17. As Memórias do Inimigo

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Gael entrou em uma sala com uma placa na entrada que dizia "Sala de Restauração". Cora acelerou os passos para poder alcançá-lo e, quando conseguiu, lhe fez uma pergunta:

— Como assim uma poção? — Ela o seguiu até o centro da sala.

— Você é surda? — Ele se virou para a bruxa, irritado. — É isso mesmo, uma poção! Agora coloque os ingredientes sobre a mesa.

A senhora fez uma cara feia para ele, mas o obedeceu. Tirou as pequenas garrafas e ervas que trouxe consigo, além de umas coisinhas a mais e as pôs todas sobre o móvel. Observou os ingredientes em cima da mesa por um tempo até chegar a uma conclusão.

— É uma poção de memória?!

— Pontos para a bruxinha!

— Por que você precisa de uma poção de memória? — Ela estreitou seus olhos para ele.

— Ai, Cora — o professor suspirou. — Eu deveria contar a você, não é? Afinal, somos parceiros. Mas eu não vou fazer isso.

— E por quê? Acha que eu vou atrapalhar o seu plano?

— E o que você acha que é o meu plano? — ele indagou. — Acha que é apenas assustar pessoas, matá-las e roubar corpos ao meu bel prazer?

— Eu imagino que seja. Você não é um louco, assassino e ladrão de corpos?

Gael sorriu com a resposta.

— Não. O meu plano é bem maior que isso. — Ele deu um passo em direção à bruxa. — E, infelizmente, você não vai saber. Agora prepare a poção.

Cora suspirou e se virou para os ingredientes. Pegou algumas das ervas e começou a amassá-las no pilão. Enquanto preparava a poção, uma ideia lhe veio à mente.

— Gael? — o chamou.

— Sim? — ele respondeu, se sentando em uma cadeira e colocando os pés em cima da mesa em que ela trabalhava.

— Como sabe sobre a poção da memória? — A idosa encarou o homem, que encarou de volta com os olhos afiados. Esticado na cadeira, o homem colocou as mãos atrás da cabeça e olhou para o teto.

— Por que você quer saber?

— Sei lá. — Deu de ombros. — Pensei que era um conhecimento que só as bruxas tinham.

— Não. — Ele revirou os olhos, entediado. — Estudei sobre magia por alguns anos. Era parte do meu plano para... — Ela prendeu a respiração, ansiosa. — Espera um pouco. Eu sei o que está fazendo. — Gael sorriu, encarando a bruxa. — E eu não vou contar pra você.

Droga, tinha chegado tão perto! Precisava usar outra tática.

A senhora misturou o líquido esverdeado de um das garrafas ao pilão.

De repente, algo tão simples veio à sua mente que ela acabou sorrindo por não ter pensado naquilo antes. O homem sentado na cadeira percebeu aqueles lábios envelhecidos se contorcendo em um sorriso e não gostou nada daquilo.

— Por que está sorrindo? — questionou, desconfiado.

— Hum... Nada. — O sorriso dela ficou cada vez mais largo.

— Ok, eu quero rir também. Me diga agora: qual é graça?

— Ah, Gael... — A bruxa colocou mais um ingrediente ao pilão. — Eu estava pensando aqui com os meus botões e percebi uma coisa... Você nunca preparou uma poção de memória antes, não é?

Ele franziu o rosto. Cora obteve sua resposta.

— Sabe que no minuto que tomar a poção sua mente será levada até a memória que deseja ver e seu corpo vai ficar aqui. Comigo. Vulnerável.

Chaves Tropicais [✔]Where stories live. Discover now