T r i n t a

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Sugestão de musica: Seafret- Oceans

Olhei da janela pela milésima vez.

Ele estava quase atrasado e uma onda de ansiedade vinha e voltava a todo instante, eu não tinha conseguido dormir a noite e fingia não saber o motivo, mas eu sabia sim.

Minha preocupação não era vê-lo — Quer dizer, era isso também. Mas minha preocupação era de como as coisas ficariam depois disso, como eu ficaria.

Eu tinha medo de voltar na estaca zero, de doer tudo que já doeu até agora... e era uma coisa da qual eu não podia fugir, porque teria contato com ele durante toda gravidez.

— Tô indo mamãe, beijo. — Duda apareceu me assustando e sorri.

— Beijo minha flor, boa aula. — Beijei sua testa e ela sorriu saindo.

Hoje a mamãe iria levar a Duda na escola, agradeci por isso mentalmente, ela estava estranha ultimamente e me ver tão inquieta traria mais preocupação ainda.

Pensei em ontem, ela disse que queria conversar comigo, mas a Isa chegou e acabou que nem conversamos... e hoje ela me evitou quase a manhã inteira, não dando brechas pra eu perguntar.

Senti um arrepio percorrer minhas costas, quando alguém dizia que queria conversar comigo, nunca era uma boa coisa.

Ouvi o barulho de um carro lá fora e olhei pela janela, era ele! Levantei pegando as coisas antes que ele tivesse a ideia inútil de entrar aqui.

Instantemente senti minhas pernas amolecerem quando vi ele dentro do carro, tentei me controlar e respirar fundo, repetir que estava tudo bem, que eram apenas algumas horinhas do seu lado... mas era impossível não ficar nervosa.

Deixei a chave cair no chão e praguejei abaixando pra pegar. Respirei fundo mais uma vez tentando desacelerar meu coração, que merda, por que ele ainda tinha esse feito sobre mim?

— Oi. — Consegui dizer entrando no carro.

— Oi eu... desculpa pelo atraso, o Marco não queria me deixar sair da empresa porque... enfim, não estamos completamente atrasados, certo? — Pedro falou rápido demais e percebi que também estava nervoso.

— Não se você acelerar. — Sorri erguendo as sobrancelhas.

— De maneira alguma, você está grávida, não vou acelerar! — O imbecil falou e revirei os olhos.

— Pedro pelo amor de Deus, o que uma coisa tem a ver com a outra?! — Revirei os olhos sentindo a raiva subir. — Eu não to doente, se você já tá assim agora imagina quando completar 35 semanas!!

— O que são 35 semanas?! — Ele perguntou confuso e bufei de raiva o ignorando.

Fomos o caminho todo em silêncio, na velocidade de uma lesma. As vezes eu percebia que ele me olhava de soslaio, mas não conversou em nenhum momento e agradeci por isso.

Não que eu não quisesse conversar, eu queria, e muito. Queria perguntar como estavam as coisas na empresa, perguntar coisas aleatórias e ter uma conversa normal, mas eu acho que saber da sua vida me machucaria ainda mais, então era melhor evitar.

Assim que chegamos sai do carro sem nem esperá-lo, acho que mais alguns minutos ali e eu enlouqueceria.

— Eu... tenho consulta marcada com a... a... meu nome é Maria Júlia. — Falei trocando as palavras pelo nervosismo.

— Já achei, é só aguardar ali que a doutora Nancy já vai te chamar. — Ela falou constrangida e tentou sorrir, mas deve ter pensado que sou louca.

A nossa vez Onde as histórias ganham vida. Descobre agora