Chen Dewei ainda limpava o sangue no canto da boca, que numa insistência magnânima, escorria sem parar. Veja bem, mesmo uma pílula de cura, estava sendo inútil e Huo Liangyi não iria desperdiçar seus talentos com vermes. Ele detestava esse louro e não era um rancor recente.
A frente de Dewei, Shen Zhengyi passou-lhe um lenço.
Eles retornaram para a hospedagem após o incidente, a seita responsável pela região, Yang Wu já estava fazendo seu trabalho. O que restava, não parecia mais possuir relação com eles.
A pousada era luxuosa, custava cerca de cinquenta moedas de ouro por noite. Mas, isso incluía um excelente serviço entre conforto e luxo excedentes.
Cai Xing, como o mais pobre sentado à mesa, estava sentindo-se desconfortável com o preço disso. Mas, tudo pelo gege... Se Zhengyi queria, ele não questionaria. Afinal, não era seu dinheiro.
— Ei rapaz, traga o que tiver de mais forte de suas bebidas. — Cai Xing gritou. — Vocês me acompanham?
— Eu agradeço. — Dewei recusou.
— Dispenso. — Huo LiangYi recusou, arrancando olhares surpresos.
— Shizun? — Cai Xing, embora não parecesse, tinha decoro. Em público, para disfarce ele deveria chama-lo assim.
— Tudo bem. — Shen Zhengyi aceitou, talvez fosse o que mais precisasse.
Não estava de acordo em desenterrar o passado que desejava tanto esquecer.
— Jovem Mestre, isso não é adequado. — Chen Dewei falou e seguidamente, caiu na mira de Cai Xing.
Se um olhar matasse, o homem louro provavelmente estaria no submundo há muito tempo..
— Wei Ge, já lhe disse inúmeras vez, não sou mais seu jovem mestre. — Respondeu rispidamente. — Isso está se tornando cansativo...
— Oh, é isso mesmo 'Wei Ge'...
Cai Xing sorriu, sua cabeça ligeiramente inclinada, encostada na mão e o cotovelo na mesa. Ao mesmo tempo Huo Liangyi revirou os olhos. Estúpido.
— Deveria respeitar os desejos do Jovem Mestre. — A outra mão, Cai Xing usava o indicador para fazer movimentos circulares na mesa. — Então... o Jovem Mestre tem algo a dizer?
— Wei Ge já contou uma parte da história. — Shen Zhengyi iniciou. — Obrigado. — Agradeceu o garçom que trazia as bebidas. — Faz alguns anos que estamos investigando o território do Culto. Quando o encontrei na vila Long estava retornando de lá... — Desviou um pouco do assunto e pausou para se servir. — A elite dos cultivadores está em acordo com o Submundo.
Huo Liangyi fez um selo de mão, invocando uma barreira ilusória de som.
— Suspeitamos que desejam destruir a barreira entre os vivos e os mortos. — Continuou após um gole de vinho.
— Isso é impossível. — Cai Xing retrucou. — Isso iria ferir as leis do mundo.
De certa forma, Cai Xing estava certo. Em teoria, seria mais fácil encontrar um unicórnio colorido de três chifres a trazer o submundo ao mundo terreno.
Embora, aqueles que são determinados, conseguem até mesmo modificar a roda da reencarnação, encontrar uma maneira de destruir isso, requeria muita dedicação e obsessão.
Todos eles estavam cientes desse fato e era por isso que suas costas se arrepiavam quando seus pensamentos guiavam a esta direção.
— Não, não é impossível. — Cai Xing se desmentiu e riu com raiva. — Devia ter refinado os ossos dele junto com o do velho quando encontrei aquela vadia! — Virou de uma vez o copo de álcool na boca.
Havia alguns arrependimentos ocasionais.
— Para alguém que interferiu no curso natural, não é difícil... — Mestre Huo completou.
— O que disse?
