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DIZEM QUE PEQUENOS DESASTRES são prenúncios de uma iminente tempestade. Eu nunca acreditei nestas coisas até aquela segunda-feira, tudo porque simplesmente havia me esquecido de trocar as pilhas do meu despertador. O aparelho zumbia como se estivesse literalmente morrendo, e eu só consegui acordar com as chacoalhadas nada delicadas do meu irmão menor (o qual provavelmente estava ali a mando de mamãe). Levantei-me desesperada e vesti o uniforme desajeitadamente. Fiz uma maquiagem de emergência e tentei esconder o frizz do meu cabelo com um rabinho de cavalo minúsculo.

Desci as escadas tão depressa que acabei tropeçando no último degrau. Para minha sorte, a alça da minha mochila se prendeu ao entalhe do corrimão de madeira, livrando o meu corpo de ir ao encontro do chão. Escapei por um fio de entrar no Guiness Book com a morte mais ridícula do mundo!

Corri em direção à porta principal ignorando os gritos de minha mãe para pelo menos levar uma maçã e comê-la no caminho. Fome? Essa era a menor das minhas preocupações. Tudo o que eu queria agora era não parecer desgrenhada na frente de Hiero e do colégio inteiro.

— Aqui! — Ele conseguiu me alcançar quase no final da ladeira. Com uma das mãos estendeu-me a tal maçã. — Não é bom pular as refeições.

Eu já estava irritada e não precisava de lição nenhuma para piorar as coisas.

— Não costumo tomar café de qualquer forma.

— Eu percebi. Mas se continuar a fazer isso, vai acabar desmaiando um dia.

Droga. Se eu não tentasse disfarçar e atuar um pouco, todo meu esforço de semanas iria por água abaixo. Forcei um sorriso e acabei agarrando a fruta. Mordi com vontade a casca vermelha e o suco adocicado deixou-me menos amarga. Hiero sorriu como se tivesse conseguido apaziguar os ânimos de uma criança mimada.

A pior parte de se atrasar era o metrô. Às sete horas ele já estava bem lotado. Descemos as escadas na maior velocidade que podíamos, mas a plataforma já estava como um formigueiro. Quando as portas do vagão se abriram, foi como se um verdadeiro pandemônio tivesse se instaurado: todos correram para conseguir um assento como se suas vidas dependessem disso.

Nós dois fomos arrastados para dentro com a força da correnteza humana. Fui empurrada até sentir minhas costas baterem contra a parede fria do vagão, do lado oposto à porta. Hiero estava de frente para mim, sendo forçado a chegar cada vez mais perto pelos esbarros, pisoteios e cotoveladas. Ele estendeu ambos os braços e apoiou-se na parede, cada mão em cada lado dos meus ombros. Como ainda entrava gente, se viu obrigado a flexionar os braços para dar mais espaço. Finalmente a porta se fechou e senti o metrô começar a se movimentar.

Hiero estava tão próximo que eu podia sentir novamente aquele delicioso perfume de frutas cítricas misturado ao amaciante de roupas. Acabei me perguntando o que ele fazia para ter uma pele tão uniforme como a do pêssego e sem querer, olhei para seus lábios perfeitamente esculpidos, imaginando se eles eram mesmo tão macios quanto pareciam. Imediatamente baixei o olhar, sentindo-me culpada. Que horror, Beatrice! Ele é o Hiero, acorda. Aquele monstro da sua infância. E você o odeia, certo?

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now