7. Os Novos Moradores

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Há um segredo nessa carta... Há um segredo nessa carta.

Thiego nunca tinha sido bom com enigmas. Quer dizer, ele já tinha acertado algumas vezes, enquanto lia romances policiais, mas isso era completamente diferente. Apesar de não confiar em César ainda, não achava que o empregado tinha escrito aquela carta. Sua tia tinha lhe mandado uma mensagem, tinha certeza disso. Só precisava saber o que aquilo queria dizer.

Depois que se despediu da irmã na parada de ônibus, seguiu andando por mais quatro quarteirões até chegar à escola. O prédio era pintado com uma tinta azul desbotada e não parecia ser muito amistoso. O adolescente respirou fundo e desejou que conseguisse se adaptar bem.

Não demorou muito para perceber que as pessoas que estudavam ali não sabiam disfarçar quando viam alguém novo. Por onde passava, observava os estudantes se virando e cochichando algo com os outros alunos. 

E tinha quase certeza que era sobre ele.

O garoto achou melhor sentar-se no fundo da sala, longe dos olhares dos seus colegas. Era óbvio que tinha percebido aqueles olhares. Ele só não sabia dizer exatamente o que expressavam. Alguns pareciam com medo, outros curiosos e alguns... nem conseguia identificar nada.

No terceiro tempo, antes do intervalo, o professor havia faltado. Pelo horário que recebera da pedagoga, tratava-se do professor de história, um tal de Marcos. Thiego achou melhor assim. Menos uma aula seria ótimo.

A maioria dos alunos aproveitou o tempo ocioso para conversar. Alguns pareciam está tirando um cochilo e outros entretidos em seus celulares. O garoto aproveitou a ausência do docente para ouvir música. Desdobrou a carta da tia em cima da carteira e começou a lê-la novamente.

Tinha certeza que havia algo ali que não tinha enxergado. Tinha que ter.

De repente, pelo canto do olho, o adolescente percebeu uma silhueta vindo em sua direção. Rapidamente, agarrou a carta e a escondeu no bolso do seu casaco. Ergueu os olhos para cima e percebeu uma garota se aproximando dele, sentando-se na cadeira vazia à sua frente.

— Oi — ela disse.

Thiego arrancou os fones dos ouvidos e parou a música no celular.

— Oi — respondeu, baixinho. Era a primeira pessoa a falar com ele desde a pedagoga, que o recebeu, e os professores dos dois primeiros tempos.

— Meu nome é Yasmim — se apresentou, com um sorriso largo e levantando uma mão. — Qual é o seu?

O garoto encarou a mão dela e a agarrou.

— Thiego. Meu nome é Thiego.

— Legal. É um nome diferente. Parece uma mistura de Thiago com Diego.

— Mas é mesmo. — Sorriu, tímido. — Minha mãe queria Thiago e meu pai queria Diego. No final, eles acabaram chegando a um acordo.

Ela sorriu e o adolescente baixou a cabeça. Respirou fundo e voltou a encarar a garota, começando a reparar mais na mesma. Yasmim era negra, mas tinha a pele um pouco clara. Os cabelos cacheados estavam presos em um coque e usava brincos com carinhas sorridentes. A menina parecia o tipo de pessoa que conseguiria falar com qualquer um... Bem diferente dele.

— Então... — começou. — Você é novo na cidade, né?

— Sou. — Thiego não queria ser tímido com a garota. Sabia que se quisesse fazer amigos ali precisava se esforçar. — Como... Como sabe?

— Sombria é uma cidade pequena. As pessoas acabam descobrindo as coisas. — Ela não parecia confortável em dizer aquilo.

— Então... Deve saber alguma coisa sobre mim, hum? — A adolescente fez um meneio com a cabeça. — Então... me diz! O que você ouviu?

Chaves Tropicais [✔]Where stories live. Discover now