fechada e senti um peso sobre o meu ombro. Ergui os olhos devagar e me deparei com um homem alto que, pelo olhar mal-encarado, presumi que fosse um dos seguranças.

— Senhor, eu posso explicar. Eu só estou...

— Você não pode passar desse ponto sem a sua máscara. — O funcionário disse com voz firme. Assenti olhando para cima e, então, ele soltou meu ombro dolorido quando coloquei o emperiquitado adereço em meu rosto.

Cruzei a fronteira das cortinas e, de repente, me vi dentro do salão que mais cedo eu visualizei pelo exterior. Todos aqueles jovens bem vestidos e mascarados estavam lá, enchendo a cara e dançando fora do ritmo. Era divertido de assistir.

Havia um lado bom em estar ali. Pelo menos, eu sabia que se cruzasse o salão em linha reta, chegaria à entrada que ficava ao lado do restaurante. Era a minha melhor chance.

Ignorando os outros integrantes da banda, desci as escadas e corri em meio às pessoas que nem sequer notavam a minha presença, enquanto eu continuava a me desculpar por esbarrar em um ou outro no caminho.

— Desculpe, senhorita! — Falei pela vigésima vez e algo surpreendente aconteceu...

— Qual é a sua, cara? Olha por onde anda. Tá bêbado ou o quê? — Ela gritava porque a música era alta e porque, provavelmente, não era a única coisa a estar nas alturas por ali.

— Perdão, eu não quis... — Olhei de cima a baixo a menina que não se encaixava no padrão que encontrei por ali. Ela vestia saias jeans muito curtas, meias pretas, botas longas e uma blusa vermelha de alças finas. Ela também tinha uma das máscaras e era impressionante como tudo parecia muito assimétrico nela.

Ela deu uma gargalhada, jogando a cabeça para trás, revelando a criatura mais graciosa que já encontrei.

— Você parece assustado. Vem, vamos nos divertir!

— Não, eu tenho de ir. Tenho trabalho amanhã cedo e...

— É claro que tem! Eu também tenho! Todo mundo tem! É Nova York! — Ela abriu um sorriso largo e notei que ela usava algo vermelho e cintilante nos lábios. Me peguei concentrado nisso. Era pecado querer sentir o gosto? — O que você faz? O que você está olhando? Tem algo no meu dente?

— Nada... É... — Parei por um segundo para me concentrar. Era uma garota bonita e estava me dando uma baita atenção. Entretanto, eu não deveria estar ali. Se, de repente, ela conhecesse alguém e contasse que me encontrou ali, eu estaria ferrado. Precisava ser mais cuidadoso.

Ela me olhava com a cabeça um pouco inclinada. Limpando a garganta, concertei a postura e pensei em algo para me safar. Não podia soar tão britânico e perdido. Talvez, pudesse roubar algumas características do meu novo personagem, Chuck Bass, como o sotaque e também um pouco da autoconfiança. Seria bom para treinar para o dia seguinte.

— Não faz nada? — Ela cruzou os braços.

— Não. É... Sim! — Eu era um idiota — Sou artista.

— Ah, que legal! Eu também sou. Qual é o seu ramo?

Com medo de ser desmascarado, decidi dizer uma meia verdade.

— Sou cantor.

— Sério? Eu adoro cantar! — Ela deu um pulinho em animação. — Na verdade, eu cantaria aqui hoje se não tivessem colocado essa banda de perdedores.

— Sério?

— Não, seu tolo, eu estou brincando! — Ela soltou uma risada esquisita que me fez rir também — Você acredita em tudo? Você é algum tipo de visitante estrangeiro? Britânico?

Por que eu tinha de ser tão óbvio?

— Sou do Canadá. — Não me lembrava de ter mentido assim desde que fingi ser mais velho para comprar bebida numa mercearia.

— Francês-canadense?

— Como você adivinhou? — Falei um pouco mais relaxado.

— Você tem alguma coisa no seu sotaque...

Droga, tinha de me esforçar mais.

— Deve ser a raíz francesa.

— Claro. — Ela balançou a cabeça — Já que você é músico, precisa curtir um pouco antes de trabalhar. Vem, vamos pedir umas bebidas no balcão e beber até perder a noção.

— Mas você já não está bêbada?

— Você é o meu pai agora? Anda, antes que eu desista de flertar com você! — Ela segurou meu pulso com força o suficiente para me arrastar por entre as pessoas.

— Estamos flertando?

— Tenho tanto a ensinar a você sobre os americanos...

E, então, bebemos. Pedimos os concentrados mais fortes que eles tinham no bar. Ela dizia que os ricos nunca valorizavam o que tinham, então alguém precisava dar valor por eles.

Era a garota mais interessante com quem já tive a oportunidade de conversar em anos. Ela era animada, festiva, atraente e muito agradável.

Mal vi a hora passar, gastando horas ali com ela, ora sentados no balcão do bar, ora dançando como loucos no meio da pista. Se eu morresse naquela noite, toda a minha existência já teria valido à pena.

— Olha, uma cabine de fotos! Sabe o que isso significa? — Ela gritou, eufórica, quando a última coisa acabou.

— Que há uma cabine de fotos na festa?

— É, praticamente isso. E que temos uma chance de registrar esse encontro inesperado. Vem, vamos zerar o rolo de filmes deles.

