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Uma parte de mim, muito estranha, por sinal, estava se sentindo culpada com tudo aquilo. Sentimentos embolados, embolavam minha cabeça e me tornava mais confusa do que eu de fato, já era.

Revirei meus olhos e decidi não pensar mais no que tinha acontecido. Desci da mesa e fui organizando o que tinha para fazer na cozinha. Limpei a pia, tirei o lixo, varri o chão.

A porta do terraço me chamou a atenção enquanto eu lavava a louça, ela semi-abriu com o vento.

Caminhei até ela, para fecha-la, até que ouvi de longe uma melodia. Parecia uma gaita.

Por um impulso, entrei e fui subindo as escadas, o som, que estava baixo, foi se intensificando cada vez mais.

Quando cheguei ao topo, fui empurrando devagar a segunda porta, deixando apenas um trecho aberto. No centro do terraço, Gustavo estava sentado, olhava para a avenida. Seu corpo estava totalmente relaxado. O sol batia em seu rosto, enquanto ele, com a gaita nas mãos, assoprava.

A melodia era triste e ele se dedicava a ela, contorcendo o rosto.

Sorri, olhando-o e fiquei paralisada ali. Era bonito vê-lo desarmado e se dedicando a algo com leveza. Sem toda aquela sombra e sobrecarga maldosa.

Como é lindo..

Tudo parecia ter ficado em câmera lenta, na minha visão.

Gustavo pausou a música, tirando a gaita da boca.

— O que você quer?

Levei um susto ao ouvir sua voz. Ele não olhou em minha direção e então, eu não sabia se tinha mais alguém ali.

Engoli em seco, ficando quieta e chegando para trás, para que a porta se fechasse devagar.

— Eu te vi, Gabriela. O que você quer?

Meu rosto ardeu na mesma hora que ouvi meu nome. É, não tinha como fugir. Abri a porta, devagar e sorri amarelo. Entrei no terraço e fui caminhando para perto dele.

— Nada demais. Eu ouvi a música.

Respondi, tentando puxar assunto.

Ele continuava encarando a avenida mas a pose relaxada tinha sumido dali. O velho e bom corpo enrijecido e armado, havia voltado.

Suspirei e decidi me sentar ao seu lado. Ele se manteve em silêncio, me ignorando.

La putaWhere stories live. Discover now