Camila Cabello | Point of View
Lu estava jogando no tablet... Ela é muito melhor que eu com ele. Sentei ao lado dela e ela largou o aparelho na cama para me encarar com aqueles olhos maravilhosos.
— Você está cada dia mais parecida com sua mama. – Eu disse e pincelei o nariz dela a fazendo sorrir.
— A mama ser muito linda.
— Ela é maravilhosa. – Eu a peguei e a coloquei de pé sobre minhas coxas. Vai ser tão difícil ficar sem elas... — Amor, a
papi vai fazer uma viagem.
— Viage... pá Disnê? – Eu sorri.
— Não. Vou meditar no meu antigo templo e ele fica em outro país.
— Vai demolá? – Ela perguntou abraçando meu pescoço.
— Eu não sei, pequena. Acho que não. – Eu a ouvi fungar. — Não chora, pequena. Vai ser rapidinho. – Eu acariciei as costas dela.
— Me leva dunto, papi. – Ela disse sentando no meu colo e esfregando os olhinhos.
— Eu não posso, bebê. Queria muito levar vocês, mas não vou ficar com vocês.
— Me leva na malinha, papi. Fito tétinha. – Ela disse colocando as mãozinhas na boca e eu já estava quase chorando, Lauren... Lauren... preciso de você agora... – Pu favô, papi...
— Ela vai voltar logo, pequena. – Lauren entrou no quarto e sentou ao nosso lado. – Papi precisa rever seus amigos antigos e meditar muito. Ela não pode se distrair...
— Mazi eu fito tétinha. – Lauren sorriu e apertou a bochechinha dela.
— A papi vai nos levar a Disney quando voltar, mas a essa viagem ela vai sozinha. Vamos ficar bem, é tão ruim ficar com a mama?
— Não mama... tá bão. – Ela disse e me abraçou. Ficamos assim por um tempo, até que Lauren decidiu que precisamos descansar.
×××
Depois do meu drama nos aviões, cheguei ao templo e fui recepcionada por Kevin. Ele me abraçou, daquela forma entusiasmada dele.
— Conselheira K. Que saudade.
— Kevin... trocou de manto.
— Sim... demorou muito e o mestre Khan me deu ele por pena, eu acho. – Eu neguei e ele me soltou.
— Me conte como você está?
— Estou bem e a conselheira?
— Estou meio confusa.
— Eu sei. Mestre Khan está bem preocupado.
— Eu preciso me encontrar novamente. Essa não sou eu. – Ele ficou sério e assentiu.
— Não acredita mais?
— Eu acredito no budismo. Só não acredito em mim. – Ele assentiu novamente.
— Vamos então. Seu antigo quarto a espera e o mestre Khan tem pressa em começar com você.
Concordei e logo estávamos no quarto. Minha antiga roupa estava sobre a cama e ele me deu licença para me vestir.
×××
Logo estávamos nos aposentos do mestre Khan. Ele estava meditando, nos mantivemos em silêncio até ele abrir os
olhos e sorrir.
— Conselheira... – Ele ficou em pé e me abraçou também. — Vou abrir uma exceção com as demonstrações de afeto, pois realmente, fazes muita falta aqui. – Eu retribuí o abraço e ele cheirava a incenso de mirra.
— Como o Mestre tem passado?
— Estou preocupado com você. – Ele apontou o tapete ao meu lado e eu sentei nele em posição de índio. — Providencie o almoço para a conselheira, Kevin. Depois está dispensado para seus afazeres. – Ele assentiu e saiu dali.
— Mestre...
— Vamos começar pelo quesito básico. Para que meditamos?
— Para conhecer melhor a nossa mente. Minha cabeça está cheia, mestre. Agora mesmo estou pensando se está tudo bem com minha família.
— Sua família está em um caixa forte. Seus pais, amigos e colegas cercando todas. Imagino que elas estão bem mais protegidas que você. Sabemos, K... toda meditação para respostas vai ser em vão se você não tiver um lugar na sua cabeça para organizar as questões. Levando em conta que ocupamos muito pouco do nosso cérebro, acha impossível? Para nós nada é impossível. – Ele sentou-se a minha frente. — Feche os olhos... esvazie a cabeça, você se imaginando despida em uma nuvem branca afastada de tudo. Esquece que se casou. É só você e você.
