Muito além do Amor

By safanysprousehart

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Desde o começo de sua carreira como promotor, Jughead Jones sempre foi guiado pelo seu senso de justiça. Impl... More

Prólogo
capítulo 1
capítulo 2
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 5
capítulo 7
capítulo 6
capítulo 8
capítulo 9
capítulo 10
capítulo 11
capítulo 12
capítulo 13
capítulo 14
capítulo 15
capítulo 16
capítulo 17
capítulo 19
capítulo 20
capítulo 21
capítulo 22
capítulo 23
capítulo 24
capítulo 25
capítulo 26
capítulo 27
capítulo 28
capítulo 29
capítulo 30
capítulo 31
capítulo 32
capítulo 33
capítulo 34
capítulo 35
capítulo 36
capítulo 37
capítulo 38
capítulo 39
capítulo 40
capítulo 41
capítulo 42
capítulo 43
capítulo 44
capítulo 45
capítulo 46
capítulo 47
capítulo 48
capítulo 49
Epílogo

capítulo 18

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By safanysprousehart

QUATRO MESES DEPOIS…

Jughead

Olhava para a mulher sentada na minha frente e, enquanto ela despejava todas as suas angústias, eu só conseguia pensar que, naquele caso, não podia fazer nada. Não podia tirar das drogas seu filho adolescente. Não podia trazer a paz de volta para a sua família. Não podia afastá-lo da morte iminente e do horror que é viver como um fantasma, vagando sobre a terra em busca de um prazer mortal.

Ela secou as lágrimas que rolavam pela face e respirou fundo, a voz ainda tremendo, mas confiante de que eu podia fazer alguma coisa.
— O senhor é minha última esperança, dr. Jughead. Não sei mais o que fazer. Ele levou tudo que eu tinha em casa. Não posso comer porque até o pacote de arroz que tinha sobrado ele tirou de mim. Botijão, panelas, televisão… Um dia eu cheguei do trabalho e minha cama não estava mais lá — sussurrou, e senti vontade de abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas não o fiz. A última vez que abraçara alguém, ela levara meu coração.

— Posso tentar conseguir algumas doações para a senhora — propus, mas ela balançou a cabeça em negativa, e depois sorriu. Um riso triste e derrotado. — O senhor não entende. Prefiro dormir no chão e comer em botecos do que
ajudar a sustentar o vício dele. Por isso prefiro uma casa vazia, de onde ele não possa levar mais nada.

O que via era o desespero de uma mãe que sabia não ser capaz de fazer nada, mesmo que lutasse todas as batalhas para isso. Quando alguém entrava no mundo das drogas, ele não destruía apenas sua
vida. Sua família desmoronava sem ninguém nunca ter posto um cigarro na boca. Aquela mãe estava tão magra quanto o filho, mesmo sem nunca ter
cheirado cocaína. O pai estava destruído, e ele nunca experimentara ecstasy. A irmã estava perdida, mesmo que nunca tivesse tocado em heroína. O corpo que usava era o dele, mas todos à sua volta sofriam as consequências junto.

— Vamos tentar uma internação, dona Elisa. É difícil, ainda mais na idade dele. Precisamos de todo o apoio da família, e mesmo que vocês estejam cansados, é necessário que sejam fortes mais uma vez. Não adianta nada
interná-lo em uma clínica sozinho e sem o apoio de todos. Vai por mim, sem
família é muito mais difícil.

Ela sorriu em meio a mais lágrimas que desciam pelo rosto, uma atrás da outra. Lágrimas de esperança, de alívio. Lágrimas de alguém que enxergou uma luz no fim do túnel. Levantei e ela fez o mesmo. Ia pedir para que falasse com o Fabrício, mas ela
me impediu, vindo até mim.

— Posso te dar um abraço, doutor?
— Claro.
Ela se aproximou e me envolveu em seus braços.
— Que Deus te abençoe e cuide do seu coração. Quando se afastou, eu a olhei nos olhos.
— Só fiz o meu trabalho.
— Não — balançou a cabeça —, o amor nos teus olhos não faz parte da tua profissão. Faz parte de quem o senhor é. — Respirou fundo antes de continuar.

— Dr. Jughead, nós vamos te apoiar, mas saiba que eu também entregaria ele pra
vocês. Lutarei por meu menino, mas se ele desviar ainda mais do caminho, vou rasgar meu coração, mas vou entregar ele pra vocês.

Assenti, sabendo o que ela queria dizer. Nem todas as famílias eram assim, conscientes do que deviam fazer. Muitas escolhiam mergulhar em uma falsa ignorância e fingir que nada estava acontecendo. Mas estava. E precisávamos falar sobre drogas, ou um dia elas nos destruiriam.

Expliquei para dona Elisa quais seriam os próximos passos e a encaminhei para a sala do Fabrício. Ele a recebeu com a competência de sempre, e voltei
para minha sala sabendo que fizera o que estava ao meu alcance. Sol apareceu logo depois que sentei, ainda pensando no filho da dona Elisa.
Onde ele estaria agora?