— Não é certeza Huo Ge. Acreditamos que foi Chen Jinhai a interferir na reencarnação. Houve muitos casos de ressucitações e troca de almas nos ultimos anos. — Zhengyi falou. — Até meu retorno se deve a ele.. — Suspirou. — Se não fosse por Dewei, eu poderia estar morto.
Porra! E a vida pacífica que ele desejava?
Cai Xing estacionou o olhar no louro, outro copo já estava na boca. Chen Dewei sempre foi assim. Todas as vezes que o nome de seu gege estava na conversa, havia uma admiração sem precedentes por ele. Como se ele fosse um tipo de deus ou algo assim.
Então, constatanto que ele, na verdade, era como um tipo de servo para Shen Zhengyi Cai Xing sorriu internamente e comemorou tanto que faltou pouco para explodir de tamanha felicidade.
— Quanto a você... — O par de olhos azuis encarou Cai Xing, havia muitos sentimentos cobertos pela indiferença e calma que podiam ser vistos pelo outro, mas sem uma autorização, nunca poderiam ser tocados. — Desde que encontrei 'Luo Hang', sabia que não era o garoto.
— Oh!... — Cai Xing encontrou o par de olhos azuis. Seu coração bateu mais forte e, sutilmente, cruzou as pernas por debaixo da mesa. — Achei que fosse uma pessoa menos dócil, sua língua estupidamente coberta pelo mel quase me convenceu.
Os dedos de Cai Xing continuaram a contornar a borda do copo. Ele sorriu.
— Gege é sempre assertivo. É ainda melhor que minha intuição. — Comentou.
— Apenas sou observador. — Respondeu rapidamente, com uma nuance de desespero e logo, outro copo esvaziou por completo.
Depois de um sorriso perverso, o mais novo baixou a cabeça.
"Seria bom um cachimbo de ópio* agora..."
— Voces, poderiam por favor, parar de fl...
De repente, um som estrondoso ecoou. Um grasnado horrível e desafinado cobriu tudo abaixo dos céus.
O refeitório da pousada tornou-se caótico. A estutura da construção se abalou fazendo as pessoas correrem para fora.
Elas gritaram, mas o desespero foi coberto pela voz daquele presságio de caos. Era tão alto e grotesco que incomodava até mesmo os mestres mais poderosos e aqueles com audição mais sensíveis, tornaram-se mais miseráveis
Chen Dewei criou uma matriz de emergência ao redor da mesa em que estavam para amenizar o impacto. Era como se um mestre superior eclodisse sua raiva diante do mundo.
Cai Xing abraçou a pessoa ao seu lado sem perceber.
Houve um toque suave na cintura de Shen Zhengyi e ele pareceu surpreso por essa atitude. Ele então olhou para o outro e notou que a borda dos olhos dele estavam avermelhadas. Seus olhos estavam fechados e ele parecia tremer.
No passado, nunca viu Cai Xing chorar e nesta vida, ele era tão emotivo que não parecia ser a mesma pessoa. Cai Xing tinha mais dor em seu coração do que pensava.
Nesse momento de contemplação, ele reagiu ao abraço de Cai Xing, também o cobrindo pelos lados. Seu coração doía por ele.
No entanto, essa reação era perfeitamente normal, pois Cai Xing conseguia se lembrar de todas as torturas que passou no submundo ao pagar pelos seus pecados. Era exatamente a mesma sinfonia perturbadora que inundava seus ouvidos.
A estalagem estremeceu e ameaçou a cair no meio da confusão. Neste momento pequenas estrelas vermelhas flutuaram acima das pessoas, o ar tornou-se ligeiramente borrado e um sentimento ruim se abateu sobre Zhengyi e ele se virou para Chen Dewei.
Por leitura labial, o louro entendeu a mensagem que deveria ser passada por seu mestre.
— Uma quebra parcial.
