Inalcançável

By AmandaCaastroh

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"Sinto-me tão perto e ao mesmo tempo tão longe... Você é como a estrela mais distante ... Como o fogo que não... More

Prólogo
Insistência e reflexões
Decisão
Finalmente...
Quem é ele?
Surpresa
Nervosismo
Curiosidade
Visitas inesperadas
Inconsequência
Segundos duradouros
Teoria
Um coração felino
Irremediável
Confissões
Será sonho?
Constatação
A fazenda
Noite originada para ser inesquecível...
Enigma
Viagem obscura
Retorno
Algo está oculto
Suspeito
Palavras opacas
Aflição
Declarações conturbadas
Pedaços desamparados
Impasse
Feridas que não cicatrizam
Hesitação
Reencontros
A um passo...
Memórias
Entre anseios e revelações
Quando o passado vem à tona...
Aceitação
Descoberta
Algo bom...
A última carta
Solução inalcançável?
Dores não podem ser eternas
Abra os olhos
Alcançável
Epílogo
Agradecimentos

Submissos do destino

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By AmandaCaastroh

Existem duas coisas que podem estar consequentemente ligadas: O destino e a coincidência.

O destino pode levar à coincidência e esta provavelmente será por obra do destino.

Trazendo isso para o contexto do que acabei de descobrir, temos:

O destino levou Edward e eu a terrível coincidência de ter seu pai assassinado por meu pai. Enquanto que a coincidência disso tudo foi uma impiedosa e cruel obra do destino.

Estou mergulhada profundamente em devaneios a respeito dessa insensível ação da coincidência e do destino. E não consigo chegar a nenhum pensamento plausível.

Eu não conheço meu pai e não sei como ele é. Se eu o ver na rua, não me fará a mínima diferença, pois ele será como um cidadão qualquer; um desconhecido.

Edward quer acabar com ele. Quer tortura-lo e depois entrega-lo para policia. Eu não o conheço mesmo e não deveria estar me preocupando com isso.

Mas por que estou?

Por que estou com uma angústia interminável dentro do meu peito?

Pode ser simplesmente por ter descoberto um fato importante sobre ele: Meu pai é um traficante e assassino de pessoas.

Isso é, obviamente, um motivo suficiente para não estar tranquila desde ontem quando saí da casa de Edward.

E agora, mais do que nunca, atiçou-me um desejo incontrolável de conhecê-lo. Gostaria de pelo menos ver seu rosto, antes que ele fosse preso. Gostaria de ver toda a negritude do olhar desse homem tão fora da lei.

Eu me considero idiota por estar querendo isso. Sinto-me totalmente inoportuna por estar desejando conhecer um bandido...

Depois de ter me aprontado para ir à faculdade, entro na cozinha para tomar um café.

Como imaginei, encontro minha mãe debruçada sobre a mesa e com sua xícara de café na mão.

- Bom dia, filha - ela diz, percebendo minha presença quando me sento à mesa.

- Bom dia. - digo, me servindo do café.

Enquanto vou bebendo, uma coisa vem a minha mente e começa a me intrigar.

- O que houve, Sophie? - ela questiona. - Você está um pouco estranha.

Eu olho bem no fundo dos seus olhos, procurando evidências em seu olhar que expressem que eu estou errada.

- Mãe, se há alguma coisa que você omitiu e não me contou ontem por Edward estar aqui, agora é sua hora de falar. - digo, dando uma chance para ela.

- O que você está dizendo? Eu disse tudo. Não há mais nada. - afirma.

- Tem certeza? - olho-a, desconfiada.

- Não estou escondendo nada. - ela diz, receosa.

- Então, acredito que você não saiba que meu pai é um traficante, não é?

Ela imediatamente arregala os olhos, e engole em esforço o café.

- Como... Como você soube? - ela pergunta, espantada.

- Como eu soube não importa. Eu deveria saber por você, porque é evidente que sabia.

Seu semblante se entristece e ela abaixa o olhar.

- Você iria me esconder isso também. - falo, indignada.

- Não era pra você descobrir. Afinal, qual era a utilidade que isso traria para sua vida? Só iria te deixar mais angustiada...

- Mas eu tinha o direito de saber. - digo, secamente.

- Como você soube? - ela repete.

- Quer saber? - digo, meio irritada. - Esse tal traficante acabou com a vida do pai de Edward, ou melhor, o assassinou.

Minha mãe rapidamente fica pálida, em estado de choque.

- Sinto muito te dizer isso, mas belas escolhas que você fez dos homens para se relacionar. - digo, amargamente e saio, deixando-a sozinha.

