Capítulo 11 - FILIPE - Parte IV

1.3K 383 57
                                    


— Acabei de ter uma ideia! — exclama com animação. — Na verdade, duas ideias.

Ela se vira para o banco traseiro, procurando algo.

Viro-me para ajudá-la.

— O que procura?

No minúsculo espaço entre o banco e a caçamba há tantas coisas que não consigo imaginar o que ela busca.

— Meu violão — responde enquanto enfia a mão no canto direito. — Está aqui. Segure essa caixa... — pede, tirando vários objetos. E, logo, ela puxa o instrumento. — Ah! Sabia que não tinha levado para casa. — Já que estamos aqui, se importa se eu...

— Claro que não.

Na verdade, acho que não seria uma boa ideia para o meu psicológico.

Ela sorri e passa a mão sobre o violão para tirar a poeira. Toca devagar alguns acordes e o afina com cuidado.

— Qual é a outra ideia?

Ela indica com o rosto o vinho entre a gente.

— O vinho?

Ela concorda.

— Podemos beber. Depois te dou outro de presente.

— Ah, não por isso. Mas — ergo a minha mão. — Não trouxe um abridor comigo.

Aurora sorri. Um sorriso arteiro e ajeitando o violão ao lado, se vira para trás novamente.

— Toma. — Ela me entrega o objeto e eu arregalo os olhos. — Não fique com essa cara. As mulheres têm de tudo dentro de um carro.

Ela sorri e volta a colocar o violão na posição correta enquanto eu abro o vinho.

— Alguma sugestão? — pergunta.

— Terei um show particular? — pergunto, fazendo força para puxar a rolha.

— É. Acho que sim.

Abro a garrafa.

— Como vamos... — Eu iria falar que não tinha taças, mas ela pega a garrafa da minha mão e bebe no gargalo um gole e depois, estende para mim.

— Talvez isso nos aqueça um pouco — falo, esfregando as mãos para esquentá-la, antes de pegar e beber um pouco.

— Filipe! Está com frio? Eu estou com o seu casaco. Só não posso tirá-lo agora...

Ela estende a mão e pega a sua blusa que está estendida sobre o painel do carro. Eu havia me secado nela.

— Não! Nem pensar — digo.

— Procurei por um casaco nessa bagunça — indica a parte de trás. — Mas não encontrei. Quem errou de vir de camiseta sem trazer um casaco fui eu. Não é justo você sentir frio.

— Jamais deixaria você sentir frio. Eu aguento.

— A temperatura caiu muito, Filipe. Deve estar uns 10 graus e você está molhado.

Pisco algumas vezes. Não sei o que ela tem em mente.

De repente, ela chega mais perto, encostando a sua perna direita na minha esquerda.

Seus olhos me questionam.

— Precisamos ficar perto — murmura bem próximo. — O vinho vai ajudar. Calor do corpo também ajuda. Tudo bem?

Apenas faço que sim com a cabeça, sem me mover demais diante da sua aproximação.

Seu nariz e bochechas estão rosados por conta do frio. Sua calça e seus cabelos também estavam encharcados. Bebo um grande gole do vinho e ela faz o mesmo.

QUE ASSIM SEJA, AMORWhere stories live. Discover now