Chen Dewei imediatamente quebrou a matriz, uma formação simples não iria fazer efeito. Uma sacola espacial foi jogada em sua frente. No instante em que a tocou ele percebeu que tudo dentro eram pílulas alquímicas de alto nível e já selecionou aquelas que o ajudariam.
Nem sequer ele deu uma segunda olhada para Huo LiangYi e sem demora, fez um selo com as mãos e um círculo mágico cresceu ao redor da pousada, uma matriz de proteção. Uma vez que lançada, ela consumia energia do céu e da terra para se manter e não havia relação com o lançador. Ou seja, mesmo que ela fosse quebrada, não traria danos ao mestre. Para reforço, Chen Dewei cuspiu um gu amaldiçoado no centro da matriz.
Até aquele momento, as outras pessoas não estavam entendendo o que aquela pessoa bonita e assustadora estava fazendo, mas quando o viram tirar um gu de seu corpo todas se afastaram como se tivessem visto um demônio.
Mestres Gu eram ainda considerados piores que demônios. Mas, ele não se importou com a reação de outras pessoas e continuou com aquilo que deveria ser feito.
Chen Dewei vomitou mais sangue. Seus meridianos ligados à garganta estavam severamente danificados devido a alguns problemas anteriores, então ele os acertou e os bloqueou por algum tempo.
Seguido daquele grasnado enlouquecido, uma enorme fonte de luz irradiou por todo lado. Foram apenas alguns segundos, mas cegou a todos e de repente, junto com essa luz, todo o som desapareceu.
Finalmente tudo retornou à normalidade, entretanto, lá fora, o dia tornou-se noite e a luz tornaram-se as trevas. Foi como se tudo não passasse de uma ilusão.
— Porra! — Huo Liangyi sentia uma energia familiar e se levantou rapidamente para fora.
Shen Zhengyi afastou Cai Xing e foi atrás de seu amigo.. O ar estava pesado e úmido, ventos gélidos passavam por entre as casas. A atmosfera era sombria.
— Algo errado Huo Ge?
Ele franziu a testa.
— Vou contatá-lo quando descobrir. Tome cuidado. — Ele balançou as mãos e desapareceu num piscar de olhos.
— O que foi isso? — Cai Xing perguntou ao cambalear para fora, o álcool começando a fazer efeito.
— Não sei.
Cai Xing estreitou os olhos tentando focar, mas por algum motivo, havia três Shen Zhengyi na sua frente.
— Onde está Shibo Huo?
— Ele saiu.
— Isso é mal... — Sua cabeça girou e ele se jogou em Shen Zhengyi, desmaiado.
— Sua tolerância a álcool piorou? — Dewei perguntou, zombando dele. — Quatro copos antes, era como água para ele...
— Vou levá-lo para o quarto.
— Deixe que eu o ajudo, jovem mestre. — O louro deu um passo para frente, a fim de pegar o bêbado, mas um par de mãos o interrompeu, assim como um olhar sinistro e perigoso vindo daquele homem bonito. — Tudo bem... — Ele se rendeu.
Mestre Shen o pegou no colo e Cai Xing se ajeitou como um coala no mais velho. E murmurava algumas coisas estranhas e indecifráveis, além de conteúdo erótico barato, o que fez o outro revirar os olhos inúmeras vezes antes de chegar no quarto.
Assim que Mestre Shen fechou as portas, ele encarou o coala agarrado em seu corpo.
— Você pode parar de fingir agora, Cai Xing.
Dando uma risada, ele saltou para a cama.
— Tudo bem, shizun... — O preguiçoso na cama perguntou.
— O que você queria falar comigo? — Mestre Shen atravessou o quarto até a janela, fechou-a junto das cortinas e sentou-se ao pé da cama.
— Havia alguma possibilidade de Dewei estar investigando as masmorras do culto demoníaco? — Soltou o grampo de cabelo e o guardou, detestava sentir os cabelos presos.
