Estava me incomodando demais aquele silêncio.
Essa demente não se pronuncia!
Dei de ombros e continuei procurando as bandejas, ignorando-a. Me abaixei um pouco para ver se estavam no forno e
não tinha nada. Rodei a cozinha praticamente inteira e não achei nada para servir.
Aquela mulher me seguia com o olhar em silêncio, agora, ela estava encostada, com uma mão apoiada á bancada e de nariz torcido.
Aquilo torrou meu saco.
Me virei para ela e sorri amarelo. O sorriso mais forçado que eu já havia dado em minha vida.
— A senhora deseja alguma coisa?
Perguntei, tentando parecer o mais educada possível.
— Não.
Respondeu, seca e me analisou mais uma vez com o olhar.
Então saí daqui, demente!
— Ah, está procurando algo, então? Quer alguma ajuda? Algum problema lá fora?
Insisti, tentando ser paciente.
— Eu sei muito bem o que você quer.
Ela indagou e bateu a unha no balcão, com a mesma postura que estava.
— Não compreendi. O que eu quero? Mas quem serve aqui sou e olha, no momento não quero nada além das bandejas, você tem bandejas?
Debochei, fazendo a maior cara de sonsa que eu tinha.
— Não sou do seu nível, subalterna.
— Mas leve tapas igualzinho, não é mesmo?
Rebati.
Os olhos dela queimaram. Levantei meu ombro encarando ela de frente.
Ela começou a caminhar em minha direção, quando chegou perto rodou sobre meu corpo, permaneci parada, com sorriso debochado nos lábios.
— Você acha que é igual a mim? Meu amor, olha pra você, monamur. Porém, fica tranquila, eu conheço o seu tipo e sei que você acaba quando eu começo. Entendeu bem?
Ela soltou, parada na minha frente.
Soltei uma risada irônica e encarei seus olhos.
— Então pode começar, amor.
Nossos olhos se matavam.
— Você não perde por esperar, sua piranha.
— Que medo.
Debochei mais uma vez, rindo de lado e fazendo uma expressão.
Estava tentando conter minha irritação mas queria meter a mão na cara dela.
— Gustavo tem dona!
Gritou ela, virando e saindo andando dali.
Revirei meus olhos, impaciente e soltei um longo suspiro assim que ela saiu. Era só o que me faltava, mais uma louca.
— Ah mamãe, ah papai, onde vocês foram me meter?
Perguntei sozinha.
Me encostei na bancada e olhei para cima, segurando meu pequeno cordão e um broxe de cruz que eu tinha.