Yasmim caminhava pela calçada tomando o cuidado para não derrubar o bolo da bandeja. Sua mãe havia acabado de cozinhá-lo. Como sua avó havia ligado para elas dizendo que precisava da ajuda da neta para alguma coisa, ela aproveitou para mandar o bolo por Yasmim. A garota nem reclamou. Fazia um tempo que não via a avó e adorava passar as tardes com a mesma, lanchando e ouvindo suas histórias.
Assim que virou a esquina, avistou a casa da senhora. Cumprimentou alguns vizinhos que estavam sentados em frente as suas moradias e seguiu até a residência dela. Subiu os dois degraus que iam até a porta e equilibrou o bolo nos braços para tocar a campainha.
Acabou apertando o botão com o cotovelo.
A avó apareceu alguns segundos depois.
— Yasmim! — a idosa disse, radiante, assim que viu a neta.
— Oi, vovó — respondeu, com um sorriso largo.
— Entra. Pode colocar o bolo no balcão.
A adolescente limpou os pés no tapete e levou o bolo até a cozinha, colocando-o sobre a bancada. Ela passou um pano nas mãos e foi até a avó, dando-lhe um abraço.
— Como a senhora está? — perguntou.
— Eu estou bem, minha neta, estou bem.
— O que a senhora tá precisando? Algum problema no computador de novo?
— Não, não é isso. Por que você não se senta? — Sua avó praticamente a empurrou em cima da cadeira. — Eu vou pegar um cafezinho pra você. Eu fiz salgadinhos de queijo ontem. Aposto que vai gostar.
— Ah, tá bom.
Yasmim queria ajudar a avó, mas sabia que se levantasse dali, ia acabar ouvindo dela. A senhora era o tipo de pessoa que odiava receber ajuda. E, além disso, ela nem precisava. Mesmo tendo oitenta e dois anos, sua avó aparentava ter sessenta ainda. Era cheia de vitalidade. A garota nunca se lembrou de uma única vez de tê-la visto doente. Era quase como mágica.
Ela colocou os salgadinhos em cima da mesa e tirou a toalha de prato que os cobria. Trouxe duas xícaras e serviu o café direto da garrafa. O vapor que saía do líquido escuro chegou até as narinas da garota. O café da sua avó era a coisa mais gostosa do mundo.
— Obrigada — ela disse. A idosa sorriu para ela.
Yasmim comeu um salgado e tomou um pouco de café. Ela tinha notado que sua avó a estava enrolando, mas não queria pressioná-la. Comeu mais alguns salgados e tomou um pouco mais de café. Elogiou a comida e a bebida e depois de alguns minutos, achou que era o momento para questioná-la.
— Então, vó. O que aconteceu?
O sorriso que ela sustentava na frente da neta foi desaparecendo aos poucos. A idosa se lembrou do último pedido de Gael antes dele sair de sua casa.
"Fazer uma visita a uma certa família", dissera. Ele tinha saído e estava prestes a fechar a porta, quando se voltou para dentro com o rosto sério. "Não se esqueça da Chave da Alma".
"Você disse que não machucaria minha família. Está sob o pacto de sangue, lembra?", ela respondera.
"Eu sei disso. E você também está. Prometeu me ajudar. E eu preciso dessa chave. Vai pegá-la pra mim ou você quer que eu pegue?".
"Não", retrucou, séria. "Eu pego a chave pra você".
Ele dera aquele sorriso perverso novamente.
"Assim é melhor".
Cora tentou se concentrar na neta e naquela situação. Não sabia como faria aquilo, mas precisava ser forte.
YOU ARE READING
Chaves Tropicais [✔]
FantasyApós perderem sua família, os irmãos Thiego e Thábata acabam herdando um sinistro casarão numa cidade que nunca ouviram falar. Escondidos entre suas paredes, habitam mistérios que sussurram para eles, clamando para serem descobertos. Ao mesmo tempo...