Inalcançável

By AmandaCaastroh

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"Sinto-me tão perto e ao mesmo tempo tão longe... Você é como a estrela mais distante ... Como o fogo que não... More

Prólogo
Insistência e reflexões
Decisão
Finalmente...
Quem é ele?
Surpresa
Nervosismo
Curiosidade
Visitas inesperadas
Inconsequência
Segundos duradouros
Teoria
Um coração felino
Irremediável
Confissões
Será sonho?
Constatação
A fazenda
Noite originada para ser inesquecível...
Enigma
Viagem obscura
Retorno
Algo está oculto
Suspeito
Palavras opacas
Aflição
Declarações conturbadas
Pedaços desamparados
Impasse
Feridas que não cicatrizam
Reencontros
A um passo...
Memórias
Entre anseios e revelações
Quando o passado vem à tona...
Aceitação
Descoberta
Submissos do destino
Algo bom...
A última carta
Solução inalcançável?
Dores não podem ser eternas
Abra os olhos
Alcançável
Epílogo
Agradecimentos

Hesitação

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By AmandaCaastroh

Uma das piores dores do mundo é a dor do vazio, porque não conseguimos explicar o vazio, apenas sentimos de forma fervorosa entre nossos sentimentos. É como você sentir aquela angústia por todo o dia, aquela tristeza, e não saber o porquê. Ela te consome, te fere, pode até fazer você chorar, mas simplesmente não conseguimos decifrar e acabamos com aquilo dentro do peito.

É uma dor causada por estar sentindo a ausência de algo, e tendemos a ficar completamente sem saber o que está acontecendo dentro de nós mesmos.

No meu caso existem várias razões para estar assim. No entanto, eu não sei dizer qual delas está me causando a dor do vazio. É horrível se sentir assim.

Algo que pode estar me causando isso: Edward. Na verdade, a falta dele.

Eu não consigo expulsar da minha cabeça que para Edward eu fui apenas um brinquedinho, que estava divertido enquanto não me interferia em sua vida, mas que depois perdeu toda a graça, quando deu para querer se atribuir a função de mais do que um "brinquedinho".

Ele nunca disse que me amava. Eu também nunca disse isso pra ele, mas eu já estava considerando a ideia de dizer, já que eu estava quase certa que o amava.

Minha confirmação absoluta só aconteceu quando já estávamos separados. Dói muito amar uma pessoa que te trata com indiferença.

Como faço para expulsar esse sentimento por ele de dentro de mim?

Será que se eu tivesse dito antes que o amo, ele retribuiria? Ou não? E se retribuísse seria de forma verdadeira?

Quando ele disse que estava apaixonado por mim, ele dizia a verdade?

A resposta simultaneamente vem do meu cérebro e do meu coração: Não!

Eu só queria poder continuar deitada na minha cama e não sair nunca mais. Não queria ver como o mundo é injusto estampado em uma única pessoa.

Porém não posso ficar aqui. Tenho que comparecer, mesmo que sem querer, às aulas.

Vou para o banheiro com a preguiça e o desânimo tomando conta de mim. Tomo um banho gelado, pois logo pela manhã o calor já está impregnado na cidade.

Olho-me no espelho. Minha aparência não está nada boa, meus olhos denotam tristeza e ressentimento.

Hoje não irei deixar meu cabelo solto, ele irá ficar preso em um rabo de cavalo. Incomoda-me em ver minha cara lavada, sem um ar de alegria e sem uma cor que demonstre vida.

Pego meu estojo de maquiagem. Passo um lápis e uma sombra leve. Verifico minha imagem no espelho e fico satisfeita com a pequena diferença que deu ao meu rosto.

Tomo meu café rapidamente, coloco a ração para Edhie e desço para a garagem.

Saio lentamente para a rua com um desejo de mudança. Uma mudança que partirá de dentro de mim, que me fará camuflar esse vazio e, por conseguinte acabar com ele. Uma mudança que revitalizará minhas forças para não ser mais esta garota que chora pelos cantos e que fica deprimida. Uma mudança que se chama esquecer tudo de ruim que aconteceu no passado. Esquecer tudo que me traga dor...

Um menino entra de repente na frente do meu carro. Ele ergue e balança os braços, fazendo sinal para eu parar.

Eu freio bruscamente, sentindo um enorme alívio quando o carro para a poucos centímetros do garoto e que seu ato imprudente não tenha ocasionado seu atropelamento.

