Capítulo 11 - FILIPE - Parte II

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Tentamos mais umas duas vezes e nada. Sem ter o que fazer e com a chuva incessante, resolvo voltar para o carro.

Aurora abre a porta. Entro com pena de sujar o carro.

Olho para ela sem me mexer.

E, sem falar nada, ela começa a rir quando analisa a minha situação.

A risada vira uma gargalhada alta, quase virando uma canção em meus ouvidos.

— Desculpe... — pede, sem se controlar. — Você está me dando medo, homem lama!

Eu começo a rir também, limpando os olhos que estão ardendo.

Ela se vira para trás e procura por algo no banco traseiro.

— Precisamos de alguma coisa para te limpar...

— Apenas água irá limpar isso.

Sem pensar demais, saio novamente do carro.

Dou a volta no veículo e abro a porta dela, pegando sua mão, puxando-a para fora.

— Você é louco? — Ela retira o casaco que visto com pressa e o joga para dentro do carro.

— Já que estamos atolados, precisamos aproveitar! — grito sobre o forte barulho da chuva.

Fecho meus olhos e deixo a chuva cair sob o meu rosto. Mais para apagar o fogo que queima em minha pele.

Abro-os e vejo Aurora ao lado fazendo o mesmo. Aproveito a situação para vê-la com mais atenção.

Seus cabelos estão grudados em seu rosto e ombros, sua blusa e calça justas marcando ainda mais o seu corpo curvilíneo.

Seus cabelos estão grudados em seu rosto e ombros, sua blusa e calça justas marcando ainda mais o seu corpo curvilíneo

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Assim que ela abre, fecho os meus, disfarçando.

Deus, eu... eu estou perdido.

Até que sinto sua mão encostar no meu braço.

Abro meus olhos assustado. E encontro seus olhos.

Estou pronto para abrir a boca e negar qualquer coisa que ela esteja disposta para fazer, mas não consigo me mover.

Aurora passa a mão pelo meu braço, retirando a crosta de lama que ficou grudada.

Algo no minha fisionomia faz Aurora perceber o modo como me sinto.

— Eu só vou te ajudar — ela fala, sem sorrir.

Seu rosto angelical tão próximo do meu e seu toque inesperado me deixa atordoado. Não consigo desviar meu olhar dos seus lábios tão excitantes.

Os pensamentos sórdidos voltam.

Os pensamentos sórdidos voltam

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Eu a agarraria. Deus, eu enlaçaria sua cintura sobre a minha, sentindo-a sobre os meus braços. Eu a encostaria em seu carro amarelo. Tomaria sua boca, morderia seus lábios, engoliria seus gemidos só para mim. Apenas para mim. Daria tudo o que tenho e a deixaria feliz.

Diante do seu toque, fico no ponto de fazer tudo o que está preso na minha imaginação, mas recebendo uma onda de lucidez, me afasto.

— Desculpe, eu... — Minha voz perde força.

Eu não posso.

Não posso.

Diante da minha atitude, ela me olha constrangida.

Por um segundo nos entreolhamos e ela, sem dizer nada diante da minha reação, volta para o carro.

Deus, o que estou fazendo?

O que estou fazendo, Senhor?

Fico por mais um tempo deixando a água me purificar. Querendo que purificasse a minha alma perdida. Volto para o carro e Aurora está imóvel ao lado.

Respiro fundo até que ela se vira.

— Toma... — Ela me entrega uma blusa.

Pego o que ela me entrega e abro para ver. É a sua blusa do Rolling Stones.

Olho para o lado e vejo que ela está vestida com o meu casaco.

— Está molhada, mas vai te ajudar a esfregar — fala, sem me olhar. — Depois se enxuga com essa toalhinha. Eu encontrei na minha bagunça que fica aí atrás.

Eu não poderia mais pegar aquele casaco e imaginar por onde ele passou. Isso me mataria!

— Obrigado.

Passo a blusa sobre o rosto.

O cheiro do tecido me embriaga. Seu cheiro. Senti tão de perto quando lhe mostrei a flor de Lótus no lago. O seu delicioso cheiro.

Respiro fundo novamente. Onde estou com a cabeça?

Depois que eu tiro a maior parte da lama, os olhos aflitos dela encontraram os meus.

— Melhor?

Faço que sim.

— Obrigado — peço novamente.

— De nada. Agora... — ela inspira devagar. — Devemos esperar a chuva passar.

— É. — Me limito a dizer.

— Alguém sentirá sua falta? — pergunta ela.

— Não sei. Podemos dizer que Padre Giovanni não está muito satisfeito com a minha presença.

Ela me olha com curiosidade.

Olho para ela esperando alguma pergunta, mas ela vira para frente.

— Eu costumo dormir no Pablo. Não sentirão a minha falta — conta, sem grudar seus olhos nos meus.

Sinto um balde de água fria me atingir. Além de estar pecando diante da minha promessa divina, eu estava tendo pensamentos impuros com uma moça comprometida. E o pior, Pablo, seu namorado, parecia ser o homem digno e muito apaixonado.

— Então estamos presos aqui — digo atordoado, sem saber ao certo o que falar.

— Estamos.

— Desculpe por isso, Aurora.

— Pelo o quê? — pergunta sem titubear.

Franzo o cenho diante da sua expressão.

— Por ficar presa aqui — digo. Mas queria pedir mais desculpas pelas minhas atitudes impróprias.

— Não. A culpa foi minha. Eu sabia que a estrada deveria estar ruim e... arrisquei.

Fico calado. Ambos olhando para o breu da frente, sendo desfeito apenas pelo clarão dos trovões que insistem em prosseguir.

Ela fica calada.

Por alguns minutos resolvo fazer o mesmo. Porém, o que ela pensa sobre mim e o que ela deve estar pensando me deixa incomodado.

QUE ASSIM SEJA, AMORWhere stories live. Discover now