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O INSTITUTO SAINT LOUIS ERA um dos colégios mais prestigiados do estado de São Paulo. Era uma instituição um tanto antiga, situada no bairro Jardins, e oferecia ensino desde o fundamental até a pós-graduação. Eu adorava aquele lugar. Estar lá era como se sentir dentro de um filme. Não era uma Hogwarts, obviamente, mas as lindas construções em estilo neocolonial poderiam facilmente ser confundidas com qualquer campus de faculdade de padrão elevado.

Até o uniforme era perfeito: no verão, as meninas usavam shorts-saia azul-marinho bem rodadinhas, meias ¾ e sapatilhas. A camisa era branca com três casas de botões, mas não tinha gravata. Uma pena, porque usar gravatas com qualquer tipo de roupa estava super na moda. Já o uniforme do inverno era calça para todos, ou quem sabe o agasalho completo.

A verdade é que se dependesse da renda da minha família, acho que eu nunca conseguiria estudar lá. A mensalidade devia ser tão alta que provavelmente faria algumas famílias declararem falência depois do primeiro mês.

Por sorte, meu pai era o pró-reitor do Planejamento e Desenvolvimento Institucional, e um dos seus benefícios no cargo era obter bolsas de estudos para os filhos. Assim, meu futuro educacional estava garantido — bem, pelo menos enquanto meu pai não fosse destituído.

Antes de toda esta confusão, fiquei feliz quando soube que as aulas de Mikhel seriam na parte da tarde. Ficou combinado que Bruno o levaria para a escola com o seu carro antes de ir para a faculdade. Eu iria para a escola a pé, pois ela ficava a poucos quarteirões do metrô. Estava animada para conseguir escutar Hoobastank e Avril Lavigne em meu discman durante o caminho (já que eu evitava escutar em casa com receio de ser pega por mamãe; ela abominava qualquer tipo de rock) e parar na banca de revistas na volta.

Ah, um detalhe: Não sei se era por gastar o suado dinheiro do meu pai com "bobagens", ou por pensar que iriam desvirtuar o meu caminho dos estudos, mas o fato era que minha mãe nunca gostou que eu comprasse essas revistas. Ela até chegou a confiscar a minha Atrevida favorita (com o Felipe Dylon na capa)! Jurei mentalmente que ia ficar sem falar com ela durante uma semana, mas as mães sempre sabem como comprar de volta os seus filhos. No meu caso, meu preço eram os meus amados brownies com sorvete.

A partir daí comecei a escondê-las muito bem entre o estrado da cama e meu colchão, e quando via uma na banca, sentia tanto remorso em comprá-la que tentava fazê-lo o mais sorrateiramente possível. Era ridículo, mas talvez eu sentisse o mesmo que um viciado tentando adquirir um saquinho de ervas ilícitas. De certa forma, este também virou um dos meus segredos.

Mas agora tudo estava estragado, já que eu não faria mais o percurso sozinha. Adeus discman, adeus revistas, adeus dias de tranquilidade.

— Uau, temos de sair incrivelmente cedo — observou Hiero ao sairmos pelo portão. O sol mal aparecia por entre as nuvens acinzentadas e os postes na rua quase deserta ainda estavam acesos.

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now