O menino está vestido com roupas esfarrapas e sujas. Seu cabelo está todo despenteado. Deve ter aproximadamente de 8 a 10 anos.

Ele vem até a lateral do carro e bate no vidro que está fechado. O que será que ele quer?

Não consigo deixar de sentir pena dele. Provavelmente é mais uma criança que vive nas ruas.

Abaixo o vidro do carro levada por meus sentimentos de compaixão. Talvez ele só queira ajuda.

- Diga, garoto. - falo para ele com um pequeno sorriso, tentando me mostrar amigável.

Ele não me diz nada, só me olha com curiosidade por um instante. Em seguida fica na ponta dos pés e estende um envelope para mim.

Eu hesito em pegar e fico observando aquele papel na mão dele.

- Isto é para você. - ele diz, quando percebe meu receio em receber aquilo.

- Quem mandou isso?

- Me mandaram entregar pra você.

- Mas quem?

- Um cara aí, não conheço. - ele diz com sinais de aborrecimento pela minha demorar em pegar o envelope.

Sinto uma pontada de medo que percorre todos os trilhos do meu corpo e me faz ficar arrepiada.

Finalmente agarro este objeto tão frágil, mas que pode ter o poder de me destruir inteira.

Assim que o menino cumpre definitivamente seu dever, ele sai correndo, desaparecendo ao virar uma esquina.

Olho fixamente para o papel em minhas mãos. Não me impressiona em saber que não há um remetente, mas sim o fato da pessoa ter me afirmado que não me mandaria mais eles.

Dessa vez não me passa um sentimento de rejeição. Este papel parece gritar para que seja lido com urgência. Ele está me chamando para si, está implorando que seja aberto e que seu conteúdo seja desvendado.

Eu quero muito ler, mas não estou preparada. Eles sempre me trazem confusão, agonia, inquietação. Por isso não quero ler agora.

Abro minha bolsa para guardar o envelope e me deparo com uma frase que até então não tinha visto.

"Leia quando estiver sozinha. Ainda hoje, por favor."

Fico mais curiosa com esse pedido. Preciso ir para a faculdade, e tenho a intuição de que se eu ler isso neste momento, acabarei por não conseguir seguir adiante.

Respiro fundo e coloco o papel, que virá a ser lido mais tarde, em minha bolsa.

Dou a partida e continuo com o meu destino.

Logo quando piso os meus pés no campus, sou recebida por uma Della me pedindo desculpas.

- Pelo o quê você está se desculpando afinal? - digo, enquanto caminhamos para dentro da instituição.

- Por ter feito você passar por aquilo no fim de semana.

- Della, você já me pediu desculpas quando me ligou ontem, lembra?

- Sim, mas eu andei pensando melhor e vi que foi horrível da minha parte estar praticamente te jogando para cima daquele sujeito, quando você não queria nada com ele. - ela diz arrependida.

- Não foi sua culpa, ok?! A culpa foi daquele imbecil que acha que pode ter todas as mulheres aos seus pés.

- Eu pensava que ele fosse legal.

- Nenhum homem com o ego do tamanho do mundo é legal. Mas eu também dei o que ele merecia. - digo sorrindo.

- É, isso foi merecido. Gostaria de ter visto a cena. - diz parecendo imaginar.

Ver Edward ainda me causa alguma dor, mas não como antes. Eu acho que estou conseguindo camuflar, informando demasiadas vezes ao meu cérebro que não me importo mais com ele.

Meu lado racional parece entender muito bem isso, mas o meu emocional grita que não há como fugir do que sinto.

Agora não posso dizer que consigo camuflar e conter meus ciúmes ao ver Edward e Hellen assim juntinhos.

Como no outro dia, eles estão de papinho na sala de aula. Edward parece estar um pouco distante do que ela está falando, mas mesmo assim continua dando bola para ela.

Eu desvio o olhar dessa cena e passo para o fundo, fingindo não estar vendo isso; fingindo que não estou sentindo ciúmes; fingindo não gostar ainda muito dele.

O envelope na minha bolsa parece que a todo instante está emitindo chamados para abri-lo e lê-lo logo. Como se fosse uma espécie de vibração que deixam meus pensamentos desconcertados e com o foco diretamente para ele.

Logo quando o sinal indica o intervalo, pego minha bolsa e ando para o banheiro.

Entro em um dos repartimentos e não aguentando mais de curiosidade abro o envelope ali mesmo.

Antes de desdobrar o papel, sinto um frio na barriga que precisa ser controlado para que eu consiga ler.

Suspiro profundamente e começo a ler.

As primeiras palavras me deixam em choque, neste momento minhas mãos já começam a tremer e eu preciso segurar com força o papel para que ele não caia no chão.

Algumas lágrimas ameaçam em cair. Reprimo o choro para que ele não borre minha visão e me impeça de continuar lendo.

Meu coração está batendo tão descompassado que eu não consigo ouvir nada além de seus batimentos.

Não, não pode ser.

Será que isso é real?

É inevitável conseguir segurar as lágrimas, elas descem calmamente e quentes pelo meu rosto.

Fico com o rosto focado para as palavras, analisando se foi aquilo mesmo que eu li.

Dobro o papel com dificuldade e o guardo novamente na bolsa.

Espero um momento até que as lágrimas resolvam parar de descer. Sinto uma coisa no peito que é difícil de ser explicado. É algo tão doloroso e ao mesmo tempo tão confuso.

Saio cambaleante e vou em direção da pia para lavar meu rosto.

- Como se sente depois de ter terminado com seu príncipe encantado?

Ouço-a falando por trás de mim e imediatamente olho para o espelho na intenção de encará-la por ali.

- Pelo jeito não está nada bem. Já até veio para o banheiro chorar. - ela diz, provocativa.

Por um segundo me pergunto como Hellen sabe que eu estava chorando, mas aí vejo meu próprio reflexo e junto com ele os olhos vermelhos e inchados.

Pego um papel toalha e seco meu rosto, ignorando os comentários idiotas dela.

- Não sei como um cara lindo e legal conseguiu namorar uma garota chata e ranzinza como você. - ela aproxima-se do espelho e começa a retocar a maquiagem.

Continuo calada. Não tenho tempo e nem quero ouvi-la. Preciso ir embora o mais rápido possível.

- Ele parece gostar bem mais de mim. - diz misturando o batom com a boca. - Nossa, e beija como ninguém. Uau! Até perdi o fôlego.

Não sei se aquilo que ela disse é verdade. Talvez não seja, mas me machuca só de imaginar.

Começo a ir em direção à saída do banheiro.

- Você não se importa que fiquemos juntos, não é mesmo? Afinal, vocês não tem mais nada um com o outro. Ele mesmo que me disse.

- Claro que não! Vocês se merecem. Faça um bom proveito! - digo e afasto-me rapidamente dela.

Saio correndo, literalmente, da Universidade. Não vejo nada nem ninguém, só me importo em fugir dali.

Minha vida nunca esteve em tanto caos como agora. Eu estou completamente perdida. Não sei o que fazer...

Chego ao meu apartamento e me estiro na cama. Olho para o teto por muitos minutos e não chego a uma decisão.

Mas, e se isso tudo for uma farsa? E se alguém estiver tentando me enganar?

Fecho os olhos, pensando cautelosamente no que devo fazer.

Levanto-me um pouco e alcanço minha bolsa que foi parar no chão. Pego novamente o papel e releio:

"Querida, filha

Eu sei que não tenho o direito de estar te chamando assim. Afinal, não cumpri o meu papel de pai.

Saiba que tudo que eu fiz no passado está voltando-se contra mim. Estou muito arrependido mesmo, você não sabe o quanto.

Mas não há como voltar no passado e consertar todos os meus erros. Por isso eu gostaria de pelo menos uma única vez poder te conhecer.

Será muito pouco tempo para recuperar o tempo perdido; para esclarecer tudo; para receber o seu perdão... Mas será um tempo significativo para mim que nunca olhou dentro dos olhos da própria filha.

Eu não estou te pressionando para que me perdoe; só gostaria de ver de perto a garota que tem meu sangue, a garota que covardemente abandonei antes mesmo de nascer.

Caso queira me conhecer, estarei esperando no antigo depósito da distribuidora de água Cristal Water, Rua 6. Às 8 horas da noite.

Venha sozinha, por favor. Se vier com alguém nossa única oportunidade de nos conhecermos estará acabada.

Eu prometi que não mandaria mais essas coisas para você, mas juro que não suportei perder essa chance de te ter frente a frente comigo.

