Capítulo 16 - AURORA

1.4K 319 40
                                    


 "Você está na sombra do olhar
Pensei em te guardar, mas foi melhor assim
Na sombra do olhar
Tentei te encontrar, mas nada além de mim
De onde estou posso ver
O caminho que me leva a você

Diz pra mim o que eu já sei
Tenho tanta coisa nova

Pra contar de mim"
Malta – Diz pra mim


Percebi os olhares alegres do Otto e da minha mãe quando me viram sair do quarto toda arrumada para a confraternização de aniversário da Giulia. Deixei o cabelo ondulado solto, vesti uma calça escura, uma camisa jeans e bota de cano curto com salto alto. Nada estonteante demais, mas comparado aos últimos dias, para eles é uma vitória. Antes de sair de casa, pude entregar o convite do lançamento do meu vinho para minha mãe, fazer as pazes e pedir perdão novamente a ela por estar sendo uma chata. Prometi que os dias macabros haviam ficado no passado.

Eu estou focada. Focada em tudo que viria e tudo que deveria fazer.

Não consegui falar com Pablo hoje mais cedo, mas tentarei, de alguma forma, falar depois da festa. Não tinha mais como adiar a situação. Não teria como dormir mais uma noite com esse peso dentro de mim.

Estaciono o Sun na praça de Monte Belo.

No outro lado da rua vejo Filipe conversando com algumas pessoas na porta da casa do padre Giovanni. Percebo que ele está arrumado, mas não fico olhando demais.

Era estranho, mas desde que Filipe chegou parece que sempre, de alguma forma, estamos por perto. E o mais louco de tudo é perceber o que tudo isso causa dentro de mim.

Meu coração acelera, minhas mãos transpiram e meus pensamentos são pecaminosos. Hoje, enquanto conversávamos no Leopoldina Jardim, passou pela minha cabeça como seria o seu beijo, o seu toque em minha nuca, seu peito perto do meu. É ainda mais difícil quando olho no fundo dos seus intensos olhos azuis. É tão vivo, charmoso e sensual a forma como ele presta atenção em tudo que falo, que seria impossível não querer prová-lo de forma carnal. E, por alguns momentos, quase consigo sentir que ele pensa o mesmo.

Talvez eu esteja mesmo maluca e fico imaginando coisas que não existem.

Não é certo! Não é.

Eu sei e tenho consciência disso, mas não precisava mentir para mim mesmo sobre os meus desejos. Agora, coloca-los em prática, isso sim seria impossível. Eu o respeitava e sabia da sua condição.

Talvez a solução para evitar toda essa confusão seria evitar ficar ao lado dele. Evitar esses pensamentos sórdidos com o padre.

Pego o bolo da Giulia que está ao meu lado, o espumante que trouxe de presente, minha bolsa e saio do carro, fechando a porta com o corpo. Entro com pressa no bistrô e encontro o lugar cheio.

É difícil ver o bistrô com tanta gente. Geralmente é frequentado por turistas que se esbaldam nas vinícolas da região e chegam aqui para terminar de se afogar nos vinhos.

O som está alto e reconheço alguns amigos de Giulia conversando nas mesas.

Entrego o bolo para a ajudante do Pablo, que o guarda no balcão. Pergunto pela Giulia e ela aponta para o aglomerado de pessoas e a encontro pelos cabelos brilhantes.

Ela me vê e acena, me chamando.

Caminho em sua direção, cumprimento seus amigos e entrego o presente.

— Espumante Brut Swarovski, safra 2011? Meu Deus!

— Parabéns, Giu.

Ela me abraça forte.

QUE ASSIM SEJA, AMORWhere stories live. Discover now