— Vai almoçar? — perguntou ela, me tirando do transe.
O relógio no canto do computador marcava meio-dia e sequer vira o tempo passar.
— Pode trazer algo pra mim, por favor?
— Posso, mas… — Eu já imaginei Sol dizendo que trazer meu almoço não era seu trabalho e o pedido de desculpa parou na ponta da língua quando ela
continuou. — Devia sair daqui um pouco mais, doutor. Pelo menos na hora do almoço. Nos últimos meses, o senhor tem chegado ainda mais cedo e saído muito mais tarde. Precisa se desvincular um pouco do MP.

— Eu tô bem, é sério — menti.
— Péssimo mentiroso. Tem certeza de que já foi advogado? — provocou ela.
Sorri envergonhado.
— Acho que foi por isso que mudei de profissão.
Ela também sorriu, mas logo o gesto morreu e o rosto voltou a ficar sério.

— Não limite sua vida a isso aqui, ou isso aqui vai acabar com você. — Sol balançou a cabeça de um lado para o outro. — Desculpe a intromissão, mas gosto muito do senhor para concordar com essa sua vontade de fazer parte da decoração da sala. O pedido de desculpas foi sincero, mas ela não se arrependeu.

— Você também é minha amiga. E amigos têm liberdade pra um puxão de orelha de vez em quando. — Por favor — disse com entusiasmo. — Já sou intrometida demais sem
esse tipo de liberdade. Não dê asas a cobra. Balancei a cabeça, rindo. — Só você mesmo, dona Sol. E, para o seu governo, vou sair com Fabrício hoje depois do expediente.

— Ele disse que o senhor não tinha aceitado.
— Bem — inclinei a cabeça —, acabei de mudar de ideia.
Ela manteve uma expressão satisfeita e saiu sem dizer mais nada. Porém, antes de chegar à porta, perguntou, virando-se para mim: — Foi uma mulher? Confirmei com um aceno de cabeça.
— Caminhos opostos.
Ela assentiu.
— Já  pensou em apenas seguir na mesma direção? Às vezes funciona.

Piscou e saiu.
Sentei, recostando na cadeira, pensando em suas palavras e sobre como elas pareciam trazer uma solução simples para os meus problemas. Abri a gaveta e a foto dela estava lá. Eu a encontrara no banco de trás do carro um tempo depois
do julgamento. Devia ter se soltado do processo. E eu deveria tê-la devolvido,
mas não o fiz. Gostava de olhar para ela e imaginar que estaria vivendo uma vida bem melhor, longe de todo o seu passado. Passei o dedo pelo seu rosto, como se a tocasse. Como desejava tocá-la.
Eu ainda pensava em Elisabeth.
E o pensamento nela ainda fazia meu coração acelerar.

(...)

— Sol está preocupada com o senhor.
— Eu sei — respondi a Fabrício. — Aqui é “você”, não “senhor”, tudo bem?
Ele deu de ombros, levando a garrafa de cerveja à boca.
— Sol está preocupada com você.
Sorri.
— Isso já deu pra perceber.
Ele deu de ombros como se dissesse foda-se, fiz a minha parte.

Olhei todas aquelas pessoas ao redor, mas não conseguia agir como elas. Sorrindo, conversando, se distraindo, bebendo. Fora vencido pelo cansaço, por isso estava terminando minha sexta-feira em um bar apenas para mostrar para as pessoas que eu tinha uma vida além do MP, mesmo que isso não fosse a
verdade completa.

Visitava meus pais, sempre que possível estava com Alexandre e Clara e também passeava com Vitória. Acontece que esse não era o tipo de relacionamento que esperavam de mim. Não tivera mais ninguém desde Sofie. A coisa toda não engrenara e eu sabia bem o motivo.
Por causa dela.

Bem… Ela se fora sem que eu tivesse pelo menos a chance de tentar. Queria não pensar em Elisabeth, porque tudo aquilo era loucura. Eu mal a conhecia.
Quer dizer…

Conhecera suas dores, mas não seu coração. Enxergara suas feridas, mas não o que a fazia sorrir. Sabia dos seus medos, mas não o que lhe trazia alegria.

Alcançara apenas a parte ruim, e o pior era que me apaixonara completamente por ela. A primeira vez em anos que meu coração se abrira para alguém que não fosse minha família.

Foi a minha vez de levar a cerveja à boca e tomar um longo gole, desejando que o líquido gelado esfriasse a chama que queimava dentro de mim.

Fabrício mudou de assunto e passou a falar sem parar. Balançava a cabeça de vez em
quando, fingindo interesse no que ele dizia, mas tudo que queria era voltar para casa, ler um livro e me afundar na cama. Nunca havia sido um cara de balada, e
sempre preferira passar minhas noites na companhia de assassinos psicóticos e detetives determinados.