— Tá legal!

Novamente me puxando pela mão, ela me carregou até a cabine e sentou-se do meu lado esquerdo.

— Nós não deveríamos tirar nossas máscaras? — Sugeri, ameaçando tirar a minha, mas ela conteve-me logo que imediatamente.

— Não! Em hipótese alguma tire essa máscara! — Ela parecia séria pela primeira vez em horas.

— Por quê? — Questionei com uma risada.

— Porque estragaria toda a magia do nosso encontro. Você não sabe o quanto as coisas ficam complicadas quando ficamos cara a cara com alguém?

E ela tinha toda a razão. Nunca tinha visto as coisas por esse ângulo. Que menina brilhante!

— E o que fazemos agora?

— Pose um! Faz uma cara bem doida.

Obedeci, colocando a língua pra fora assim como ela. Flash.

— Agora vamos fingir que estamos conversando sobre algo muito interessante.

— Assim? — Perguntei, colocando o queixo com uma mão.

— Perfeito. — Ela me olhou com um sorriso genuíno. Flash. — Agora, montanha russa! — Ela vociferou o mais alto que pôde.

— O quê? O que eu faço?

— Levanta os braços e começa a gritar. Ahhh!

Obedeci, um pouco tímido por estar fora da minha zona de conforto.

— E agora...?

— Agora eu te dou meu telefone para nos encontrarmos com chapéus e óculos escuros um dia. Você tem uma caneta?

— Tenho. — Apalpei o bolso e encontrei o objeto. Estava no meu bolso desde o voo, porque eu costumava fazer palavras cruzadas para me distrair durante a viagem.

— Você é o canadense mais esquisito que já conheci.

— Tenho meu lado europeu.

— Não tenho um papel. — Ela constatou, fazendo uma cara engraçada.

— Coloque em uma das fotos. — Apontei para a carreira de fotos reveladas instantaneamente.

Ela as puxou e encarou as gravuras por um momento antes de escrever.

— Ai, droga!

— O que foi?

— Eu não sei meu número novo de cor e deixei meu celular no quarto. Desculpa!

— Não tem problema, posso te dar o meu.

— Eu prometo que vou ligar quando eu achar o meu celular. — Ela declarou com a palma da mão esquerda erguida, como se fizesse um juramento de vida ou morte.

— Aguardarei ansiosamente.

Comecei a escrever os números no verso da foto, mas parei ao lembrar que meu número era internacional. Ela descobriria tudo assim que discasse. Então, coloquei apenas o número do meu quarto de hotel. Com sorte, quando ela estivesse de volta à realidade, poderia me procurar por lá.

Antes de devolver as fotos, rasguei a revelação ao meio para ter comigo uma lembrança da noite incrível que eu tive ao lado da senhorita desconhecida.

Agradecida, ela me deu um beijo no canto dos lábios que me causou arrepios na parte de trás da nuca.

— O que fazemos agora? — Questionei, sentindo-me completamente dominado pelo cheiro doce de álcool e perfume que ficou em mim quando ela se aproximou.

Sem dizer nada, ela se jogou em mim novamente, preenchendo minha boca com um beijo ardente que durou menos de cinco segundos, mas que foi suficiente para me desarmar por inteiro.

—  Você sabe que a gente não vai, tipo, transar, né? — Ela se afastou, de repente, com uma gargalhada.

— Claro que não. Eu nem sei quem você é, seria grosseria. — Sem contar o fato de ela estar completamente fora de si.

— Meu nome é Mel, Melissa Heart.

— Eu sou o... Ricky. 

— É um grande prazer, Ricky só. — Ela me deu um último beijo no rosto e saiu da cabine — Te encontro no futuro!

— O prazer é todo meu. — Respondi, completamente em transe pela passagem de um anjo em minha vida.

Quando saí da cabine, era tarde demais, ela já havia desaparecido. Ela não me procurou e nós nunca mais nos vimos. Então, eu apenas guardei aquela noite como um sonho bom.

Até que ela, simplesmente, encontrou um jeito de atravessar o meu caminho novamente, e eu jurei a mim mesmo que ela não fugiria tão fácil dessa vez.

***

Continua...

🎬🎬🎬

Gente, babado essa revelação do Ed!

Alguém sabe dessa louca Melissa Hearts?

Arraste pra cima para conferir!

deixe sua 🌟

(deixei o trailer do filme Serendipity na capa, caso tenham se interessado)

X💋
nay :))

Continue Reading

You'll Also Like

2.2M 124K 69
"Você é minha querendo ou não, Alles!!" ⚠️VAI CONTER NESSA HISTÓRIA ⚠️ •Drogas ilícitas; •Abuso sexual; •Agressões físicas e verbais; •Palavras de ba...
95.6K 7.4K 45
Jeon Jungkook é um Alfa Lúpus puro e um Mafioso obcecado por dinheiro e que entrou na vida do crime muito novo, ele tem tudo quer, na hora que quer...
1.8M 110K 91
Pra ela o pai da sua filha era um estranho... até um certo dia
139K 18.9K 66
S/N Peña, uma brasileira de 21 anos, é uma jovem estudante de Direito, sargento e pilota da Aeronáutica Brasileira. Além de tudo, ela é convocada par...