— Não sei dizer exatamente. — Franziu a testa, pensativo. — Desde que entrei em reclusão, não tivemos mais contato e, antes disso, foram seis ciclos lunares. Mas...
Cai Xing esperou por uma resposta.
— Wei Ge estava investigando a família imperial da última vez que nos falamos. Luo Cao também estava o ajudando. Por que pergunta?
— Isso é ótimo. — Cruzou as pernas. — Quando eu disse que perdi algumas memórias era verdade. Elas estão instáveis, mesmo com Chen Xing ajudando, a maior parte delas está quebrada.
Shen Zhengyi não entendia onde Cai Xing — ainda era estranho esse endereço para ele — queria chegar.
— Não confie em Chen Dewei. — Falou diretamente, enquanto se espreguiçava. Se aproximou de Shen Zhengyi.
— Dê-me um motivo. — Perguntou desconfiado.
— Luo Hang... — Era esquisito falar de si, ou de outra pessoa, ah! — Eu, esse corpo... tanto faz! A morte de Luo Hang, tem algo a ver com Dewei. Além disso, assim que encontrei seus olhos... havia algo estranho. — Ele fez uma pausa e encontrou os olhos do mais velho. — E não é por ciúmes.
Shen Zhengyi engoliu a seco. É aquele mesmo olhar, aquele que é incapaz de resistir. Aquele olhar que a pessoa que o faz não sabe quão impotente ele fica ao vê-lo.
— É dificil acreditar. — Por fim, respondeu ainda encarando cada traço e mudança no rosto de Cai Xing, isto é, Luo Hang. — Wei Ge sempre esteve lá para mim.
Não é que ele desconfiasse da atitude dele, afinal a intuição de Cai Xing era aterrorizante e dificilmente estava errada.
— De alguma forma, eu precisaria retornar para casa e prestar respeito aos meus ancestrais. — Falou e desviou o olhar, sentia-se intimidado ao encará-lo tão de perto e continuamente. — Será uma boa oportunidade para testar minhas teorias. Tem muita coisa estranha no Palácio Imperial.
— Proíbo-o de fazê-lo. — Sua expressão dura, não dava margem para negociações. — Sou seu mestre, eu o proíbo. — Falou pausadamente.
Notando que havia algo a mais, Cai Xing sentou-se mais próximo e escorou a cabeça no ombro do outro.
— Sabe que não gosto de meias-verdades, então diga-me o que está em seu coração. — Sua voz sussurrante chegando aos ouvidos de Shen Zhengyi, deixaram-no como uma estátua. — Vou puni-lo se mentir...
— Se for assim, também não posso confiar em seu irmão mais velho. — Retrucou com uma leve zombaria.
— Luo Cao? Aquele que se torna um imbecil perto de você, certo? — Cai Xing se lembrava desse irmão mais velho. Aquele que era muito próximo do garoto, mas se afastou de repente. — Gege... uma vez ele me repreendeu e eu fiquei excitado. Pode ser considerado incesto?
Shen Zhengyi virou o rosto, ficando muito próximo do outro.
— Concentre-se. — Repreendeu e voltou o olhar para as próprias mãos.
— Certo. Um motivo, apenas um motivo para que eu não vá. — Com um olhar questionador, Cai Xing o afrontou.
— Você vai se machucar de novo... provavelmente.
— Provavelmente? — O mais novo, começou a passar a mão pelos cabelos do outro com delicadeza.
— Não. Com certeza. — Ele deu uma risada amarga. — Isso está mais claro agora que descobri sobre você. Querem usá-lo para algo.
— Não deixarei isso acontecer, apenas gege pode usar meu corpo.
Mestre Shen suspirou.
— Este corpo, assim como a pessoa dentro dela, tem assuntos a tratar com a família Luo. Eu serei cuidadoso... — Ele largou os cabelos e segurou a cintura do outro, por trás, colocando o ouvido nas costas de Zhengyi. — Quanto ao que vier, devo tratar um assunto de cada vez. Deixe o futuro para o futuro.