Foi o que eu fiz, mas até o horário do almoço, minha nuvem estava cheia. Todos estavam nela, de Lauren a Vero. Minha nuvem se desmanchou. – Eu segurei todos como pude. Alcancei meu pé, uns se agarraram a minha cintura... estava pesado demais.
— Mestre... estamos caindo.
— Eu disse que se não tirasse eles da nuvem ela não sustentaria. Se salve, K.
— Eu não posso deixar ninguém cair. – Eu dizia enquanto segurava a mão de Lauren firmemente.
— Se salve, K. É necessário.
— Não posso deixá-los. – Eu disse e a mão que me sustentava no resto da nuvem escorregou. Eu morri tentando salvar a todos, então abri meus olhos. — Todos se foram.
— Eu disse para se salvar. Você não estava na nuvem, você estava sobre sua mente e esse é o peso que ela carrega. Você não pode ajudar a todos se não se ajudar primeiro, sabemos disso, sabes disso, está teimando como a garota mimada de quinze anos.
— Mestre...
— Não quero ouvir sua voz, K. Vamos almoçar e depois você ficará aqui até conseguir se visualizar sozinha.
Ele disse e saiu da sala.
×××
Após uma semana, eu não tinha me visualizado sem Lauren na nuvem e isso estava preocupando o mestre ao extremo.
— K... eu entendo suas preocupações, não podemos mudar o mundo que nos rodeia, mas podemos mudar o jeito que nos relacionamos com ele. Sei que você ama sua família e Lauren é uma figura bem presente em sua mente, mas agora não é o momento dela. Você cuida, ama e protege, mas agora ela não quer isso, ela quer que você se cuide... – Ele tirou uma carta do bolso. — Eu não vou te mostrar o que ela escreveu, mas ela me mandou uma carta. Ela quer você de volta, K. Eu não convivo com vocês, mas ela me deu a entender que você mudou muito. Ela não quer que você volte do mesmo jeito, ela quer você em paz e eu não vou deixar você sair daqui se não se esforçar para isso.
— Eu estou tentando.
— Você curou uma enfermidade com a reflexão. Pode ir ao gramado e relaxe por ela. – Assenti.
Passei pelos salões de meditação e cheguei ao gramado. Deitei ali e comecei a pensar na minha semana aqui.
— Difícil? – Ouvi Kevin e ele sentou ao meu lado.
— Um pouco.
— Vamos lá, K. Você me ensinou tudo que sei, é a pessoa mais focada que conheço... era para você estar no lugar do Khan. Lembra? O mestre pediu para você ficar no lugar dele.
— Eu nunca quis criar raízes aqui. Eu sempre disse que meu objetivo era encontrar Lauren um dia.
— E encontrou, casou, teve filhos e se estabilizou. O que falta? – Eu fiquei encarando ele por um tempo.
— Acho que eu fiz um bom trabalho com você. – Eu disse levantando. — Vamos tomar um chá?
Ele assentiu e logo estávamos ao lado da fonte.
Lauren Jauregui | Point of View
Estávamos na casa de Vero, fazia um mês que Camila estava longe e incomunicável. Não posso negar que imaginei levar menos tempo... e que colocar as meninas para dormir sozinha gera uma choradeira de nós três sem tamanho.
— Alguma novidade sobre Milão?
— Não. Eu estou morrendo de saudade dela.
— Você está péssima mesmo. Olheiras... você engordou?
— Sim. Ficar na nossa casa me deixa ansiosa e eu como tudo que encontro.
— Imagino ser difícil... é difícil pra nós, imagina para vocês que nunca se separam.
— É, mas Camz precisa desse tempo... esperei sete anos. – Eu disse levando a mão a boca e roendo minha unha... ato recorrente ultimamente.
— Acha que vai levar tanto tempo?
— Não sei... espero que não, mas se for necessário tenho que aceitar.