D o i s

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Os primeiros dias sem ele foram insuportáveis.

Pequenos fardos pesados que faziam com que os dias parecessem ter mais de 24 horas.

Esvaziei toda casa aos poucos, tirei os porta-retratos, os quadros... todas as coisas que me lembravam ele, fiz de tudo pra tentar esquecer aquilo nem que fosse temporariamente.

Toda processo de expulsar ele de mim foi muito difícil, toda a casa tinha alguma lembrança e na época eu não podia me mudar.

Eu só queria fingir que o Pedro nunca aconteceu na minha vida... queria que ele realmente não tivesse existido ali.

Pouco tempo depois eu entrei em uma depressão fodida, tinha surtos durante a noite e as complicações na gravidez começaram.

O começo de aborto no começo comprometeu toda gravidez, precisei ficar de repouso sem trabalhar, sem conseguir distrair minha mente.

Passei noites em claro pensando em como acabar com a dor, foi por muito pouco, a mamãe precisou vir morar comigo pra garantir que eu não faria nada.

Mas eu não seria capaz, todos os dias em meio às crises eu me lembrava do único motivo pela qual eu iria lutar, pelo ponto de luz na minha vida, a razão por tudo valer a pena.

Eu vivi o inferno até a Eduarda nascer, tive meus piores dias e até hoje não sei como consegui superar tudo isso.

Quando ela nasceu nada fazia sentido, eu não senti aquele amor incondicional a primeira vez que vi ela, só pensava em como seriam as coisas dali pra frente, como iria cuidar, educar, criar.

Mas tudo foi se ajeitando, ela me tirou dos dias terríveis, me salvou do precipício que o Pedro tinha me jogado.

Por muito tempo eu odiei ele, guardei a ideia de que a Eduarda não precisava dele e eu também não.

Era dor e mais dor, vinham como uma onda. Tinham dias em que eu pensava ter superado e dias que parecia que eu não ia aguentar mais.

Cometi a pior merda da minha vida escondendo ela dele, a dor me cegou, e eu só percebi isso quando já era tarde demais...

Além do mais ele sumiu, assim como sua família eu não sabia onde estavam, não tinha como concertar as coisas, era um beco sem saída.

Faziam cinco anos que eu não via ele, alguns anos que as memórias não surtiam efeito nenhum... e alguns meses que parei de sentir sua falta.

E agora ele estava aqui, bem na minha frente.

Uma pessoa que eu esperava nunca mais ver, que eu pensava estar enterrada voltou e... eu não sabia o que fazer.

Minhas mãos estavam tremendo e meus pelos arrepiados, era o mesmo que ter um dejavu, só que esse era real.

Meu estômago estava se embrulhando e eu juro que se desse um passo cairia.

— Maria Júlia... quanto tempo. — Ele falou se aproximando de mim e me afastei.

Tenho certeza que minha cara não era uma das melhores.

— Mamãe? — Eduarda falou e ambos olhamos pra ela. — Quem é ele?

Olhei ainda atordoada pro Pedro que não tirava os olhos dela. Duda abriu um sorriso e estendeu a mão.

Ele tocou sua mão ainda olhando fixamente. Vi quando seus olhos se encheram de lágrima mas ele apenas engoliu em seco e me encarou duramente.

Puta merda, ele sabia, era impossível não ligar os pontos e perceber. Era impossível não ver o quanto ela se parecia com ele.

A nossa vez Onde as histórias ganham vida. Descobre agora