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Paloma olhou-me de relance pelo espelho, me dando uma bronca com o olhar. Eu fingi não notar e engoli em seco. Em seguida, ela suspirou e voltou a prestar atenção em sua maquiagem.

Cruzei minhas pernas e apoiei minhas mãos onde eu estava sentada. Analisando as meninas, uma certa curiosidade tomou conta dos meus pensamentos.

— Como vocês chegaram aqui?

Perguntei, direta. Todas pararam e me olharam.

— Dívida.

Elas responderam em coro.

Balancei a cabeça, pensativa e dei uma pausa.

— Hm, é. Todas de jogos também?

Insisti, realmente curiosa.

— Não.

Respondeu Manuela.

— Também não.

Respondeu Mirela.

— Sim.

Paloma sussurrou.

Balancei a cabeça novamente, concordando e mexi um pouco os dedos na cama, inquieta.

— Têm problema em me contar?

Continuei a insistir, estava curiosa demais para fazer cerimônia. Elas riram, fazendo que não com a cabeça.

— Fui vendida. Eu trabalhava nas ruas mas para outro cafetão, era basicamente livre, tinha liberdade fora do trabalho, morava sozinha e tinha minha vida, quando me vendeu só fiquei sabendo que ele tinha uma conta com Gustavo e eu fui a mercadoria de troca, pra pagar a dívida.

Manuela tagarelou, contando. Por final, ela respirou fundo, dando um sorriso fraco.

Me arrepiei só em pensar em trabalhar como prostituta por opção, deveria ser uma vida difícil para ela.

Depois de alguns segundos de silêncio, Paloma virou-se e me encarou.

— Eu era uma jogadora compulsiva. Fiz uma dívida enorme, mesmo estando grávida. Quando me dei conta, acabei ficando em um beco entre pagar a conta ou comprar as coisas do meu filho, e aí, to aqui.

A angústia no tom de Paloma fez com que meu coração apertasse, ela tinha raiva de si própria pelo filho e isso ficou claro em seu tom.

Mirela foi a última a falar, e de todas ali, era a que mais carregava ódio nas palavras.

— Estou aqui por causa do meu pai, se é que posso chama-lo assim. Ele me vendeu com 17 anos para o pai de Gustavo, ele precisava de dinheiro para pagar sua linda cachaça. O pai de Gustavo precisava de carne nova e um corpo pra expor e explorar, ótimo negócio para os dois, não acham?

Eu tinha feito uma grande merda. Minha maldita curiosidade tinha destravado lembranças que elas, todos os dias, tentavam esquecer e arquivar, assim como eu.

O clima ficou tenso e ninguém falou mais nada, apenas voltaram a se arrumar, ninguém mais sorria. Me senti super-mal por ter começado aquilo.

— Desculpa, galera. Não queria que vocês ficassem mal, eu e a minha língua grande.

Elas me encararam, com sorrisos atravessados.

— Relaxa, Gabriela.

— Você ouviu a nossa história e não contou a sua?!

Indagou, Manuela.

— Meus pais eram jogadores compulsivos, eu acho, eu não entendi a história correta até hoje. Gustavo não deixou minha mãe me explicar direito e eu já não acreditava em nada do que ela me falava, pra ser bem sincera. Mas acho que, me perderam na mesa de jogos, me apostaram.

Tentei explicar o que nem eu entendia.

As meninas me encararam com pena. Sabia que elas entendiam aquela dor, mesmo que a de cada uma daqui fosse diferente, o caminho que fomos arrastadas, no final, era igual.

Elas semi- abriram a boca, para me falar algo mas um cara de terno preto entrou no quarto, batendo palmas.

— Estão prontas? Está na hora, vamos.

Ele gritou, nos encarando. Me levantei, junto a todas e saímos do quarto, logo, descendo as escadas. Chegamos a sala e Vitor nos recebeu.

Ele me encarou, pausando o olhar e sorrindo. Desviei meu rosto e fiz cara de paisagem.

— Tudo certo, chefe, já podemos ir?

Perguntou o homem para Vitor.

— Podemos, Marvin. Vamos.

Eles caminharam até a porta e esperaram até que todas nós saíssemos. A van se localizava, como sempre, parada em frente a casa. Entramos e nos acomodamos nos acentos.

A única certeza que eu já tinha criado de tudo isso aqui, era que o frio na barriga e o medo, sempre iam estar ali presentes.

La putaWhere stories live. Discover now