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— CONTAREI-LHES A MINHA HISTÓRIA. — declamei em bom tom, mantendo o queixo erguido e o olhar firme em minha plateia.

O auditório estava abarrotado de alunos, pais e visitantes da feira científica, mas isso não me intimidava. Após o meu discurso de retratação e do treino intensivo com Hiero no dia anterior, eu me sentia pronta para enfrentar até o apocalipse.

— Meu nome é Hipátia e ensino em Alexandria. Sou filha do matemático Theon, último professor da Universidade de Alexandria. Por sua influência, aprofundei-me nos estudos da astronomia, religião, poesia, artes e ciências exatas, domínios tradicionalmente masculinos. Tive muitos pretendentes, mas rejeitei a todos porque meu casamento... é com a verdade. — Sorri triunfante. Em outra época, não teria conseguido pronunciar tão bem esta última linha. Antes, nos ensaios, ela sempre saía atravancada; agora, escorregava dos meus lábios como gotas de orvalho em folhas verdes.

A peça foi o maior sucesso. Bem, tirando uma microfonia aqui ou ali, tudo ocorreu conforme o planejado. A chuva de palmas enquanto o elenco se curvava ao fim de cada apresentação provaram que todo nosso esforço valeu a pena.

Creio que muito do nosso êxito se deu pela direção de Luke – que, apesar de rígida, acendeu em nós um forte senso de responsabilidade e espírito de união.

No fim da desmontagem do palco, ele fez questão de nos reunir nos bastidores só para nos elogiar. Parecia até um pai babão.

— Parabéns por terem trabalhado tão duro. Acho que isso vale uma comemoração! — E não conseguiu continuar no meio de tantas vozes animadas, batidas de mãos em objetos e assovios da galera. — Calma, calma, gente. Não amanhã, mas no outro sábado, depois das provas finais, dá pra todo mundo? Perfeito, então está marcado. Apareçam lá pelas sete na minha casa. Imagino que ainda se lembram onde é.

A galera vibrou novamente. Agora todos tinham uma motivação a mais para não ficarem de recuperação. Minha euforia, porém, tinha outro motivo secreto além da festa.

Como todo mundo começava a se dispersar, agarrei minhas coisas, dei um rápido tchau às minhas amigas e disparei para fora do auditório, puxando Hiero pela mão.

— Ei, Bea, vai devagar, ninguém está nos perseguindo. Aliás, como ainda tem tanta energia após tantas apresentações? — ele disse em tom descontraído, o que me fez diminuir um pouco a velocidade.

Tá bem, tá bem. Eu sei que nem voltar voando para casa, engolir o jantar como se a comida fosse desaparecer a qualquer instante ou conferir o relógio a cada vinte segundos iria fazer o tempo passar mais depressa – embora fosse esse o meu desejo. Nunca ficara tão ansiosa por um compromisso, nem mesmo quando inventei de aceitar aquele convite do Luke. Saber que teria Hiero todinho só para mim dali a algumas horas foi o combustível que me manteve faiscando durante as quatro apresentações, e o seria para mais dez, se existissem.

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now