14. O Tempo e a Chave

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Yasmim caminhava pela calçada tomando o cuidado para não derrubar o bolo da bandeja. Sua mãe havia acabado de cozinhá-lo. Como sua avó havia ligado para elas dizendo que precisava da ajuda da neta para alguma coisa, ela aproveitou para mandar o bolo por Yasmim. A garota nem reclamou. Fazia um tempo que não via a avó e adorava passar as tardes com a mesma, lanchando e ouvindo suas histórias.

Assim que virou a esquina, avistou a casa da senhora. Cumprimentou alguns vizinhos que estavam sentados em frente as suas moradias e seguiu até a residência dela. Subiu os dois degraus que iam até a porta e equilibrou o bolo nos braços para tocar a campainha.

Acabou apertando o botão com o cotovelo.

A avó apareceu alguns segundos depois.

— Yasmim! — a idosa disse, radiante, assim que viu a neta.

— Oi, vovó — respondeu, com um sorriso largo.

— Entra. Pode colocar o bolo no balcão.

A adolescente limpou os pés no tapete e levou o bolo até a cozinha, colocando-o sobre a bancada. Ela passou um pano nas mãos e foi até a avó, dando-lhe um abraço.

— Como a senhora está? — perguntou.

— Eu estou bem, minha neta, estou bem.

— O que a senhora tá precisando? Algum problema no computador de novo?

— Não, não é isso. Por que você não se senta? — Sua avó praticamente a empurrou em cima da cadeira. — Eu vou pegar um cafezinho pra você. Eu fiz salgadinhos de queijo ontem. Aposto que vai gostar.

— Ah, tá bom.

Yasmim queria ajudar a avó, mas sabia que se levantasse dali, ia acabar ouvindo dela. A senhora era o tipo de pessoa que odiava receber ajuda. E, além disso, ela nem precisava. Mesmo tendo oitenta e dois anos, sua avó aparentava ter sessenta ainda. Era cheia de vitalidade. A garota nunca se lembrou de uma única vez de tê-la visto doente. Era quase como mágica.

Ela colocou os salgadinhos em cima da mesa e tirou a toalha de prato que os cobria. Trouxe duas xícaras e serviu o café direto da garrafa. O vapor que saía do líquido escuro chegou até as narinas da garota. O café da sua avó era a coisa mais gostosa do mundo.

— Obrigada — ela disse. A idosa sorriu para ela.

Yasmim comeu um salgado e tomou um pouco de café. Ela tinha notado que sua avó a estava enrolando, mas não queria pressioná-la. Comeu mais alguns salgados e tomou um pouco mais de café. Elogiou a comida e a bebida e depois de alguns minutos, achou que era o momento para questioná-la.

— Então, vó. O que aconteceu?

O sorriso que ela sustentava na frente da neta foi desaparecendo aos poucos. A idosa se lembrou do último pedido de Gael antes dele sair de sua casa.

"Fazer uma visita a uma certa família", dissera. Ele tinha saído e estava prestes a fechar a porta, quando se voltou para dentro com o rosto sério. "Não se esqueça da Chave da Alma".

"Você disse que não machucaria minha família. Está sob o pacto de sangue, lembra?", ela respondera.

"Eu sei disso. E você também está. Prometeu me ajudar. E eu preciso dessa chave. Vai pegá-la pra mim ou você quer que eu pegue?".

"Não", retrucou, séria. "Eu pego a chave pra você".

Ele dera aquele sorriso perverso novamente.

"Assim é melhor".

Cora tentou se concentrar na neta e naquela situação. Não sabia como faria aquilo, mas precisava ser forte.

Chaves Tropicais [✔]Where stories live. Discover now