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O SILÊNCIO NAQUELA PEQUENA SALA com mobílias brancas pairava pelo ar igual a uma névoa asfixiante. Eu e Hiero esperávamos o atendimento do técnico de enfermagem sentados juntos na única maca. Tal qual um guarda a deter uma infratora presa em flagrante, ele ainda prendia a minha mão. Eu não ousava olhá-lo. Mantinha minha atenção fixa nos objetos em cima da mesa em frente a nós como se formulários, porta-canetas e modelos anatômicos de plástico exibindo órgãos humanos fossem as coisas mais fascinantes da face da terra.

Sentia o suor pegajoso em nossas mãos. Mesmo sob os olhares curiosos dos colegas nos corredores, eu não havia resistido àquele toque cuidadoso e firme. No entanto, quando a porta se abriu de repente e revelou um Luke afoito, arranquei minha mão debaixo da de Hiero como se tivesse recebido uma descarga de alta tensão.

— Bea, você... Ah.

Luke percebeu.

Aliás, pelos olhos que passaram de redondos a duas pequenas fendas, parecia ciente também de outras coisas.

O intenso desconforto entre nós três foi instantâneo. Hiero suspirou sonoramente e se levantou, colocando as mãos no casaco, e se dirigiu à porta sem dizer nada. Acompanhei seus movimentos com uma dor aguda no peito. Depois que ele se foi, dirigi o olhar a Luke, o qual parecia me escrutinar, seus olhos percorrendo o espaço entre mim e a porta.

Eu sabia. Era questão de tempo até que isso acontecesse. Agora também sentia imensa vergonha de encará-lo. Escondi meu rosto sob os cabelos, controlando-me para não desabar em prantos ali mesmo.

— Como está se sentindo? — sua voz soou um pouco mais branda do que esperava. — Fiquei mesmo preocupado quando me falaram que viram você vindo à enfermaria, mas... — Ele deu um respiro irônico — pelo visto, você já estava muito bem amparada.

— Luke... Bem, é que... — tentei em vão não tremer a voz.

— Amanhã é o nosso grande ensaio. Você precisa ficar boa logo, tem que descansar.

— N-na verdade, eu...

— Não precisa gastar energia à toa. Caramba, cadê esse enfermeiro?

Senti meus músculos se enrijecerem. Apertei as mãos em meu colo.

— Luke! Por favor, só me escuta... !

Mas ele me interrompeu de novo, e dessa vez sua voz soou amarga.

— Bea, você quer que eu faça alguma coisa? Ah, falar com seu pai, não é? Tá legal, eu falo! Ainda hoje, se quiser. Mas não vamos começar isso agora. Você não está bem, eu não estou bem, então vamos nos poupar. Depois da apresentação, como a gente combinou.

Mal ouvi o barulho da porta, irrompi em lágrimas sofridas, o coração em frangalhos.

Até o enfermeiro se assustou quando me viu, achando que estava seriamente machucada. Deu-me um paracetamol e um calmante fitoterápico. Recomendou que descansasse ali até a dor de cabeça passar. Deitei-me de lado na maca e me cobri com o lençol fino. Elevei as pernas na altura do peito, enterrei ali o meu rosto e continuei a chorar até adormecer de exaustão.

Segredos dele, Mentiras delaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora