66. Um Mundo Perfeito

27 7 18
                                    

Gael continuava recuando, cada vez mais cansado. Por mais que tentasse, não conseguia chegar ao nível do bruxo e daquelas malditas correntes e, por um momento, sentiu o medo começar a tomar conta de si. César avançava cada vez mais e o demônio temia por perder a batalha.

Rapidamente, recuou ainda mais. Enfiou a mão dentro do casaco e puxou a Chave Apito, levando-a até sua boca. O som agudo que saiu da chave atingiu o bruxo em cheio, que ergueu as mãos às orelhas. As correntes desfaleceram no solo, enquanto César se encolhia, caindo de joelhos no chão.

Gael, vendo que seu fôlego estava chegando ao fim, preparou-se para desferir uma onda de energia com a espada. O bruxo percebeu aquilo e, juntando todas as forças que ainda tinha, agarrou a ponta das correntes — dando vida a elas — e as jogando na direção da espada. O golpe que acertou a mão do demônio lançou a lâmina para o alto.

Thiego ergueu os olhos para cima e viu a espada girando no ar, vindo em sua direção. Ele agarrou o objeto com as duas mãos e se deparou com Gael correndo até ele. O garoto desferiu um golpe no ar e uma onda de energia fraca correu na direção do demônio, acertando sua outra mão e lançando a Chave Apito para longe.

Ele desviou os olhos para o bruxo e notou que o mesmo ainda estava de joelhos no chão. A chave deveria tê-lo machucado muito. Voltou os olhos para o demônio, que se aproximava lentamente dele, e ergueu a espada em sua direção.

— Calma, calma, garoto. — Gael levantou as mãos, mostrando que não estava armado. — Você não quer fazer isso. Você não quer me machucar, quer? Se usar a espada contra mim, acabará machucando o seu professor.

— Se afasta! — Thiego gritou, dando uns passos para trás. 

Ele notou que estava bem próximo da beira do terraço, que tinha um muro baixo. Se Gael se aproximasse mais poderia derrubá-lo dali. O único jeito de se defender seria usando a Espada Armageddon, mas se fizesse isso acabaria matando Marcos no processo.

— Thiego — o demônio ronronou —, não faça isso. Me entregue a espada.

— Não! — Gael deu um suspiro forte e o adolescente percebeu que a coroa que ele usava ganhou um leve brilho dourado. Um sorriso malicioso se prendeu aos lábios do homem ao encará-lo.

— Por favor, Thiego — disse, erguendo uma mão para ele. — Eu sei o que você deseja. Eu sei o que há dentro do seu coração. Eu posso trazê-los de volta!

— O-O q-que você tá falando? — O garoto piscou, preso por aquelas palavras.

— Eu sei sobre seus pais — continuou. — Sei que eles morreram, mas podemos mudar isso... Juntos. A espada rasga o espaço-tempo, Thiego. Eles ainda estão lá, no passado. Eu posso trazê-los de volta. Posso trazê-los para cá. Tudo que você precisa fazer é me entregar a espada.

— Não dê ouvidos a ele! — César gritou, do outro lado. O bruxo já conseguia ficar de pé, mas ainda parecia um pouco fraco, já que suas correntes continuavam inertes no chão.

Gael olhou para trás, para César, com desprezo, e se virou para o adolescente com um sorriso sem dentes no rosto.

— Escute o bruxo que quase não conhece sobre magia — deu alguns passos na direção do garoto —, ele deve ser um expert, não é? Você sabe o que você quer, Thiego. Não deixe os outros decidirem por você. Me deixe realizar seu desejo. Tudo que você precisa fazer é me entregar a espada.

As palavras do demônio eram completamente tentadoras. Ele podia vê-los? Podia ver seus pais novamente? Podia trazê-los ali? Em um mundo de demônios, bruxas e chaves mágicas, aquela possibilidade não parecia tão absurda. Foi então que seus olhos se desviaram para o bruxo. César balançou a cabeça negativamente, confirmando que não era possível ou então, tentando dizer para o garoto não fazer aquilo.

Chaves Tropicais [✔]Onde histórias criam vida. Descubra agora