Sirius enche o próprio copo de vidro com o uísque de fogo que estava no minibar, rola os olhos ao ouvir a música que ecoava na sala dos Potter, Abby o abraça por trás, com as mãos espalmadas no seu tronco, e o forçando a mover os quadris no ritmo da música.
- Eu odeio as trilhas sonoras de grease, o que aconteceu com o bom e velho rock? - ele reclama sorrindo de leve.
- Summer loving happened so fast! - ela cantarola usando a garrafa de uísque como um microfone, encarando Sirius.
- Eu dormi o filme inteiro, não lembro de uma palavra dita por John Travolta. - Sirius brinca. - Aquele filme é meloso demais para um garoto.
- I met a girl crazy for me! - James acompanha a música dramaticamente, segurando a mão estendida de Abby.
- I met a boy cute as can be... - se aproxima dele movendo os quadris no ritmo da música.
- SUMMER DAYS DRIFTING AWAY! - Abby e James cantam em uníssono, as costas de ambos estavam coladas e se moviam no mesmo ritmo.
Os amigos dançantes arrancavam risadas ao reproduzir a cena do filme desajeitadamente na sala de estar dos Potter, até mesmo o pequeno Harry parecia radiante.
- Tell me more!
- Tell me more. - Sirius cantarola a contragosto, quando Abby aponta a garrafa de uísque para a sua boca.
Sirius acende o cigarro que estava na sua boca, e caminha até o toca discos, procurando algo que o agradasse, enquanto Abby e James tentavam cantar uma música desconhecida do disco atual.
Marlene se aproxima do rapaz em passos curtos, se encostando na parede enquanto o encarava curiosa. Sirius levanta os olhos com estranheza, e ergue uma de suas grossas sobrancelhas.
- O que está olhando? - o seu tom era brincalhão, com uma pontada de grosseria.
- Eu quero um cigarro. - Ela estende a mão, e Sirius tira o que estava entre os seus lábios, o colocando perfeitamente nos dedos finos da loira, que da um trago profundo, soltando a fumaça quente entre os lábios.
Sirius voltava a sua concentração para os discos na sua mão, sorrindo quando o nome dos Beatles invade a sua faixa de vista.
- Sirius... não querendo tocar em um assunto delicado... mas, você lembra do que aconteceu antes da Abigail ir embora da Ordem da Fênix? - Sirius levanta os olhos novamente, mas agora parecia impaciente, resmunga um palavrão e da de ombros.
- Esse é um dos seus joguinhos sádicos? Sabe que eu não gosto de tocar nesse assunto. - Ele rebate rudemente.
- Claro que não, eu sou sua amiga, e estive pensando a respeito do assunto... eu só queria que você me dissesse o que aconteceu antes.
Sirius suspira, passando o dedão pelo disco dos Beatles.
Não faria mal falar a respeito.
- Nós tivemos uma briga muito feia. - ele diz simplesmente, o machucava apenas lembrar.
- E antes? Antes de... bom... antes de morrer, a Dorcas havia mencionado que... que você estava com a Brianna, você traiu a Abby?
- O que? - Sirius faz cara feia. - Não, é claro que não, ela insistiu para que eu bebesse uma dose com ela, e depois, sem nenhum contexto, ela me roubou um beijo.
- Bem na hora que a Abigail chegou, conveniente, não? - Marlene passa a língua nos dentes, molhando a boca seca.
Bem na hora que o Pedro a tirou de casa. Conveniente, muito conveniente. - Ela pensa, e não pôde deixar de sentir a tão familiar pontada na cabeça que a perseguia cada vez que ela desconfiava do seu melhor amigo.
- Tão conveniente... ela era uma megera. - A voz de Pettigrew faz Marlene pular de susto, os olhos dele a encaravam com um brilho que ela nunca havia visto antes.
Ele estava com raiva dela.
Ele sabia que ela estava desconfiada.
- Era? - Marlene aperta os olhos, bebericando o uísque que estava no copo de vidro.
- Esse era o meu uísque, eu estava me servindo. - Sirius adverte, mas ela não o dá a mínima atenção, continuava encarando Pedro, claramente incomodado com todo o interrogatório.
- Bom... não sei. - Pedro da de ombros. - Não sei como ela está.
- Morta, cara, você me disse. - Sirius aperta os lábios em incômodo. - Pega pelas costas, a maior covardia que eu já vi.
- Achei que não soubesse, Pedro. - Marlene o pressiona.
- E-Eu... bom... não importa. Quem se importa? - ele da as costas e senta no sofá, parecia em completo pânico.
Lily entra na sala carregando alguns biscoitos de chocolate, o cheiro era inebriante, e arrancou sorrisos de todos da sala.
