Capítulo 14 - AURORA - Parte II

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Ele retira a sua inseparável boina marrom, colocando-a sobre o peito.

— Como está, Aurora? — pergunta com um sorriso acolhedor.

Franzo o cenho e levanto-me.

— Eu estou bem. — Mostro um sorriso também. — Desculpe, eu sou péssima com nomes. Você é o...

— Mattias. Gosto de ser chamado de Mattias. — Ele estica uma das mãos.

Ele não é tão velho assim. Acho que as roupas surradas e a boina o envelheciam demais.

Eu o cumprimento.

— Nos vimos algumas vezes lá fora e...

— Sim. Eu me lembro de você, só não recordava do nome. Eu até deveria, já que trabalha aqui. Peço desculpas por isso.

— Não se incomode com isso, senhorita. São muitas pessoas para se lembrar de todas elas.

Sorrio e concordo.

— Então, Mattias, alguma coisa que eu possa ajudá-lo?

— Gostaria de ver o Otto — diz, olhando ao seu redor.

— Hum, o Otto não está em casa. Será que eu posso...

— Não se preocupe, Aurora. — Ele sorri. — Não há nada com o que se preocupar.

— Tem certeza?

Com olhar calmo e sorridente, ele assente.

— Não há nada que não podemos resolver sozinhos. — Ele aperta os lábios e coloca a boina na cabeça. — Problemas sempre existirão.

Arfo, concordando com a cabeça.

— Seria tão mais fácil se eles não existissem, não é, Mattias?

— Sim, mais fácil, porém se não quisermos ter problemas, basta não existir.

— É. É verdade — sorrio.

— Existir se resume em batalhar todos os dias contra esses problemas. Resolvê-los é a grande recompensa. É aí que vem as nossas experiências. Não aprendemos que o fogo queima sem que possamos sentir na pele.

Respiro fundo, achando aquele papo estranho, porém tudo parece se encaixar no momento em que me encontro. Resolvo absorver o que ele acabou de falar.

— Você tem razão.

Ele sorri de volta.

— Agora, olhe que dia lindo... — Ele aponta para a vista totalmente descoberta na qual a casa tem. O céu azul-celeste, as parreiras em verde vivo e um sopro de vento refrescante. — Lindo demais para cruzarmos os braços e vermos a vida passar, não é?

Concordo, com um nó na garganta.

— Desculpe, eu estou falando demais.

— Não... não tem problema, Mattias. Era exatamente o que eu precisava ouvir.

Ele meneia em agradecimento.

— Se me der licença, Aurora, eu preciso ir. Vou resolver os meus problemas e, que a senhorita, possa resolver os seus com sabedoria.

Mattias se vira e sai caminhando devagar. Eu apenas fico parada. Por um breve momento, me permito experimentar a sensação de um otimismo verdadeiro.

O que estou fazendo?

Seguro novamente minha flor de lótus em meu pescoço.

— Lindo demais para cruzarmos os braços e vermos a vida passar. É verdade. Ele tem razão.

QUE ASSIM SEJA, AMORWhere stories live. Discover now