53. Uma Chave Espiã

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Cora caminhou até a porta da frente, rapidamente, antes que Gael a arrombasse. Assim que a abriu, se deparou com o demônio em um estado deplorável.

— Mas o que aconteceu com você? — perguntou.

— Foram os Silveira — disse, entrando e esbarrando em seu ombro.

Yasmim, que estava dentro do quarto, deixou a caixa em cima da cama e se aproximou da porta. Agarrou a maçaneta e a girou, mas a mesma não abriu. Estava trancada. Por que estava trancada?

— Vovó?! — chamou.

Gael levantou a cabeça ao ouvir a voz.

— Quem está aqui? — perguntou. — A voz dela me parece familiar.

— É a minha neta. — Cora disse, apressadamente. — Não se preocupe, está no quarto. É melhor irmos até a cozinha.

A bruxa puxou o demônio e o fez sentar-se em uma cadeira, antes que fizesse mais perguntas sobre sua neta.

— Vovó? — Yasmim bateu na porta e tentou forçar a tranca. — A senhora tá fazendo alguma brincadeira? Por que trancou a porta?

A idosa nem conseguia ouvi-la. Enquanto examinava o demônio, havia notado os fios de sangue seco que escorriam de suas orelhas.

— O que houve com seus ouvidos? — indagou.

— Os Silveira... Eles... usaram uma chave que é uma espécie de apito — respondeu. — O som é horrível. Causa uma agonia extrema.

— Mas você consegue ouvir, não é? — perguntou, analisando seus ouvidos de perto.

— Sim, mas com um zunido infernal também. — Ele enfiou um dedo na orelha, coçando. — Dê um jeito logo nisso, bruxa.

— Deve haver uma poção de cura por aqui, um minuto. — Cora se virou para os seus armários, procurando.

— E não se esqueça das mãos. — Ele mostrou suas palmas para ela.

— Céus! Você pôs as mãos em uma chapa quente, foi? — A mesma ficou boquiaberta ao ver as feridas dele.

— Mais ou menos. — Deu um risinho sádico.

— Enquanto eu procuro aqui, você deveria me dizer o que foi que aconteceu — Cora propôs.

No quarto, Yasmim tentou chutar a porta mais uma vez, mas não adiantou em nada. Tinha alguma coisa errada ali, podia sentir.

— Vovó! — Bateu na porta e gritou mais uma vez. Por que não estava respondendo? Será que tinha acontecido alguma coisa? Será que o professor estava ali? Precisava fazer alguma coisa!

Virou-se para a janela e caminhou até ela. Poderia pular facilmente dali. Por sorte, sua avó não tinha instalado grades. Ela passou uma perna por cima da janela e subiu. Estava prestes a passar a outra quando um pensamento passou por sua cabeça.

E se sua avó não tivesse em perigo? E se tivesse trancado ela de propósito no quarto? O que ela estava tentando esconder?

A adolescente passou as pernas de volta e entrou no quarto. Só havia um meio de descobrir. Yasmim puxou seus cabelos cacheados para cima e os prendeu em um coque mal feito. Sentando-se na cama, puxou a corrente do pescoço e segurou a Chave da Alma. Ela levantou sua camisa, deixando a fechadura à mostra e, enchendo-se de coragem, encaixou a chave ali.

Seu corpo tombou para trás e sua alma saiu flutuando no ar. A garota se voltou para a porta e a atravessou. Seguiu pelo corredor, acompanhando as vozes que pareciam vir da cozinha.

Chaves Tropicais [✔]Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon