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SILENCIOSAMENTE, HIERO ME SEGUIU pela área gramada rumo à estrutura de madeira. Por conta do inverno, os ramos de bougainvillea no muro e por sobre as vigas paralelas agora estavam meio secos e tinham poucas folhas, conferindo uma atmosfera triste ao local. E essa tristeza se intensificava quando eu lembrava que, na última vez em que estive ali com o rapaz, havia lhe dito palavras muito cruéis.

Acho que a escolha do local não foi a das melhores, pois ao chegarmos lá, tive a impressão de que aquela cena se repetiria – só que, desta vez, eu quem estaria no lugar dele.

Apertando e cruzando os dedos em nervosismo, fiquei vários segundos tentando encontrar a melhor forma de começar. Tinha tudo bonitinho em minha mente; mas ao estar ali frente a frente com ele, sentindo seus olhos enternecedores e cristalinos a me observarem, todas as palavras ensaiadas se dissiparam como fumaça.

Talvez porque me demorava muito, Hiero tomou a liberdade e falou em tom pesaroso:

— Eu... eu sei, Bea. Eu sei o que fez e o que vai dizer pra mim.

Meu coração bateu ainda mais veloz. — Q-quê?

Ele abaixou a cabeça e mirou algum ponto no chão de cantaria.

— Eu sei que leu meu diário. Naquela noite, achei uma folha perdida no corredor, uns palmos além da porta do seu quarto.

Oh! Ela deve ter parado lá quando aquele forte vento empurrou a janela.

Hiero deu um suspiro em meio a um sorriso quebrado.

— Que ironia. Eu trouxe esse maldito caderno na mala porque tinha receio de que alguém o descobrisse na minha ausência. Eu o escondi e até tentei me desfazer dele, mas... Foi acabar parando nas mãos de quem eu mais temia.

Pela pausa, talvez estivesse esperando alguma reação ou resposta, mas eu estava meio travada, tentando encaixar essa nova informação no mosaico dos acontecimentos dos últimos dias.

Ele sabia, mas mesmo assim, na sala dos materiais esportivos...

— Desculpa, Bea. Eu percebi que você queria respostas, mas não podia falar, eu... até quis me abrir e revelar tudo; tentei lutar contra mim, mas sempre tive medo. Morria de medo, para falar a verdade.

Consegui encará-lo pela primeira vez.

— Medo? De quê? De mim... ?

— Não, medo do que justamente está acontecendo aqui e agora! Medo de você perceber o quanto eu e ele somos parecidos. Medo de você descobrir, ou melhor, se lembrar do que eu fiz e não me querer mais por perto; de me repelir, como tem feito nesses últimos dias! Medo... de você voltar a me odiar. E é isso o que veio me dizer, não é? — Sua voz saiu tremida. — Que me odeia.

Meu Deus, como pude ser tão tapada e insensível?

Enquanto estava tão concentrada em meus próprios problemas, Hiero sofria em silêncio. Ele até havia me buscado, mas em minha covardia – somente pensando em mim mesma e tentando me proteger – eu o machuquei ainda mais.

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now