T r ê s

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Acordei uma merda.

Até a Duda percebeu que eu não estava bem, mas me esforcei pra não deixar tão transparente assim.

Deixei ela na escola e decidi tomar café em uma lanchonete ali perto, nunca resolvia, mas eu sempre tentava esfriar a cabeça assim.

Era tipo aqueles costumes idiotas que não faziam sentido, mas faziam alguma coisa melhorar.

O sininho da porta fez com que o Léo olhasse na minha direção, sorri e ele franziu o cenho.

Meus olhos correram pelo ambiente, a maioria das pessoas eram sempre iguais e senti um leve alívio por ver ele.

— E aí dona Maju, pelo visto as coisas não estão nada bem. — Leonardo falou atrás do balcão e sorri sem mostrar os dentes.

— Eu to tão feia assim? — Dei risada me sentando e ele revirou os olhos.

— Você só aparece aqui quando tá na merda... nunca percebeu? — Ele fez uma careta como se fosse óbvio, e realmente era.

Respirei fundo e apoiei as mãos no queixo enquanto ele pegava minha xícara de café.

— Provavelmente eu volte aqui mais tarde com uma amiga, aí você fica sabendo junto com ela pra eu não precisar contar essa merda varias vezes. — Falei bebendo um gole de café e ele sorriu. — Até porque quero ver a expressão de vocês dois juntinhos.

— Espero que ela seja gata pra compensar meus ouvidos. Você tá bem?

— Não tô... e Leonardo, você namora. — Fiz uma careta e ele ergueu a mão.

— Não mais... porém vamos deixar pra mais tarde e cada um conta a merda onde tá se afundando. — O Léo falou limpando o balcão e levantei.

Até semana passada ele estava namorando e... o que isso queria dizer? Até semana passada eu não imaginava que aquele imbecil fosse voltar.

— Choremos. — Falei colocando o dinheiro encima do balcão. — Até mais tarde.

Conversar com ele sempre me trazia um pouco de calma. Vim aqui pela primeira vez depois que o Pedro me deixou.

Nunca dei nada por esse lugar, eu vinha aqui no começo pra não ter que ficar sozinha em casa... aos poucos fomos virando amigos e criamos uma intimidade absurda.

Ele participava de algumas coisas na minha vida, mas nosso vínculo sempre foi nessa lanchonete... os choros, as risadas, os piores e melhores momentos.

Apesar da sua namorada me odiar, nunca paramos por isso, ele me ajudou muito a superar tudo que estava acontecendo.

Sorri me lembrando de alguns momentos e cheguei no trabalho.

A Isabel tentou me encher de perguntas, assim como o Bruno, mas eu só me fiz de louca e ignorei os dois.

— Maria Júlia, uma hora você vai precisar contar!! — A Isa falou já nervosa e dei de ombros.

— Eu vou, mas não agora... O Bruno não pode saber! — Cochichei enquanto ele pegava um documento na sala.

— Não posso saber o que? Vocês são péssimas em falar baixo. — Ele revirou os olhos e mordi os lábios.

— Se fodeu. — Ela sussurrou saindo.

Fiquei encarando ele por um tempo com um sorriso amarelo. Eu queria tanto chorar, precisava esvaziar a tensão do dia todo, a angústia, mas não queria preocupar ele, então sorri.

— Nada amor, vai em casa esse fim de semana? — Disfarcei a voz embargada e ele assentiu.

— Vamos dar uma volta com a Duda, sair um pouco, tá? — Assenti sorrindo e agradeci por ele ter saído.

A nossa vez Onde as histórias ganham vida. Descobre agora