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UMA TEMPESTADE HAVIA SE FORMADO lá fora, aparentemente. Como um truque de mágica, o dia parecia transformado em noite, e as nuvens, outrora brancas, em grandes e escuros chumaços de algodão. Consigo ouvir as pancadas de chuva nos vidros dos grandes janelões daquela sala. Trovões retumbam no horizonte. Não estou em casa. Onde estou...?

Então, sinto a respiração de alguém atrás de mim e o terror me domina. Tento gritar, mas não consigo. Isso é um sonho? Ou uma lembrança?

Flashes rápidos pipocam como em um filme de cenas embaralhadas e desbotadas. Uma mão me silencia. Outra mão agarra violentamente meus cabelos. Ouço alguns gritos – talvez sejam os meus? – e então, uma forte pancada. Toco a testa com os dedos e sinto um líquido grosso e quente escorrendo por entre eles e em minha face.

Olho assustada para o sangue em minha pequena mão.

Minha cabeça dói. Dói muito.

A abstração começa a fundir-se com a realidade à medida que o ar é inalado em meus pulmões. Comecei a tossir e então uma quantidade significativa de água saiu da minha boca. Puxei fôlego com a mesma avidez de um recém-nascido, sentindo as minhas vias respiratórias queimarem por causa da água e cloro. Rapidamente percebi que estava encharcada, porém, uma toalha azul cobria meu corpo.

— Meu Deus, Bea! Você está bem?! — Ouvi o grito de Mima. Não conseguia localizá-la no meio daquele monte de adolescentes aglomerados em redor de mim. Tudo parecia girar e o único rosto que consegui ver direito era o de Hiero logo acima ao meu. Gotas de água geladas escorriam dos seus cabelos e pingavam em minhas bochechas.

— Pronto, gente, ela está bem. — Ouvi-o gritar. — Deem espaço, por favor.

— Nossa, o que aconteceu?! — Luke surgiu entre os curiosos. — Eu estava... quando soube... — Ele se ajoelhou ao meu lado, do lado contrário onde Hiero estava ajoelhado. Parecia mesmo preocupado. — Consegue se levantar?

Ele me deu o braço como apoio. Achava que todo o corpo (exceto a cabeça) estivesse bem, mas quando tentei firmar os pés, uma dor súbita no tornozelo direito me fez bambear. — Ai, ai! — gritei. Talvez tivesse batido na borda da piscina quando caí. Imediatamente Hiero amparou meu corpo mole quase em um abraço e passou a toalha que havia caído no movimento em redor de mim. Então, tive a impressão de que Luke praticamente o empurrou e me levantou pelos braços. Nesse instante, ouvi aclamações e palmas do pessoal em redor, que abria o caminho para que pudéssemos passar.

Ai, ai, minha mãezinha do céu. Que vergonha...!

Quando foi que virei uma espécie de "donzela em apuros"? Parece até que fui parar dentro de um romance adolescente de contos de fada repaginado! Todo meu corpo vibrava com as batidas desenfreadas do meu coração, enquanto sentia o calor do torso de Luke, o contorno dos seus músculos, o cheiro do seu perfume característico de couro misturado com protetor solar – assim como o olhar de todos sobre nós dois, queimando-nos como aquele sol escaldante. Um deles, em especial, deixou-me ainda mais nervosa. Por cima dos ombros de Luke, observei aquele par de olhos azuis a nos acompanhar por longos segundos, até que minhas amigas surgiram e tamparam minha linha de visão.

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now