21. A Chave dos Mundos

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Thiego ainda estava atônito com o ocorrido.

— E-Eu, é... — começou a gaguejar e olhou para a garota desmaiada ali. — O que... O que você fez com a Yasmim?

— Nada demais. É só um feitiço de sono, mas você — ele cruzou os braços no peito — o que pensa que está fazendo contando para a garota sobre o segredo da família?

— A Yasmim é minha amiga. Eu confio nela. Além disso, eu acho que ela pode estar envolvida nessa história toda. Ela também tem uma chave! — Ele pegou o objeto em cima do livro e mostrou para o homem.

César estreitou os olhos para analisá-lo melhor.

— Mas essa chave é de vocês mesmo! — disse. — Eu acho que me lembro dela do livro da família. Eu só não me recordo o nome agora...

— Viu? É por isso que tenho que contar a ela. Ela tem que saber a verdade!

— Eu não acho isso — discordou. — A chave é de vocês. Vamos ficar com ela e apagar a memória da garota.

— O quê? Não! Não podemos sair apagando a memória das pessoas assim, César! A Yasmim disse que a avó dela tinha dado o colar com a chave para ela.

— Então, a avó dela é uma ladra. Temos que apagar a memória dela também.

— César. — O garoto não sabia mais como argumentar com ele. Parecia que para os bruxos tudo se resumia em apagar memórias. — Eu não acho que devemos fazer as coisas desse jeito.

O homem deu um suspiro.

— Eu sei que gosta da sua amiga, mas é preciso — arguiu. — Essas coisas devem ser mantidas em segredos... E acredito que se sua irmã estivesse aqui ela também concordaria comigo.

O adolescente soltou um suspiro, desanimado.

— O resto das pessoas não podem saber sobre a existência das chaves, Thiego — César o avisou. — Isso pode ser muito perigoso para vocês.

— Mas Yasmim jamais falaria nada. Ela é uma boa pessoa.

— A natureza dos mortais é a mesma, Thiego — disse, sério. — Eles não mudam assim. A descoberta da magia desperta ganância neles. E eles estão sempre à procura de formas de poder. Isso nunca mudou.

— Mas eu também sou mortal, esqueceu? — argumentou. — E Thábata também é.

— Mas vocês são diferentes. As chaves são suas responsabilidades. Sua família as criou.

— Então, cabe a nós escolhermos o que fazer com esse conhecimento e não a você!

César descruzou os braços e soltou um suspiro, exasperado.

— Ok, faça o que achar melhor, Thiego — disse, à contragosto. — Acontece que eu já vi isso antes. Um mortal descobrindo sobre a magia e se deixando consumir por isso. Espero que esteja certo, ou então, isso pode lhe custar bem caro.

O garoto concordou com a cabeça, decidido.

— Além disso — César disse, se aproximando. — Não posso obrigar vocês a fazerem algo, não é? Em teoria, sou eu que devo obediência aqui, certo?

Aquele último comentário mexeu com o adolescente. Era como um cutucão em uma ferida,  lembrando a ele que sua família havia escravizado a do bruxo. Apesar de ter "ganhado" a discussão, Thiego sentiu que tinha perdido em algum ponto. O empregado se inclinou em direção ao ouvido de Yasmim, mas antes, ergueu seus olhos para o garoto.

— Espero que esteja certo disso — murmurou. Então, se virou para Yasmim e sussurrou em seu ouvido: — Acorde.

A garota abriu os olhos lentamente. César se levantou e se afastou um pouco. O adolescente ajudou Yasmim a se endireitar na cadeira. Ela estava completamente confusa, não tinha entendido o que tinha acontecido ali.

Chaves Tropicais [✔]Where stories live. Discover now