E p í l o g o

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Sugestão de musica: The scientist - Coldplay

Dois anos depois — Pedro

Observei enquanto o Rafael pegava as conchinhas e mostrava pra Duda, ela fazia uma careta e jogava algumas de volta na areia enquanto ajudava ele a procurar mais.

Era impressionante como eles cresceram e como tudo mudou depois daquele dia, até hoje ainda não consegui digerir. Fazia exatamente dois anos, e se eu parasse pra pensar muito, ainda conseguia me lembrar da dor que senti.

Ainda machucava lembrar, se eu me deixasse levar pela dor entrava em pânico... mas aos poucos eu estava superando, fui forte, pelos meus filhos, e por ela... a única mulher que eu fui capaz de amar.

Papa!! — Rafa falou correndo desengonçado até mim. — Con... con... a conçinha papa!

Dei risada olhando as conchinhas na sua mãozinha gorducha, ele era tão parecido com a Maju que era impossível não lembrar dela ao vê-lo.

— Que linda, são pro papai? — Perguntei e ele assentiu. — Vou guardar aqui enquanto você pega mais.

Ele correu de volta pra onde estava, cuidei pra que eles não fossem pra água... mas estávamos longe o suficiente pra isso. Duda mostrou uma concha grande pra mim enquanto sorria e bati palmas pra ela.

Os dois eram sem dúvida a coisa mais importante da minha vida.

Tirei do bolso um papel amassado, surrado pelo tempo que tinha sido guardado, eu não me cansava de ler aquilo... a caligrafia estava impecável.

Prendi a respiração enquanto lia as primeiras palavras.

"Não sei por onde começar, ou como começar.
Hoje faz exatamente três anos que você foi embora. Repetir essas palavras ou até mesmo pensar nelas ainda me dói, procurei formas de te esquecer, procurei incansavelmente um meio de me livrar de todas as memórias que tenho de você... e eu só gostaria de saber, quantos anos são necessários pra esquecer um minuto?
As vezes ainda sinto que você está por perto, que eu vou acordar e te ver me dando bom dia, que vou te contar o que a Duda aprontou ou então que eu vou simplesmente te ver e dizer que senti sua falta... mas eu sei que isso não vai acontecer, nem agora, e nem nunca.
Até hoje não entendo o que aconteceu, por que você fez o que fez? Isso fica martelando na minha cabeça e eu penso que não vou suportar.
Me pergunto se as vezes você ainda pensa em mim... em nós. Se lembra daquele dia em que nos beijamos pela primeira vez? Em como fiquei com vergonha e te ignorei por uma semana... ou então daquele dia em que você se ajoelhou no meio da praça e me entregou um anel daqueles que a gente ganha no chiclete e me pediu em namoro? Eu me lembro, de tudo, e as vezes gostaria de não me lembrar, porque talvez dessa forma as coisas não doeriam tanto.
Queria te contar tantas coisas, queria te dizer que nossa filha cresceu e está se tornando uma mocinha, ela é a melhor no ballet e isso me orgulha, queria dizer que sonho com você as vezes, e me arrependo por ter feito tudo que fiz, eu queria poder voltar atrás e impedir que você saísse por aquela porta aquele dia, mas não dá... queria que estivesse aqui pra ver a Duda crescer, pra acompanhar ela nos lugares e pra fazê-la feliz, porque as vezes eu sinto que não vou conseguir por muito tempo.
Eu queria que estivesse aqui, e só, porque sinto sua falta, todos os dias, acho que é uma dor da qual eu nunca vou me livrar.
Por muito tempo eu me lamentei por ter te conhecido, quis muito ter voltado no tempo e ter ido pra outro lugar no maldito dia em que vi seus olhos azuis pela primeira vez, queria ter dito não quando me pediu em namoro, e quando me pediu em casamento... eu quis que você não existisse Pedro, porque se isso acontecesse, eu estaria livre de tudo isso. Mas esses dias, enquanto eu via nossas fotos, me lembrei do quanto você dizia que tinha tido sorte em me encontrar, do quanto você não mudaria nada, e viveria tudo exatamente do jeito que foi.
E então eu entendi que mesmo com toda essa merda, as coisas deram certo entre nós, porque enquanto eu vivi com você, fui feliz, porque entendi o que é o amor, e que ele nunca vai morrer.
Você me disse uma vez que a vida do vale a pena se você amar alguém... e eu amo você. Talvez pareça idiotice escrever uma carta da qual você nunca lerá, elas amenizam a dor, elas preenchem o vazio que você deixou em mim, e como eu disse, essa será a última carta destinada à você. E se um dia ler, quero que saiba que eu sempre, incondicionalmente, vou amar você.

A nossa vez Onde as histórias ganham vida. Descobre agora