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AQUELA EXPRESSÃO ASSOMBRADA de Hiero foi impagável. Quando atendeu a porta do seu quarto e me encontrou sorrindo e portando meus materiais de estudos, ele piscou várias vezes, como se estivesse vendo um fantasma. Ou como se estivesse tendo um derrame. Quem sabe, os dois. Não, brincadeira. Ele só estava assustado mesmo. E eu entendi, pois até pouco tempo jamais imaginaria estar de volta em seu quarto para continuar a tarefa dos seminários. Acontece que eles se provaram extremamente eficazes e, como já estava craque em fazê-los, pensei... "Por que não continuá-los?".

Mas é claro que desta vez, eu faria todo este esforço para mim mesma, e se Hiero me ajudasse, poderia ficar com a cópia dos resumos. Foi esta proposta que eu fiz naquela tarde: uma mão lavaria a outra.

— Nada mais justo, certo?

Hiero assentiu, parecendo um bocado animado. E então lá estávamos nós novamente sentados à mesinha de centro e debruçados sobre aqueles livros grossos da capa vermelha que cheiravam a mofo e baunilha.

Logo de início, era estranho começar uma conversa casual – porém, muito mais estranho era o clima reticente que se instaurava no silêncio. De vez em quando comentávamos alguma coisa da matéria, mas nunca algo pessoal. Acho que isso durou até o terceiro dia, quando nos pegamos conversando sobre as tarefas das aulas de Filosofia:

— Eu acho que o contraponto de Nietzsche aos valores da filosofia grega estabelecidos por Sócrates, Platão e Aristóteles é o de justamente reafirmar o mundo empírico em detrimento do metafísico, algo que, segundo ele, é uma idealidade criada a fim de negar o real. — Hiero pontuou.

Cocei a cabeça.

— Mesmo assim, isso me parece um tanto vago. O que, de fato, isso significa?

Ele voltou a tentar explicar pacientemente:

— Platão dizia, por exemplo, que existia uma dicotomia... — E levantou ambas as mãos para ilustrar. — O mundo real e o ideal, o físico e o metafísico, a razão e os sentimentos... Já para o alemão, a realidade e pensamentos vivos só podem ser verdadeiramente experimentados através de experiências mais viscerais, da vivência em si.

Suspirei um pouco aborrecida.

— Desisto! Isso é tipo grego pra mim. Acho que só vou decorar, afinal, nem gosto de filosofia mesmo. Isso só pode ter vindo de gente chata e sem ter nada o que fazer a não ser divagar e divagar... e nem sei pra quê. — reclamei em voz baixa enquanto procurava alguns textos no livro para grifar.

Então ouvi sua voz ressoar num barítono limpo, firme e melodioso.

— "Viver é melhor que sonhar, e eu sei que o amor é uma coisa boa. Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa".

Levantei a cabeça, surpresa. Uau... Eu não sabia que Hiero tinha a capacidade de cantar tão... tão maravilhosamente bem.

Ele sorriu ao terminar a estrofe. — Viu? Isso pode ser filosofia. Um pensamento bastante parecido com o de Nietzsche, na verdade.

Segredos dele, Mentiras delaTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang