41. Um Terrível Infortúnio

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Patrícia bateu com os nós dos dedos no batente da porta. César, que estava arrumando a cama de casal no quarto de hóspedes, ergueu o olhar para a entrada. A advogada sorriu para ele.

— Oi — ela disse.

— Oi.

— Posso entrar?

— Claro, estou quase terminando aqui.

O empregado havia combinado com os irmãos Almeida que seria melhor que eles passassem a noite lá, pelo menos até descobrirem mais sobre as intenções de Gael. Carlos estaria mais seguro no casarão do que no apartamento com ele. Patrícia concordou com o bruxo na hora. A segurança do seu irmão estava em primeiro lugar para ela.

— Imaginei que queriam ficar no mesmo quarto. — César falou.

— Ah, sim. — Ela franziu o rosto. — Foram os seus... poderes, né? Quer dizer, você escutou meus pensamentos, certo?

O homem baixou os olhos, um pouco envergonhado.

— Desculpa, eu não fiz por mal — pediu.

— Tudo bem. — Ela se aproximou dele e se sentou na beira da cama, respirando fundo.

O bruxo a observou.

— Você quer conversar?

— Ouviu meus pensamentos de novo? — Ela se virou para ele, tentando sorrir.

— Não precisei. Está bem evidente em você. — Gesticulou para o rosto dela.

Ela riu, um pouco envergonhada.

César se aproximou e se sentou ao seu lado.

— Então — deu um suspiro —, o que foi?

— Eu não sei, eu... Eu ainda tô tentando absorver tudo isso, sabe? Você sendo um bruxo. Meu cunhado... possuído por um demônio. Chaves mágicas... Você ter tido um relacionamento com a Estela — murmurou a última parte e respirou fundo, se virando para ele. — Sente falta dela?

— Todo o dia. — O homem fixou o olhar em um ponto no chão. — Já amou alguém a tal ponto que achou que não ia mais conseguir seguir em frente?

Aquilo foi como um golpe no coração da advogada.

— Eu não consigo imaginar — ela respondeu. — Eu sinto muito.

Eles ficaram em silêncio por alguns instantes até que o empregado tomou a palavra.

— Ela morreu nos meus braços e eu não pude fazer nada para salvá-la — disse, triste. — Ser um bruxo não significou nada. Eu não tinha conhecimento suficiente para isso. Não tinha conhecimento para salvar a mulher que eu amava.

Patrícia achou que ele ia desabar a qualquer momento, mas César respirou fundo e conseguiu se recompor.

— Não diga isso. — A advogada passou as mãos pelas costas dele. — Não foi culpa sua. Foi um infortúnio o que aconteceu com ela.

— Sim — disse, um pouco melhor agora. — Eu... Só queria desabafar mesmo. Obrigado por me ouvir.

Ela sorriu para ele.

— De nada.

A mulher observou a própria mão pousada no ombro do bruxo. Ela pôde sentir levemente seus músculos embaixo da camisa branca. Com quarenta e poucos anos, César era extremamente charmoso.

Se já era bonito agora, imagina quando era mais jovem...

Foi quando a advogada se lembrou da conversa que tiveram mais cedo. Quando o bruxo mencionou sobre a chave que o mantinha preso na casa e, inevitavelmente, citou sobre o tal Contrato que fazia com que ela se interessasse por ele. O empregado tinha ficado bem envergonhado por dizer aquilo na frente dos outros, e ela também. Mas mesmo ouvindo tudo aquilo não queria acreditar que fosse real. Gostava dele sim e não era por causa de um maldito contrato mágico!

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