Nesse momento, o Sun resolve morrer.
— Merda! — praguejo.
Giro a chave na ignição. Nada.
Giro mais uma vez.
— Ah, não! Sun! Sunzinho... vamos lá! Vamos, meu amor... Vamos!
Ele pega.
Bufo alto.
Assim que coloco a primeira e piso no acelerador, ele não sai do lugar.
Tento várias vezes e nada. Ele não reage.
Filipe abre a sua janela e se molhando ainda mais, debruça e coloca a cabeça para fora.
— Acelera! — pede num grito.
Faço o que pede.
Nada.
Ele volta ao banco e fecha o vidro.
— Está atolado.
— Merda! — exclamo de novo e olho para ele.
O cara deve me achar uma pecadora desbocada.
— Merda mesmo — concorda.
Aperto os lábios para não rir.
— Padre fala palavrão?
— Só nos momentos em que ficam atolados.
Sorrio.
— O que fazemos? — pergunto. — Talvez seja melhor eu sair e ver esse pneu.
— Não, Rory. Está chovendo muito. Acho melhor não tentarmos nada. Vai atolar ainda mais. Fora que esses trovões não param. É perigoso.
Fico feliz por ele me chamar de Rory pela primeira vez.
— Se não estivéssemos tão longe... — Filipe olha para trás. — Poderíamos voltar para a casa de pedra e...
— Eu não voltaria para lá nem se estivéssemos a 100 metros de distância.
— Era só um gato, Rory — murmura, olhando para trás do Sun, analisando o percurso.
— Mas poderia ser uma cobra.
— Por que tanto pavor de cobra? Já foi picada?
— Não. Mas meu pai foi.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Foi por isso que ele...
— Não. Ele não morreu por causa disso.
Filipe percebe que eu não quero falar sobre isso.
A noite logo chega e a chuva não para. Pelo contrário, parece aumentar de intensidade.
— Poderíamos pedir ajuda. O que acha? — Filipe dá a ideia e pega o celular do bolso.
Olho para ele e sorrio.
— Acha que já não pensei nisso?
— Não tenho sinal — diz, analisando o aparelho.
— Não tem sinal aqui para nenhuma operadora. Estamos muito distantes.
— O que faremos agora? — É a sua vez de fazer essa pergunta.
— Esperar essa chuva passar, o solo secar e tentar sair desse buraco. Mas...
— Mas?
— Podia dizer que iria empurrar o Sun, mas ele é enorme.
— Eu posso empurrar e você dar a partida. O que acha?
Percebo seu desespero em fazer alguma coisa.
Ficar presa comigo em um carro até a chuva passar, pelo jeito, não era uma opção muito viável.
É claro. A doida aqui fica o encarando sem motivo.
— Quer tentar? — pergunto.
Ele concorda e analisa o lado de fora. Assim que ele coloca a mão na maçaneta da porta, seguro sua outra mão.
— Não é melhor tirar a camisa? Vai encharcá-la ainda mais e...
Hã?
O que eu disse?
O que eu falei?
— Eu não posso — murmura, enquanto abre a porta e sai do carro.
— Merda! Merda! Merda! — Sozinha, reclamo dentro do carro. — Eu estou louca.
Muito louca!
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QUE ASSIM SEJA, AMOR
RomanceComo pode o mais belo amor ser proibido? Um amor impossível e duas pessoas dispostas a lutar contra o mais profundo dos sentimentos. - OBRA REGISTRADA. Plágio é crime.