63. A Redenção da Bruxa

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— O quê?! — O garoto esmurrou a madeira e forçou a maçaneta tentando abri-la. Não estava acreditando no que estava acontecendo.

— O que aconteceu? — Patrícia perguntou.

— Eles trancaram a porta.

— Como assim "eles"?

— César talvez não queria que nós entrássemos e a bruxa muito menos ainda. — Ele se afastou e observou ao redor. — Vamos ter que dar a volta. Vamos!

Cora abriu um sorriso ao perceber o que o bruxo tinha feito.

— Olha — ela debochou —, pelo menos concordamos em alguma coisa.

— Será melhor assim — disse, voltando a erguer as espadas. — Não quero que eles se machuquem.

— E não quero que eles me atrapalhem! — Ela avançou contra ele, desferindo diversos golpes violentos.

O homem os bloqueou, mas estava sentindo uma forte exaustão querendo tomar o seu corpo. A bruxa era realmente boa e não estava ali para brincadeiras. Ele avançou contra ela também. Conseguiu rasgar parte do seu vestido e fazer um corte acima do seu cotovelo. A bruxa não deixou barato e rasgou sua bochecha, além de fazer um corte um pouco mais profundo em seu braço esquerdo.

Eles seguiram se digladiando. 

Cora recuou e correu em direção à sala de estar. César foi atrás dela, desferindo diversos golpes contra a bruxa. Estava meio difícil de manter a promessa que fez a Yasmim. Se baixasse a guarda, Cora com certeza não o pouparia.

O bruxo recuou, arfando, a bruxa também. Os dois estavam exaustos, mas nenhum deles queria desistir. César ainda tinha esperança de fazê-la mudar de ideia, de fazê-la lutar ao seu lado e não contra ele.

— Cora, não percebe o que está fazendo? — tentou dizer, ofegante. — Ajudando um demônio a destruir nosso mundo! Sua família não vai estar segura... e se nossa família estivesse aqui, eles sentiriam vergonha de você.

Ela deu um riso de escárnio, enxugando a testa com o braço.

— Engraçado você dizer isso... O homem que se apaixonou por um de seus carrascos!

César franziu o cenho.

— Do que você tá falando? Como... — Percebeu o receio tomando o rosto da bruxa. — Como você sabe que eu me apaixonei por uma Silveira?

— Eu... — Ela baixou os olhos, não queria falar sobre aquilo, não assim. — Não interessa. Vamos lutar!

— Não! — bradou. — VOCÊ VAI ME RESPONDER, AGORA!

Cora respirou fundo, sentindo suas lembranças chegando até ela. Seus olhos ficaram levemente úmidos com a dor das palavras que estava prestes a evocar. Era como se ela pudesse sentir tudo ao seu redor, inclusive o pacto... O pacto de sangue estava ali, por um fio, prestes a se romper. Ia ser a qualquer momento. Ela precisava dizer a verdade para César... Aquele segredo... Estava corroendo-a por dentro.

— Eu... — começou. — Eu encontrei seu pai uma vez. Depois que ele saiu do casarão, ele me procurou. Ele falou que tinha deixado você pra trás e disse para que eu cuidasse de você.

A menção ao pai fez os olhos de César tremerem. Eles ficaram levemente úmidos com as lembranças dolorosas do abandono chegando até ele.

— Coisa que você não fez — o bruxo respondeu, seco.

— Não. — Ela balançou a cabeça. — Ele pediu que eu levasse uma bruxa até você. Ele disse que o Contrato ajudaria ela a gostar de você. E aí você poderia ter um filho com ela e...

Chaves Tropicais [✔]Where stories live. Discover now