Romances policiais, eis o meu vício. Enquanto Fabrício tecia algum comentário sobre uma nova operação da Polícia Federal, alguém chamou minha atenção. Sorri quando seu cabelo cor de fogo se destacou no meio de tantas pessoas. Como se sentisse meu olhar sobre
ela, Sofie encontrou meus olhos e se prendeu neles. Ergui a garrafa, cumprimentando-a, e ela sorriu de volta.

— Caramba! — exclamou Fabrício, quando minha ex-namorada veio em nossa direção. Bati no braço dele, mas meu assessor continuou olhando para Sofie como se ela fosse de outro mundo. Ela se aproximou e eu levantei para abraçá-la. Seu cheiro continuava o mesmo, assim como o brilho nos olhos quando me encarou.

— Não acredito que saiu de casa — provocou ela.
— Vai por mim, eu também não.
Por alguns longos segundos nos encaramos, a lembrança da última noite juntos vindo à tona. Não vira mais Sofie depois que ela saíra do meu
apartamento naquele dia. Ainda tentara contato, mas ela havia dito que queria um tempo para ajeitar a vida.

Havia feito o que me pedira e me afastara por completo.
No entanto, nosso momento foi interrompido. Fabrício levou a mão fechada à boca e tossiu de forma dramática, chamando nossa atenção. Esquecêramos
completamente dele, e me senti mal por isso.

— Sofie, esse é o Fabrício, meu assessor. — Apontei na direção dele. — Sofie é uma grande amiga.— Essa é Meg, uma amiga — Sofie apresentou a morena ao seu lado.

Ganhei um enorme sorriso satisfeito dela. Um que dizia que ainda podíamos ser amigos. Claro que Fabrício se encantou, não podia ser de outra forma, e terminamos a noite todos juntos. Foi divertido, porque Sofie e eu tínhamos muitas coisas em comum para compartilhar. Ela contou alguns segredos meus de anos atrás e Fabrício quase se virou do avesso de tanto rir.

— É sério, eu cheguei no apartamento e ele tinha dormido de cabeça pra baixo no sofá. — Não acredito! — disse meu amigo.
— Em minha defesa — inter vim —, eu tinha passado quarenta e oito horas sem dormir.

Sofie me olhou com carinho.
— Era seu primeiro grande caso. Estava determinado e apaixonado. Nada apagava aquele brilho nos olhos. Você nunca deixou de correr atrás do que queria. É a sua maior qualidade.
— É — sussurrei, não sabendo como responder ao elogio. Fazia um tempo que não me sentia mais como ela descrevia, e talvez Sofie soubesse disso, pois
me olhava com compaixão.

Quando decidi pedir um táxi, as meninas protestaram. O álcool já começava a bater forte e eu realmente tinha que ir para casa, mesmo que decepcionasse a
todos. Fabrício se ofereceu para acompanhá-las um pouco mais no restante da noite, a atenção sempre voltada para a morena ao lado de Sofie. Elas aceitaram
e eu levantei. Sofie fez o mesmo e me abraçou antes que eu saísse.

— Ainda sinto o mesmo por você — aproveitou o abraço para sussurrar. — E acho que sempre vou sentir. Tive tanta saudade que prefiro ter apenas sua
amizade a não ter nada.
Ela se afastou e a olhei nos olhos. Afaguei seu cabelo, enrolando uma mecha em meu dedo.
— É tudo que eu tenho pra oferecer.Ela assentiu.
— É tudo que eu preciso.

Cheguei ao meu apartamento e caí na cama depois de um longo banho. Sentia-me inquieto, com um peso no coração. Durante o mês em que conhecera
Elisabeth, eu tivera algo que me animava. Almoços num restaurante de shopping
eram a melhor parte do meu dia. Vê-la era a melhor parte do meu dia. Sempre achara que, quando me apaixonasse por alguém, seria por uma colega de
trabalho ou alguma amiga da Manuela.

E ficara esperando a pessoa que roubaria meu coração, a que traria muito mais que sexo, que iria muito além do amor. Mas esse sentimento viera de onde
menos esperava. Em termos éticos, eu sequer poderia pensar em Elisabeth, mas não havia ética e muito menos razão quando o coração batia tão forte a ponto de tirar seu ar.

Ouvi meu celular tocar e levantei para procurá-lo.
Uma mensagem da Clara.

Ela:Tudo certo pra amanhã?

Digitei uma resposta enquanto imaginava o esforço que ela fazia apenas para me mandar uma mensagem que ia contra todos os seus princípios.

Eu:Perfeito.

Ela:Odeio você.

Sorri para sua resposta.

Eu:Não. Não odeia.
Ela:Não, mas queria odiar. Vejo você amanhã…

Pensei em responder, mas me detive ao ver os três pontinhos. Ela ainda estava digitando.

Ela:Te amo!
Eu:Também te amo.

Pelo menos eu teria alguma coisa para me ocupar. Deitei na cama e deixei as imagens de Elisabeth serem substituídas pelas de outra pessoa. A única princesa
que de fato restara em minha vida.

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