A nossa vez

D o z e

Lancei um olhar mortal pro Pedro quando ele chegou com a Duda e com uma sacola de salgado.

— Você vai me engordar assim. — Falei dando um abraço na Duda e pegando uma coxinha da sacola que ele colocou encima do balcão.

— Por que o tio Pedro foi me buscar hoje? — Ela perguntou tirando a touca já agoniada e olhei feio.

— Você não gostou? — Ele perguntou cruzando os braços.

— Gostei tio Pedro... as outras mamães ficaram encarando nós dois. — Olhei de soslaio pra ele que deu de ombros.

— Que tal você tomar um banho bem quentinho, comer e me contar o que aconteceu hoje na escola? — Perguntei e ela concordou subindo as escadas correndo.

— Não corre na escada! — Berrei e ouvi os passos dela diminuírem.

— Vou arrumar a cozinha viu. — O Pedro falou e concordei com a cabeça.

— Do jeito que são todas fofoqueiras e assanhadas, ou vão começar a comentar ou a dar encima de você. — Falei subindo a escada.

— Espero que seja a segunda opção. — Pedro berrou e revirei os olhos sorrindo.

Dei um banho na Duda ouvindo ela contar sobre o que ela e o Pedro fizeram.

Na verdade só andaram um pouco, compraram um salgado no mercado e voltaram pra casa. Mas isso já era um bom começo... o novo começo.

— Ele vai ir sempre lá mamãe? — Ela perguntou tremendo de frio na hora de sair.

— Vai amor, amanhã ele vai te levar. Pode ser? — Perguntei apertando ela e vi um sorriso brotar.

Descemos pra jantar enquanto ela contava sobre o dia na escola. Era sempre a mesma coisa, fazer dever, brincar com uma amiguinha dela e sair.

Acho que meu dia só valia a pena depois de ouvir ela contar alguma história.

— A gente vai fazer piquenique esse final de semana mãe. — Duda falou e o Pedro fez "shhhh" pra ela. — Ah não era pra contar?

— Como assim piquenique? — Perguntei pro Pedro e ele deu de ombros.

— Tava pensando da gente ir no parque, acho que esse final de semana vai estar vazio. — Ele falou e assenti ficando quieta.

— Esse era um plano só de pai e filha? — Perguntei depois que ela foi assistir e ele revirou os olhos.

— Não Maria Julia, eu ia falar com você pra irmos. — Pedro falou sorrindo de lado e encarei ele. — Hoje quando fui buscar ela na escola fiquei assustado com a quantia de meninos, será que ela já namora?

Encarei ele com a sobrancelha erguida. Eu tava segurando a risada, mas quando vi que ele tava falando sério não aguentei.

Comecei a rir e ele cruzou os braços apenas me olhando sério.

— Nossa, será que é agora que você começa a ficar paranóico e surtar com tudo? — Perguntei ainda rindo. — Eu e ela já conversamos sobre isso, por enquanto ela ainda acha os meninos nojentos.

— Graças a Deus, que continue assim por uns dez anos. — Pedro balançou a cabeça. — Amanhã cedo eu quem busco ela né? — Ele perguntou e assenti.

— Não atrasa, ela gosta de brincar um pouco antes de entrar na sala. — Falei sorrindo.

Ficamos nos encarando por um tempo, seus olhos estavam mais escuros que o normal.

Sempre tínhamos essa troca de olhar intensa que não acabava em merda nenhuma.

— Hoje eu vou ir mais cedo tá? Tenho uns assuntos pendentes pra resolver. — Pedro falou mordendo os lábios e semicerrei os olhos.