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Eu saí dali pisando fundo. Desci as escadas correndo e não prestando muito atenção nos degraus. Minha cabeça professava as coisas que aconteceram ali. Duas crianças, era o que parecíamos. Era o que eu, principalmente, parecia perto dele. Me tornava uma imbecil, talvez tentando corresponder a imbecilidade dele.

Esquece, esquece tudo o que aconteceu ali.

No penúltimo degrau, minhas pernas se embolaram. Dei um impulso para frente e vi meu corpo caindo igual a um saco de batata. Um barulho enorme estourou na cozinha, com a porta abrindo com o impacto do meu corpo.

— Que ódio!

Gritei, furiosa, caída de cara no chão.

— Meu Deus! Gabriela, que susto. Você tá bem?

Só aí reparei que, Paloma e Manuela estavam na cozinha, elas se assustaram e vieram me ajudar. Fui me levantando do chão, desnorteada.

Eu sou um desastre ambulante, sim ou claro?

— Desculpa, gente. Eu to. Eu to bem.

— Garota.... O que foi isso, hein?

Manuela perguntou, com as mãos por cima do coração.

— Eu..

Tentei pensar em algo. Não era minha maior qualidade o pensamento rápido, as vezes.

— O que estava fazendo lá em cima?

Paloma perguntou, olhando a escada. Desviei o olhar e fui tentando disfarçar, limpando os joelhos e a roupa que havia amassado ao cair.

Pensa... Pensa!

— Eu, é, eu tava, tava...

Engoli em seco, gaguejando. Elas me encaravam em sintonia, as duas juntas. Eu parecia um final de novela mexicana. Eu nunca tive o hábito da mentira, por isso, não era tão boa com ela.

Deuszinho, alô, help! Só mais essa..

Ouvi barulhos atrás de mim e senti meu corpo ir para frente, com um empurrão.

O ótimo do dia era receber pancada de tudo quanto é lugar, da escada, das pessoas dessa maldita casa: cai, é empurrada, tá tudo lindo.

Era Gustavo.

Ó, que novidade.

Ele passou ligeiro e em silêncio. Não encarou ninguém ali, seguiu com seus paços largos até a porta da cozinha e saiu. Suspirei super-nervosa.

Tomara que vá embora!

Corri até a porta da cozinha, para me certificar. Ele bateu a porta da sala com força, engoli em saco e me encostei na porta que dividia cozinha/sala, com sensação de alívio.

Olhei as meninas, que não se moviam, elas ainda estavam com cara de quem acompanhavam o último capítulo da novela mexicana e sim, eu vi ali, que ia ter que abrir o meu bocão se quisesse me livrar de perguntas.

— Gabriela do céu, o que aconteceu? O que tu aprontou, menina?

Paloma perguntou novamente, a preocupação estava estampada em seus olhos.

Levei minhas mãos a cabeça, alisando meus cabelos. Eu estava com um misto de sentimentos doidos para serem colocados para fora. Queria falar, chorar, gritar, bater, tudo ao mesmo tempo. Contorci o rosto, encarando elas, que se entreolharam, me encarando de volta, como quem diziam:

Deu merda!

La putaWhere stories live. Discover now