— Quão despreocupado... — Fez uma breve pausa. — É realmente você....
Cai Xing riu.
O cômodo ficou em silêncio. O refeitório da taverna lá embaixo atraía a atenção de ambos, colocando-os pensando em muitas situações, mas também em absolutamente nada.
Era também muito constrangedor ficar no escuro, abraçados e sedentos um pelo outro sem poder fazer nada.
— É a primeira vez que conversamos normalmente. Sempre estávamos brigando, discutindo e fugindo... — Mestre Shen quebrou o silêncio. — Isso, agora... é muito bom.
— Sem amarras... gosto muito disso.
Shen Zhengyi sentiu algo molhar suas costas e sorriu.
Foi essa pessoa a quem desejou conhecer no passado. Seu verdadeiro Cai Xing. E ele chorou também, felicidade e tristeza reunidos.
— Gege, seu coração está batendo tão forte. — Cai Xing sussurrou, a voz reprimida.
— Sim, eu sei. — Não consigo controlar isso.
— O meu também está, mas é a primeira vez que sinto calma. Na verdade, eu menti que queria apenas falar com você... queria olhá-lo mais de perto. E pedir perdão por ser egoísta, gege não deveria... — Engoliu as palavras por um instante.
Shen Zhengyi segurou suas mãos, cobrindo-as com as suas.
— Fui tão patético e egoísta...
— Você não é assim. Se fosse considerar alguém assim... — Essa pessoa seria eu.
— Então estou implorando para que não se afaste de mim. — Sua voz suplicante — Quero me redimir com você.
O mais velho ficou em silêncio por algum tempo antes de lhe dar uma resposta adequada.
— Não vou. Então, não vá para longe também. — Apertou as mãos de Cai Xing. — Também preciso do seu perdão.
Mestre Shen olhou para trás, Cai Xing já havia dormido. Provavelmente não escutou as últimas palavras, era melhor assim, se arrependeu uma vez que as disse em voz alta.
Ele o ajudou a deitar-se e cobriu seu corpo com um cobertor macio. Protegeu o quarto dele antes de sair com alguns arranjos mágicos e barreiras e verificou mais uma vez.
Era realmente ele.
Cai Xing.
Naquela época que reencontrou Luo Hang não sabia como, mas sabia que não era a mesma pessoa. Com o tempo, ele percebeu que havia comportamentos muito diferentes daquele jovem cultivador imprudente.
Mas foi durante sua meditação, que começou a perceber as semelhanças e tudo se confirmou com a espada amaldiçoada.
Quando correu até o Vale da Fantasia, ele riu e chorou sozinho. Pediu aos céus que não fosse uma esperança falsa e perdida, mas quando viu Cai Xing com as mãos em Cheng Xing teve certeza. Aquela espada desgraçada só aceitaria Cai Xing ou algum descendente dele, era a maldição que a espada tinha além de corromper a alma. E, Cai Xing não teve descendentes. Só restava o óbvio.
Era realmente ele.
Assim que passou pela porta, alguém o esperava no final do corredor. Era 'Chen Dewei'.
— Conversaram bastante. — Seu tom era ríspido.
— Não se intrometa, Wei Ge! Sei que deseja o melhor para mim, mas não preciso de todo esse cuidado... — Zhengyi estava exausto. — Quando se trata de Cai Xing e eu, porque me colocar contra ele?
— Não é...
— Não quero justificativas. — Respondeu irritado. — Parece outra pessoa quando fala assim... — Ele caminhou até o seu quarto. — Deveria ir descansar.
Chen Dewei o encarou.
— Desculpe.
Não houve uma segunda resposta e a porta do quarto foi fechada, restando apenas uma alma na escuridão com uma expressão transbordando raiva.
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notas da autora: ciúmes de amigo ou será que...
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