A nossa vez

V i n t e e s e t e | P e d r o

Sugestão de musica: Waves - Dean Lewis
(Ouçam esse hino)

Dei risada observando ela se lambuzar toda de sorvete.

Os olhos azuis estavam arregalados e as bochechas vermelhas de tanto brincar.

— Por que sorvete de chocolate é tão bom?! — Duda perguntou e dei de ombros lambendo o meu.

— Estou tentando descobrir faz sessenta e três anos. — Papai falou e dei risada.

— Tudo isso vovô? — Duda perguntou desconfiada. — A mamãe disse que pessoas muito velhas morrem e vão pro céu, você não vai ir né?

— Não! Credo, sua mãe te ensina cada coisa. — Ele falou e belisquei ele olhando feio. — Mas ela tem razão Duda, pessoas bem velinhas morrem, mas seu vô ainda tá um pouquinho longe.

Ele terminou o sorvete e olhou pras mãozinhas sujas, balancei a cabeça terminando o meu.

— Vamos lavar essa sujeira. — Peguei ela no colo levando até as torneiras.

Assim que coloquei ela no chão, ela correu pra perto do vô. Observei de longe quando ele começou a correr atrás dela pelo parquinho, ela gargalhava e soltava gritinhos.

Sorri vendo os dois... acho que eu nunca vi meu pai tão feliz assim antes.

— O monstro vai te pegar!! — Ele gritou fingindo correr mais rápido e bateu a cabeça no escorregador quando foi passar por baixo.

Comecei a rir enquanto ele disfarçava passando a mão na cabeça e correndo atrás da Duda. Ele parou com as mãos apoiadas no joelho, estava arfando.

— Meu amor o vovô queria muito continuar brincando, mas a coluna não deixa... que tal fazer amizade com aquelas crianças?! — Ele disse apontando pras crianças que tinham acabado de chegar.

— Mas e se elas não gostarem de mim, promete que vai continuar brincando comigo? — Duda perguntou desconfiada olhando na direção das crianças.

— Claro que brinco, mas vai ser impossível elas não gostarem de você. — Papai falou colocando as mãos nos seus ombros pra tranquiliza-la.

Ela andou devagar se aproximando das crianças, olhei atento pra ver se elas não deixariam a Duda brincar... mas em menos de um minuto eles estavam sentados conversando.

Era incrível como uma pessoa podia ser tão importante, há meses atrás eu não passaria nem perto desse porque, não tomaria um sorvete com o meu pai e muito menos admiraria crianças brincando... Mas depois da Duda isso se tornou algo tão bom.

Minha filha fez eu descobrir coisas que nem eu sabia que gostava... como por exemplo contar historinha antes de dormir, ficar apertando a barriguinha das bonecas e brincar de esconde-esconde.

Olhei com orgulho pra ela sentindo amor, a sensação de ser pai é uma das melhores que eu senti até hoje.

— Ela é linda né? Me sinto mal por ela estar crescendo tão rápido, isso é normal?! — Perguntei pro papai que tinha acabado de sentar do meu lado.

— Completamente normal... — Ele deu risada passando a mão na cabeça. — Espera só pra ver a hora que ela te apresentar um namorado. Mas sem duvidas a Duda é especial, ela me lembra você quando era mais novo, não parava um minuto.