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NO DIA SEGUINTE, NÃO consegui entender bulhufas das aulas. Talvez os professores tivessem passado a falar grego magicamente. Talvez, como a Alice no País das Maravilhas, alguém de cabelos negros sentado uma carteira à minha frente tivesse crescido anormalmente a ponto de ficar atrapalhando toda a minha visão do quadro. Seja como for, passei a maior parte do tempo ora debruçada sobre minha carteira, ora fazendo desenhos nas bordas do caderno, totalmente alheia aos assuntos apresentados.

Na verdade, sentia-me estúpida. Por que raios aquilo era tão importante a ponto de me fazer chorar até ficar com dor de cabeça? Pouco tempo atrás, isso seria um absurdo. Chorar por causa do Hiero...? Hmp. Tinha vergonha até de lembrar.

O problema era que, apesar das minhas tentativas de direcionar a atenção a qualquer outra coisa, volta e meia me pegava pensando naquela discussão ridícula. Também não conseguia evitar de ficar espionando o rapaz, desejando ser uma fadinha que pudesse se infiltrar e descobrir os pensamentos dele.

— O que há com você hoje? — Dahlia perguntou-me no intervalo, enquanto escolhíamos algum local para sentar. Infelizmente o gramado estava todo molhado pela leve garoa. — Brigou com o Hiero, foi?

Oh. Achei que estava fingindo bem a normalidade. Até fiz uma maquiagem mais reforçada para disfarçar as olheiras e forçava um sorriso todas as vezes que alguém falava comigo. Mas, por algum motivo, não estava funcionando muito.

— B-briguei? Há! Que isso.

Hmm, estranho. Uma hora dessas ele estaria aqui, conversando com você todo animado; talvez inventando alguma desculpa para puxar a sua liguinha de cabelo, algo do tipo.

Senti uma onda quente subir pelo pescoço e se alojar nas minhas bochechas.

— N-n-nada a ver! Nem é assim! Nós não-

— Ah, Bea, conta outra, vai. É bem perceptível que vocês se aproximaram nessas últimas semanas. Eu mesma nunca vi você conversar assim com nenhum outro rapaz. Nem com o Luke.

Há, há, há, sua boba! — Ri igual uma tonta. — Até parece. Eu converso sim com o Luke. Mas é que... é que... você não percebe. É, deve ser. — E apressei-me em tomar minha coquinha pelo canudinho.

Dahlia fez uma cara de "é sério isso?", levantando as sobrancelhas e torcendo a boca.

— Seja como for, me admira que Mima não esteja cheia de ciúmes. — continuou. — Talvez ela só não percebeu, ou quem sabe está tão cega de paixão que ache que até o pum que o Hiero solta é por causa dela.

As bolhas do refrigerante subiram pelo meu nariz, fazendo-me espirrá-lo para todos os lados. Cadê aquela minha amiga fofa e carinhosa, e o que essa garota havia feito com ela?

— Credo, Dahlia!

Ela gargalhou.

— Estou falando a verdade! Chega ao cúmulo dela juntar o papel de atividades que ele joga no lixo só pra ficar admirando a letra dele. Qualquer borracha emprestada é uma prova de amor.

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now