23.

301 65 66
                                    

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.


— BATALHA DE LIGNY. — HIERO soou convicto. Do outro lado da mesinha de centro, eu balancei a cabeça negativamente. — Batalha de Waterloo! — Corrigiu-se depressa. Mas era tarde demais; ele já havia gastado suas tentativas. Rindo pelo que haveria de acontecer, fiz a fatídica pergunta:

— Prenda ou peteleco?

— Peteleco. — respondeu franzindo as sobrancelhas, prevendo a dor, e tirou a carta dentre os cabelos para que eu pudesse executar seu castigo. Como não media muito a minha força, sua testa já estava vermelha.

Preparei os dedos, mas fiquei com tanta dó de acertá-lo que mudei a sentença por conta própria:

— Prenda! Você vai dançar... na boquinha da garrafa! — Coloquei minha garrafinha de água em cima da mesa. — O clássico das festas de aniversário.

Hiero sorriu incrédulo.

— O quê? Ah, Bea. Isso não. É muita humilhação, eu prefiro peteleco.

— Então, eu troco. Vai, Menudo: "Canta, dança, sem parar" — comecei a entoar animadamente, pedindo com as mãos para que ele se levantasse. — "Sobe, desce, como quiser".

Sem um pingo de vontade, ele se levantou.

— "Sonha, vive, como eu." — Balançou os braços freneticamente, enquanto tentava sincronizar em vão o movimento das pernas. — "Pula, grita, oo-oo".

Nesse ponto, eu não podia mais continuar de tanto rir. Hiero era um dançarino tão flexível quanto o Robocop.

— Isso, vá rindo. Na próxima, não serei tão bonzinho. — prenunciou em tom cômico e voltou a sentar-se.

Escolhi uma carta de resposta dentre a pilha, lambi e a grudei na testa.

— Binômio de Newton. Desenvolvimento e termo geral. — ele deu a dica.

Comecei a escrever a resposta num papel, praguejando mentalmente. Odeio decorar fórmulas e quase sempre esqueço algum detalhe. Ah, não! Precisei apagar duas vezes, e tinha certeza de que faltava algo. Levantei os olhos para o rapaz, que mordiscava o canto do lábio inferior com um sorriso provocante.

— Peteleco. — Tirei a carta da testa, aceitando minha derrota. De qualquer forma, ele nunca o dava com força.

Porém, Hiero balançou a cabeça em negação.

— Prenda: cantar o hino nacional com um ovo na boca.

— Ahhh, não acredito. É sério isso?

Ele balançou a cabeça novamente, dessa vez, em afirmação. E ainda por cima, rindo. Safado! Bem que conseguia sair daquela sua postura de anjinho e ser malvado quando queria.

Levantei-me choramingando rumo à cozinha. Para a minha surpresa, mamãe já estava à beira da pia, descascando cebolas e alhos para o jantar. Que horas eram? Nem vi o tempo passar. Não sabia que estudar poderia ser tão divertido.

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now