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AQUELE MOMENTO NA CASA dos Horrores só foi a primeira peça que desencadeou o efeito dominó. A outra, foi meu erro estúpido daquela manhã.

Sem querer, ao sair para a escola na correria e deixar a cama desarrumada, partes de algumas revistas apareceram entre o meu colchão e o estrado da cama.

Acontece que, coincidentemente, aquele foi um dos únicos dias de sol da semana e mamãe resolveu fazer faxina. Retirou os lençóis de todas as camas para lavar e secar. Foi aí que ela achou a minha coleção.

— Depois nós vamos ter uma conversa. — prenunciou da sala em tom grave quando passei pela porta de entrada, após retornar sozinha do colégio. Você já sabe que, quando mamãe começava assim, as coisas estavam bem feias para o meu lado. Senti uma onda de calor invadindo o meu corpo. Ótimo! Já não bastava estar presa naquele liquidificador de sentimentos, agora estava prestes a ser algemada e comparecer diante de um tribunal – com a diferença que não tinha advogado, nem júri, nem porcaria de recurso algum.

Corri para meu quarto, a fim de verificar o que estava errado. Seria possível que tivesse encontrado os chocolates que Luke me dera? Ainda tinham algumas caixas naquela última gaveta. Mas quando vi a roupa de cama trocada, eu soube na hora.

— Não se preocupe; já dei um fim apropriado nelas. — ela comentou sem tirar os olhos do seu crochê quando ouviu meus passos apressados escada abaixo.

Oh, não, não... Não acredito! Minhas preciosidades! Tanto dinheiro de mesadas gasto! Que ódio! Fiquei torcendo para que ela tivesse jogado tudo no lixo, assim poderia salvar alguma coisa. Procurei inutilmente na lixeira da cozinha e no latão fora de casa. Então, ocorreu-me que ela poderia tê-las embalado em caixas e as jogado na lixeira da rua. Por sorte, o caminhão de lixo não havia passado naquele dia; porém, não havia nenhuma caixa lá, apenas grandes sacolas pretas que, pelo formato, não pareciam conter revistas.

Então onde será que... ah, jamais! Ela não seria capaz de algo tão extremo... seria? Com o coração na boca, corri para verificar a churrasqueira. Com um grande espeto de ferro, comecei a revirar a fuligem e constatei algo ali no meio que parecia ter folhas de papel, mas não era uma revista. Parecia um livro. Puxei-o cuidadosamente com o espeto e vi a capa de couro meio chamuscada. Ué? Não era aquele caderno de anotações do Hiero? Que louco! Não havia porque estar lá, a não ser que... não, não podia ser. Será que ficou tão chateado que eu o vi sem permissão que resolveu dar um fim nele? Mas não fazia sentido algum, já que não havia nada de comprometedor ou embaraçoso escrito!

Com muita cautela, retirei-o do meio das cinzas, prestando atenção para que as páginas restantes não se desprendessem do miolo. Constatei que a parte mais prejudicada foi a capa do avesso e as páginas finais. Por algum motivo, provavelmente por conta da umidade daqueles últimos dias, o fogo não foi capaz de consumi-lo por inteiro.

Limpei a capa com os dedos e o abri. Só então pude compreender.

Aquele não era o mesmo caderno que havia lido.

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now