106

40.5K 1.9K 29
                                    

Depois de alguns segundos, chorando e descontrolada, percebi a vergonha em que eu estava passando, mais uma vez.

A frase de Gustavo me desprezando estava como um imã em minha cabeça, as palavras, uma por uma, estavam dando marteladas em meus pensamentos.

Eu me julgava, me sentia mal. A menina lá em baixo, nós aqui em cima. Era tudo muito errado. Eu deixei isso acontecer de maneira tão fácil.

Que ódio de mim!

Achar que Gustavo estava mudando por mim era tamanha burrice, tamanha infantilidade idealizar, mesmo coisas mínimas, com ele. Nunca, nunca poderia ser algo a dar certo. Tudo era errado. Ele era errado.

Me movimentei, entre soluços abafados e fui me afastando devagar, o suficiente para visualizar o rosto dela.

Mirela olhou para mim sujestiva, com aquele olhar de quem tinha mil perguntas a serem feitas. Percebi e me afastei mais, cessando o choro.

Basta desse drama mexicano. Já havia passado por coisas bem piores.

— Me desculpa. Eu, só precisava disso.

Agradeci, sorrindo fraco.

A vergonha que eu estava sentindo era gigantesca, dava para encher a barriga de um elefante. Tinha acabado de ser fraca na frente de uma "estranha". Mas eu tinha sido otária para um estranho, então, estava tudo certo.

— Eu entendo, relaxa.

Disse ela e assentiu, compreensiva.

— Não queria que ninguém presenciasse essa coisa ridícula. Te aluguei de verdade, que vergonha. Coitada.

— Ah, que isso. Hipoteticamente, você alugou mais meu ombro que eu, quem tá molhado é ele.

Brincou, tentando distrair. Soltei uma risada sincera.

— Ops, desculpa, braço da Mirela.

Falei, como se o braço tivesse vida. Confesso que me arrependi com a expressão que ela fez.

Estou parecendo uma louca.

Engoli em seco, parando de rir e limpei meu rosto com as mãos.

Silêncio constrangedor em alerta.

Mirela caminhou até a porta, a abrindo.

— Não sei exatamente o que aconteceu mas espero que fique bem. Agora, Gabriela, vamos descer, devem estar nos aguardando.

Ela chamou, parada na porta. Me arrepiei. Não queria ter que lidar com isso.

— Todos estão lá? Quero dizer, quem está lá?

La putaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora