22.

359 69 89
                                    

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.


AO CONTRÁRIO DO QUE ACHEI a princípio, o caderno não era bem um diário. Bom, não desses em que a gente escreve "Querido Diário" e o recheia de segredos (ou pelo menos coisas perigosas demais para chegar até aos ouvidos dos irmãos). Era mais um registro de ideias, versos e poemas – alguns até com cifras, indicando ser composições originais. Nenhum conteúdo era comprometedor (para a infelicidade da fofoqueira que habitava em mim) ou revelava sentimentos por alguém em específico. Talvez fosse por isso que ele não o guardava a sete chaves.

A única coisa que me deixou encafifada mesmo foi aquela foto. Assim que a vi, várias perguntas preencheram minha mente: quando ela foi exatamente tirada? Por que não me lembro? Por que parecíamos tão amigos? Eu achava que sempre o odiara, até pouco tempo atrás... Tomar sorvete super de boas com o cara que me atormentava? Para a minha eu de doze anos, isso era inimaginável!

Como se quisesse fixá-la em minha memória, eu analisei aquela imagem por um longo tempo antes de devolvê-la ao caderno e posicioná-lo exatamente onde o encontrara. O que eu mais queria era uma explicação... No entanto, ainda não tinha coragem de questionar Hiero. Ainda mais depois de ter conversado a respeito com Bruno – não que ele fosse a melhor pessoa em dar conselhos, mas talvez fosse o único que pudesse me ajudar sem julgar muito as minhas razões.

Infelizmente, minhas esperanças foram pro ralo quando ele balançou a cabeça em negação.

— Eu não lembro praticamente nada das suas questões dessa época... Só que foi uma barra. Você chegava muito magoada depois das aulas, chorava muito. Ficou doente algumas vezes e não queria ir pra escola. — Ele cruzou os braços e apoiou as costas na cadeira. — Teve um tempo que a Joana visitava a nossa mãe e trazia o Hiero junto, mas não lembro bem por causa do cursinho à tarde. Muitas vezes eles já estavam de saída quando eu chegava.

Suspirei frustrada com a falta de informações.

— Mas teve um período que você melhorou. — continuou. — Disso eu lembro bem. Acho que as provocações pararam e você voltou a ser essa garota alegre (e um pouquinho irritante) de sempre... — Fiz uma careta e ele riu. — Oh. E aí... — Deu uma pausa meio dramática. — E aí você teve o acidente. Você ainda não se lembra do que aconteceu, não é?

Passei os dedos sobre a minha cicatriz na testa.

— Não. Tento vasculhar a minha mente, mas não consigo. Nem um pedacinho de memória.

— Hm... — Dessa vez, Bruno se inclinou para frente e aumentou o tom de seriedade. — Foi assustador para todo mundo. Você ficou desaparecida por umas horas. A mãe já estava quase chamando a polícia. Então, Hiero te trouxe nas costas; vocês estavam ensopados, e as suas roupas, rosadas de sangue. Você precisou de uma mini cirurgia, você sabe. E tudo o que ele conseguia dizer é que tinha sido culpa dele. Tipo, o tempo todo, sem parar.

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now