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QUANDO CHEGOU O DOMINGO e eu ainda não tinha melhorado, comecei a ficar preocupada. A febre continuava alta, apenas amenizando temporariamente com o uso de medicamento. Minha boca estava amarga de tanto tomar a bendita dipirona e eu já não aguentava mais comer refeições aguadas e sem graça, que mais pareciam ter saído de algum hospital.

— Será que não é melhor tomar logo um antibiótico? — perguntei toda dramática à mamãe, ignorando o prato de mingau de aveia que trouxera para o café da manhã.

— Não é bom tomar antibióticos sem ver um médico antes — Ela se inclinou para tocar em minha testa suada. Encolhi-me um pouco. — É, se a febre não baixar até amanhã, vamos precisar ir ao hospital. Se for causado por bactérias, pode ser perigoso.

Apesar de não receber nenhum tipo de desculpa pelo meu comportamento, dona Márcia parecia estranhamente carinhosa naquela manhã. Quem sabe estivesse preocupada que sua filha morresse de forma meio patética, ou talvez tenha batido a cabeça e perdido a memória. De toda forma, seu cuidado acrescentou mais fardo à minha pobre consciência já sobrecarregada, e eu me sentia cada vez mais constrangida.

Consegui enxerga-la saindo do meu quarto pelo canto dos olhos.

Mamãe não era uma mulher que se destacava pela beleza, mas não era feia. De aparência, lembrava um pouco a personagem Yvete de "Laços de Família". Seu rosto estava bem conservado (considerando os quarenta anos nas costas), e somente um ou dois fios de cabelo branco eram visíveis nas madeixas curtas, castanhas e onduladas. Tentava manter a forma, contando calorias e fazendo aulas de ginástica por VHS em seu quarto. Sempre me perguntei o que papai tinha visto nela, considerando que eram quase perfeitos opostos em personalidade. Talvez fosse isso: ela era forte, incisiva e eficiente. Sabia colocar as coisas em ordem como ninguém.

Fiz uma careta e tentei engolir um pouco daquela gosma bege. Arg.

Estava entediada. Sem celular, discman ou até mesmo o rádio, não tinha nada para fazer. Tentei revisar o conteúdo das provas nos livros, mas com corpo mole daquele jeito, era pior que tortura. Afastei os materiais e apenas fiquei deitada, sentindo as pálpebras pesadas.

Não sei quanto tempo se passou, quando escutei um barulho. Talvez fosse mamãe, outra vez, vindo me trazer água ou algum lanche. Resmunguei qualquer coisa, e então senti uma mão tocando levemente o meu rosto.

— Está queimando de novo. Tome, é o remédio.

— Não quero, mãe... É ruim demais... — respondi sonolenta e ainda de olhos fechados.

— Precisa tomar, Bea.

Espera. Aquela não era a voz de mamãe.

Virei-me rapidamente e descobri Hiero sentado junto à cama. Ele estendia o líquido em um copo transparente. Meu coração quase foi parar na boca. Mas que RAIOS ele estava fazendo aqui?!?!

Segredos dele, Mentiras delaWhere stories live. Discover now