***
O silêncio que prevalece é inquietamente perturbador. Edward não trocou uma palavra comigo desde que entrei no carro. Ele parece estar muito pensativo e em outro mundo.

Confesso que isso me incomoda. Porque eu gostaria em demasiado saber o que ele tanto pensa para não estar falando coisa nenhuma.

- Onde ele está? - pergunto de repente.

Edward se assusta com minha pergunta quebrando o silêncio, e me lança um olhar rápido.

- Onde está quem? - ele diz, confuso.

- O assassino do seu pai.

Ele vira-se e me olha por um momento. Talvez, tentando entender por que estou perguntando isto.

- Não sei. - responde, por fim.

- Não sabe? Edward, se você souber e...

- Não sei, Sophie. Eu não sei. Desde aquele dia que você foi encontrá-lo, que eu não tenho mais informações. A única coisa que o detetive deu certeza é que ele ainda está na cidade.

Eu assinto, ao ver que ele realmente está sendo sincero.

- Isso não irá estragar o que há entre gente. Não tem por que. - ele diz me olhando rapidamente. - Ele vai ter apenas o que merece. Você não está incomodada com isso, está?

- Eu apenas gostaria de conhecê-lo mesmo sabendo o que ele é.

- É melhor não. Pra que isso agora? Você não vê que ele não merece te conhecer? - ele diz, exaltado. - Contente-se em não ter contato com um ser humano tão horrível.

- Edward você não me entende. Não estou o defendendo, está longe disso! - exclamo. - Mas, eu tenho curiosidade... Se fosse você no meu lugar, o que faria?

- Eu o desprezaria por ter abandonado minha mãe quando estava grávida de mim, por não ter se importado. Eu repugnaria um bandido! - ele diz, bastante sério - Mesmo se, depois de tantos anos, ele quisesse me conhecer, eu o rejeitaria completamente.

- Eu sei. Você está certo. Mas... não seria como um primeiro encontro feliz entre pai e filha. Eu somente o olharia de perto, ficaríamos cara a cara, pelo menos uma única vez.

Edward estaciona o carro e me encara, indignado.

- Você está mesmo pensando nisso? Em encontrar com aquele sujeito?

- Ele parece interessado em me conhecer. Talvez se surgisse uma oportunidade eu pensaria na possibilidade.

Ele dá um meio sorriso, sarcástico. Essa sua atitude me deixa uma pouco irritada.

- O único lugar que você poderá encontrá-lo será na cadeia. Porque é somente lá que ele estará daqui alguns dias. É claro, depois que eu apanhá-lo.

Eu fico calada. Em sinal de frustação por ele não me entender.

- Você deveria odiá-lo. - afirma, olhando para fora da janela do carro.

- Meu desejo em vê-lo é um sentimento totalmente absurdo e difícil de conter. Mas você não sabe como é não conhecer um pai, então não pode me entender. - digo, já me sentindo exausta dessa conversa.

- Mas eu sei como é perder um pai que sempre estava comigo e posso afirmar que a dor é pior do que a que você sente por não conhecer um. - retruca.

- Você realmente não me entende. Cansei dessa conversa que não nos leva a lugar nenhum. - digo, abrindo a porta do carro e saindo em seguida.

***
Já se passaram três dias desde aquela conversa sem noção que Edward e eu tivemos no carro.

Eu chamo de conversa sem noção, porque eu mesma não consigo entender o que eu disse e que estava sentindo naquele momento.

Mas apesar das nossas divergências em opiniões, nós não nos distanciamos por causa disso. Eu o fiz prometer que não falaríamos mais sobre nada relacionado.

Quando contei para Della que meu desconhecido pai era o assassino do de Edward, ela ficou tão chocada quanto eu. Relatei também minha vontade em o ver, mesmo não gostando nenhum pouco dele. Ela, então, concordou imediatamente com Edward e me alertou que eu tenho várias razões para não querer conhecê-lo.

A verdade é que não consegui parar de pensar nisso um só segundo. Será que Edward e Della tem razão de achar que sou uma louca em querer ver o meu pai?

Ao entrar na sala, assim que percebe minha presença, minha mãe fecha bruscamente o jornal que estava lendo.

- O que estava vendo aí? - digo, me sentando ao seu lado.

- Você me assustou... - ela diz, parecendo realmente espantada.

Eu sorrio com a cara de assustada que ela está fazendo.

Ela vira o rosto para mim, passa a mão pelos cabelos e olha para vários lados, inquieta. Depois se levanta e vai para a cozinha, levando o jornal consigo.

O que me leva a perceber que ela não se assustou meramente por minha aparição repentina e sim por outra coisa a mais.

Vou atrás dela, pois sei que, novamente, está querendo me esconder algo.

- Mãe, o que houve? - indago para ela que se encontra com os cotovelos apoiados no balcão e o rosto entre as mãos.

Lentamente ela desfaz a posição em que estava e olha para mim.

- Seu pai foi pego. - afirma, diretamente.

- Ele foi preso? - indago, um tanto calma.

- Não, Sophie. Ele está internado no hospital, em estado grave. - esclarece com a voz embargada. - Parece que ele foi atingido por um tiro no abdômen e outro nas costas...

Eu sinto algo no peito extremamente difícil de ser explicado. É como uma fina angústia; um leve desespero...

Como posso sentir isso por uma pessoa que nem conheço? Por uma pessoa que nem ao menos presta?

Minha mãe aparenta estar bem mais desesperada que eu. Talvez ela ainda goste dele.

Talvez, assim como eu, ela sinta compaixão por uma pessoa que acabou entrando para um caminho errado.

Seus olhos vertem lágrimas. Eu desvio meu olhar do seu e pego o jornal em cima do balcão.

Numa manchete da segunda página está escrito:

"Robert Hernandez, um dos traficantes mais procurados pela polícia, foi alvejado por tiros e encontra-se em estado grave no Hospital Geral de Houston".

Minha visão é imediatamente desviada para a imagem ao lado da manchete.

A foto dele.

Essa é a primeira vez que eu vejo como é seu rosto, como são suas feições. E isso me faz ver que não estava errada quando pensei que era possível eu ser mais parecida com ele. Seus cabelos são pretos assim como os meus...

Seu olhar está triste e seu rosto magro está bastante abatido. Quando a foto foi tirada dava para ver que ele não estava bem com a situação vivenciada.

Paro de olhar a imagem depois de muitos minutos encarando e não leio o restante da matéria. Isso já é o suficiente para mim.

- Uma hora ou outra isso iria acontecer. Se ele não fosse assassinado ou quase, com certeza seria preso. - digo.

Minha mãe assente com a cabeça, mas não diz mais nada. Continua imersa em pensamentos.

O nome Hospital Geral de Houston ecoa em minha cabeça, constantemente emergindo o lugar onde ele está. Uma força maior está querendo me levar para lá, mas não sei se quero ir.

Eu encaro minha mãe e ela também me encara. Da maneira que ela me olha, há uma grande possibilidade de está pensando a mesma coisa que eu.

- Não sei se você deve. - ela diz, lendo meus pensamentos.

- Mãe, por favor.

- Sophie...

- Ele está à beira da morte e...

Ela me observa, pensativa.

- Tudo bem, vamos lá. - ela cede, facilmente, evidenciando seu desejo de também se dirigir até lá.

Todo o caminho até o hospital é extremamente silencioso. Minha mãe não diz uma única palavra.

Ao sairmos do carro, o sol do final da tarde embate sobre nossos olhos. Adentramos pelo hospital e logo vamos até a recepção buscar informações. Mas, não será nem tão fácil e nem tão rápido como pensei. Além de ele ter acabado de sair de uma cirurgia e não poder receber visitas neste exato momento, existe uma burocracia para entrarmos no quarto para o qual ele foi levado, já que ele não é uma pessoa comum que podemos visitar normalmente.

Depois de esperarmos pelo menos umas duas horas e ainda não termos a liberação de entrar, anuncio para minha mãe que é melhor desistirmos e irmos embora. Ela, porém, não concorda comigo.

Então, eles finalmente cedem a insistência, permitindo que somente eu entre, pois minha mãe revela que sou filha do paciente.

Sou guiada até o quarto por uma enfermeira, que avisa que posso ficar por pouquíssimo tempo.

Eu hesito antes de entrar. Será que eu fiz certo em vir?

Não sei se estou preparada para vê-lo. Mas eu já vim até aqui e não será agora que irei desistir.

Inspiro e expiro duas vezes, e, finalmente entro no quarto que já havia sido aberto há poucos segundos por um policial que estava em pé na porta.

Caminho a passos lentos pelo local. Em cima da cama vejo seu corpo estirado, submisso a vários aparelhos que apitam incessantemente. Aproximo-me da cama e fico observando seu rosto coberto pela máscara de oxigênio, o que não me dá uma completa visão dele.

Sinto uma pontinha de dor no coração. Sinto pena. Sinto tantas emoções embaraçadas, que é difícil decodificá-las.

Continuo observando seu corpo magro. Uma lágrima escapa desobediente dos meus olhos.

De repente ele meche a mão por um segundo, fazendo meu coração disparar e minhas pernas estabilizarem no chão.

Eu permaneço com meu olhar fixo em sua mão, até que novamente ele mexe os dedos, em movimentos lentos e vagarosos.

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