6. Uma Casca Valiosa

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Gael queria sair explorando o apartamento e aprendendo alguma coisa do seu hospedeiro antes de por seu plano em prática. Mas, primeiro, precisava tomar um banho. Encontrou uma toalha na área de serviço e, depois de abrir várias portas, achou o banheiro.

Arrancou suas roupas e as jogou no lixo. Ligou o chuveiro e ficou muito tempo lá, se lavando e experimentando todos os produtos que tinham na prateleira do box.

Depois de quase vinte minutos lá dentro, Gael saiu com a toalha amarrada na cintura. Ele foi até o quarto de Marcos e caminhou até um espelho grande que havia na porta do guarda roupa. Ao observar sua imagem, ficou impressionado com o físico da sua casca. Não era um cara incrivelmente malhado, mas tinha o corpo um pouco forte. O peitoral marcado denunciava que poderia fazer algum tipo de exercício, afinal.

E ele nunca esteve tão feliz com isso. Depois de ficar pulando de corpo em corpo, normalmente de pessoas velhas e deprimentes, finalmente tinha achado uma casca decente. É claro que o fato de estar emocionalmente instável ajudou na possessão — uma sorte que não tinha há tempos.

Gael deslizou a porta do guarda roupa para o lado e analisou o vestuário do seu hospedeiro. Infelizmente, não tinha nada que o agradasse ali. No entanto, ao esquadrinhar o interior do móvel, viu algo reluzindo em um canto. Ele se abaixou e pegou o objeto, levantando-o para cima.

Era um par de algemas.

— Hum, mas que safadinho... Eu adorei.

Ele jogou o objeto lá dentro e voltou sua atenção para as peças de roupas. Pelo visto, o único defeito que Marcos tinha era não saber se vestir bem. Infelizmente, Gael não tinha muito o que fazer e teve que escolher o menos pior: uma camiseta preta e calça jeans.

Depois de se arrumar, foi até a cozinha e abriu a geladeira em busca de algo para comer. Não havia muita coisa ali. Fechou o eletrodoméstico e abriu os armários nas paredes, encontrando algumas besteiras comestíveis.

Gael levou tudo para a sala e se jogou no sofá, devorando uma coisa de cada vez. Depois de aprender a mexer no controle remoto e na TV, ligou o aparelho, tentando assimilar um pouco mais daquele mundo atualmente.

Como era curioso aquele tempo, pensou. Conforme passava os canais e via um pouco da programação, notava que não teria muito trabalho em destruir os humanos. Afinal de contas, eles mesmos já tinham começado isso: destruíam o planeta, atacavam a própria raça, se odiavam, faziam guerras... Escória. Todos lixos. Todos iriam sucumbir a ele e aos seus irmãos, mais cedo ou mais tarde.

O pensamento lhe roubou um sorriso cínico. 

De repente, ouviu um barulho na porta da frente do apartamento. Ela se abriu com um rápido movimento e um rapaz de cabelos castanhos escuros entrou. Carregava uma mochila nas costas e uma bolsa grande nas mãos.

— Amor?! — exclamou, com um sorriso aberto, mas que logo foi desaparecendo.

Gael se sentou rapidamente, nervoso.

— Oi, amor — respondeu, lembrando-se dele. Era o rapaz da memória do carro. Sim, era ele mesmo! Pensou. Aquele homem tinha um relacionamento com seu hospedeiro. Mas que ótimo!

— Eu vou logo avisando — o rapaz disse, olhando para o sofá. — Eu não vou limpar essa bagunça.

Gael desviou os olhos para onde o jovem apontava e percebeu a sujeira ao seu redor.

— Não. Eu limpo. — Tentou sorrir. — Tudo bem.

— Ótimo. E você pode me ajudar? — Ele olhou para a bolsa.

Chaves Tropicais [✔]Where stories live. Discover now