Esperarei ansiosamente e entenderei se não quiser vir. Depois tudo ficará como antes, como se eu nunca existisse...

Atenciosamente, um pai desconhecido e irresponsável, mas que quer muito conhecer a filha."

Meu Deus! Será que é mesmo meu... pai?

Então foi ele que todo esse tempo estava me mandando estes bilhetes.

Passo a mão pelo rosto nervosamente sem saber o que fazer, sem saber se devo ir ou não.

Eu sempre quis saber quem era meu pai, como ele era e saber por que ele havia abandonado minha mãe grávida. Mas agora estou num grande dilema. Talvez não devesse ir. Talvez as coisas fiquem melhor assim do jeito que estão. Talvez seja alguém querendo brincar comigo. Mas ninguém além de Edward sabe da história em relação ao meu pai.

Se eu não for, depois posso me arrepender e não ter como voltar atrás.

Afundo no travesseiro. Fico numa indecisão extrema, que me causa um nervosismo e faz com que lágrimas transbordem dos meus olhos.

Poderia ligar para minha mãe e falar a respeito disso. Mas eu tenho certeza que ela iria me proibir terminantemente de ir e não pararia de me ligar depois, preocupada.

Olho as horas. São 3 horas da tarde, ainda faltam 5 horas para o horário que ele marcou.

Estou decidida a ir, nem que isso me traga duras consequências depois.

***
Paro o carro na rua que estava escrito no papel que é muito longa por sinal. Fui impedida de continuar, pois existem alguns dejetos, como latas e galhos de árvores atrapalhando o caminho.

Desço do carro, e sou recebida por uma forte corrente de ar fria que faz meus cabelos movimentar para frente do meu rosto e os pelos do meu braço se arrepiarem. Olho para o céu, percebendo que a qualquer momento vai desabar um aguaceiro na cidade.

Eu acho que não vai ser nada fácil encontrar esse depósito, pois existe vários deles nesta mesma rua.

Dou um passo, me atrevendo a ultrapassar aqueles obstáculos que impediam meu carro de passar. Passo uma perna para um lado e depois a outra, deslocando-me para o outro lado.

Olho para todas aquelas construções enfileiradas dos dois lados da rua e me pergunto qual destas será e por que esse homem escolheria um lugar assim para me conhecer.

Engulo em seco quando percebo que não só estes depósitos como também toda a rua são provavelmente abandonados.

Começo a sentir medo, o que até agora não havia se apossado de mim. Fico parada, pensando se devo continuar ou não.

Olho para trás e não vejo mais nada do que várias folhas sendo arrastadas pelo vento em meio à rua vazia.

Volto a caminhar a passos lentos. As rajadas de vento em minha direção contrária, me impedem que eu prossiga mais rápido. Meu sangue corre de maneira efervescente em minhas veias.

Mesmo assim eu continuo, de maneira corajosa e ao mesmo tempo temerosa.

O silêncio é apavorante, não há mais nada do que o zumbido do ar agitando-se impiedosamente. Um estrondo ecoa pelo céu, me assustando por um momento e reconfortando-me depois ao ver que se trata apenas de um trovão.

Respiro fundo e aconselho-me mentalmente a manter a calma.

Os batimentos desenfreados do meu coração, no entanto não conseguem seguir esse conselho.

Paro na frente dos dois primeiros depósitos e constato que o nome estampado no letreiro velho não condiz com o que estou procurando.

Um barulho chama minha atenção, e o olho para todos os lados, procurando de onde se originou. Respiro ofegante e vejo alguns metais sendo balançados ao longe pelo vento.

O que estou fazendo? Não sei se sou corajosa o bastante para prosseguir. Não sei se devia ter vindo.

Outro trovão estronda e logo alguns pingos fortes de chuva começam a cair.

Ouço passos parcialmente abafados pelo barulho da ventania e dos metais balançando.

Não tenho tempo de olhar para a direção de onde veio as pisadas, pois sou recebida por uma misteriosa mão tapando minha boca por trás.

Foi como uma flecha envenenada de grande susto e pavor que se infiltrou em meu interior, fazendo meu coração explodir em batidas rápidas e descontroladas.

A mesma rapidez se aplica em meus incessantes gritos que são duramente reprimidos pela mão que pressiona minha boca com força.

Continuo gritando e me debatendo sem sucesso. Estou num lugar abandonado, e ninguém poderá me ouvir ou salvar.

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