Abby brincava com o pequeno Harry no chão, faziam a maior bagunça, Sirius observava a movimentação com um grande sorriso no rosto.
- O que aconteceu hoje na reunião com a Ordem? - Lily pergunta.
Os Potter não frequentavam mais as reuniões da ordem da fênix, eles se mantinham escondidos o máximo de tempo que conseguiam.
- Nada. Nada acontece há algum tempo. É tão estranho, é como se a guerra não existisse mais. - Abby comenta.
- É como se ele tivesse desistido, recuado. - Sirius complementa, bebendo mais um gole do seu uísque.
- Isso é bom, não é? - Remo sorri brincando com o cabelo de Lily.
Abby inclina a cabeça, não estava com uma cara nada boa.
- Para mim, parece que o próximo golpe vai doer mais. - Ela murmura. - ele está se preparando, é uma criatura de sangue frio e que não tem amor a nada, se não ao poder. Ele não vai recuar.
Pedro se mexe incomodado no sofá. Faz muito tempo que a marca não o chamava mais, seu mestre não entrava em contato.
A verdade, era que Lord Voldemort havia cumprido a sua promessa, abriu mão de todo o poder que tinha.
Os comensais não atacavam mais.
- O que acham de esquecermos esse assunto? - Sirius sorri. - Eu adoro essa música.
- Eu acho uma ótima ideia! - Lily sorri batucando no braço grosso de Sirius o ritmo de "revolution". - Eu não sei vocês, mas se eu fechar os olhos, eu consigo ver as luzes de Hogwarts! - o sorriso dela se alarga mais.
"We all want to change the world"
- Eu consigo sentir o cheiro de madeira e abóbora que tem por todo o castelo. - James fecha os olhos afundando a cabeça no travesseiro.
- Eu apenas consigo ouvir os sermões e sentir as punições de Minerva McGonagall! Éramos adolescentes tão estupidos. - Remo brinca de olhos fechados. - Não entendo porque o antigo e bondoso Remo Lupin andava com vocês.
"Don't you know that you can count me out?"
- Eu consigo sentir nos meus dedos o mapa do maroto, lembro das pegadas, de como nos divertíamos. Não faz tanto tempo assim, mas parece que já se passaram décadas. - Sirius diz, encostando o rosto no ombro de Abigail. - Lembro de como eu e a minha Abby costumávamos aprontar, das bebidas roubadas.
- Você era o melhor em roubar bebidas. - Abby ri.
- Um dos meus incontáveis dons. - Sirius sente Abigail sendo levada dos seus braços pelas mãos de Marlene, que a rodopiava no ritmo da música.
- Eu lembro de todas as músicas que dançávamos como se fossem a última. - Ela abraça mais a sua amiga, e seus olhos lacrimejavam de saudade. - Imagine só, tão jovens, e pensando na última música que dançaríamos. Cruel, não?
"We're all doing what we can"
Aquela foi a última música que Marlene McKinnon dançou na sua curta e amada vida.
De algum modo, parecia que, ao olhar nos olhos castanhos do seu melhor amigo, seu fim tivesse sido marcado naquela noite.
A vida que ela aproveitou e amou até o último suspiro, havia escorrido nas mãos daquele que ela protegeu com todo o seu pobre coração.
- Não. Não. Não. - Abby encarava Sirius, o mensageiro daquela tão dolorosa notícia.
- Querida... - ele tenta.
- NÃO! - Abby grita. - Ela estava conosco há dias! Você está enganado! Está muito enganado!
Sirius se aproxima dela, a envolvendo em um abraço apertado, as lágrimas escapam como um rio dos seus olhos claros, o nó na sua garganta o obriga a soltar um grito alto, apertando o tecido da camisa de Abigail com toda a força que tinha.
- E-eu... - ele tenta. - Eu vi. Ela e toda a família foram friamente assassinados.
- O Conor... - ela inicia, mas é interrompida.
- Ele disse que os pais dela foram por meio da maldição da morte, você sabe... - Sirius suspira. - E ela... ela morreu depois da quantidade de feitiços desferidos contra o corpo. Não conseguiu resistir.
- Ele vai tirar tudo o que eu tenho. - Abby murmura. - Tom Riddle vai me arrancar tudo aquilo que eu lutei para manter comigo.
Ela se afasta do noivo, claramente abalada, empunha a varinha e calça as botas com uma rapidez admirável.
- Onde você vai, Abby? - Sirius grita enquanto a vê sair de casa. - Abigail! Volta agora! Onde você vai? - Ela o encara por alguns segundos em completo silêncio, e suspira tentando controlar as mãos trêmulas de medo.
- Eu vou tirar o que ele tem. - Abby aparata, deixando o seu noivo sozinho no quintal florido.