Capítulo 10 - AURORA - Parte III

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Nesse momento, o Sun resolve morrer.

— Merda! — praguejo.

Giro a chave na ignição. Nada.

Giro mais uma vez.

— Ah, não! Sun! Sunzinho... vamos lá! Vamos, meu amor... Vamos!

Ele pega.

Bufo alto.

Assim que coloco a primeira e piso no acelerador, ele não sai do lugar.

Tento várias vezes e nada. Ele não reage.

Filipe abre a sua janela e se molhando ainda mais, debruça e coloca a cabeça para fora.

— Acelera! — pede num grito.

Faço o que pede.

Nada.

Ele volta ao banco e fecha o vidro.

— Está atolado.

— Merda! — exclamo de novo e olho para ele.

O cara deve me achar uma pecadora desbocada.

— Merda mesmo — concorda.

Aperto os lábios para não rir.

— Padre fala palavrão?

— Só nos momentos em que ficam atolados.

Sorrio.

— O que fazemos? — pergunto. — Talvez seja melhor eu sair e ver esse pneu.

— Não, Rory. Está chovendo muito. Acho melhor não tentarmos nada. Vai atolar ainda mais. Fora que esses trovões não param. É perigoso.

Fico feliz por ele me chamar de Rory pela primeira vez.

— Se não estivéssemos tão longe... — Filipe olha para trás. — Poderíamos voltar para a casa de pedra e...

— Eu não voltaria para lá nem se estivéssemos a 100 metros de distância.

— Era só um gato, Rory — murmura, olhando para trás do Sun, analisando o percurso.

— Mas poderia ser uma cobra.

— Por que tanto pavor de cobra? Já foi picada?

— Não. Mas meu pai foi.

Ele arqueia uma sobrancelha.

— Foi por isso que ele...

— Não. Ele não morreu por causa disso.

Filipe percebe que eu não quero falar sobre isso.

A noite logo chega e a chuva não para. Pelo contrário, parece aumentar de intensidade.

— Poderíamos pedir ajuda. O que acha? — Filipe dá a ideia e pega o celular do bolso.

Olho para ele e sorrio.

— Acha que já não pensei nisso?

— Não tenho sinal — diz, analisando o aparelho.

— Não tem sinal aqui para nenhuma operadora. Estamos muito distantes.

— O que faremos agora? — É a sua vez de fazer essa pergunta.

— Esperar essa chuva passar, o solo secar e tentar sair desse buraco. Mas...

— Mas?

— Podia dizer que iria empurrar o Sun, mas ele é enorme.

— Eu posso empurrar e você dar a partida. O que acha?

Percebo seu desespero em fazer alguma coisa.

Ficar presa comigo em um carro até a chuva passar, pelo jeito, não era uma opção muito viável.

É claro. A doida aqui fica o encarando sem motivo.

— Quer tentar? — pergunto.

Ele concorda e analisa o lado de fora. Assim que ele coloca a mão na maçaneta da porta, seguro sua outra mão.

— Não é melhor tirar a camisa? Vai encharcá-la ainda mais e...

Hã?

O que eu disse?

O que eu falei?

— Eu não posso — murmura, enquanto abre a porta e sai do carro.

— Merda! Merda! Merda! — Sozinha, reclamo dentro do carro. — Eu estou louca.

Muito louca! 

QUE ASSIM SEJA, AMORWhere stories live. Discover now