Capítulo 14 - AURORA - Parte III

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A Casa Fontenelle tem o prazer de convidar para o lançamento do mais novo

rótulo da nossa vinícola:

AURORA

Safra 2012


Agradeço o que estavam fazendo pelo Aurora e por mim.

Otto se levanta da mesa e Gael vai até a recepção deixar a sua pasta.

— Então você fez a sua escolha? — pergunta Otto e eu levanto-me também.

— Deixei a papelada assinada na sua mesa.

Otto me abraça.

Ele é de poucos abraços, mas sei o quanto essa informação é importante para ele. Seu trabalho não seria entregue ao vento. Seu olhar fica mais leve.

— Serei grato eternamente, minha filha.

Beijo o seu rosto e levanto os convites em minha mão.

— Vou começar bem toda essa responsabilidade, não é? Acho que já tenho para quem dar esse primeiro convite. Cadê Giulia? Não a vi.

— Ela está de folga pela manhã — conta Otto. — Sua mãe alugou a Giulia para ela ser sua substituta.

— Como assim?

— Ela está levando o tal padre pra conhecer os lugares durante essa última semana, já que você estava indisposta.

— O QUÊ? — Minha surpresa não era para ser dita em voz alta.

— Ah! Você conhece sua mãe, não é? Aquela ali adora deixar as pessoas ocupadas. Parece que sentiu pena do novo padre porque o velho Giovanni... — ele chega perto do meu ouvido. — Anda meio lelé da cuca.

— Isso eu já sabia.

— Você acredita que ele falou para sua mãe que eu estou negando Deus em minha vida por não estar indo à missa aos domingos? Tenha santa paciência!

— Acredito. Ele me disse coisa pior.

— Estou impossibilitado! Olhe para mim, pendurado nessa maldita bengala! Nem dirigir sozinho eu posso mais. E esse velho tem quase a mesma idade que eu! — Ele se aproxima e sussurra no meu ouvido: — Não espalhe que eu estava aqui, viu!

— Não farei isso.

Sorrimos.

— A Fátima disse que o novo padre é um bom rapaz.

— Ele é sim.

Suspiro.

Talvez mais coisas do que ser apenas um bom rapaz.

— Convide ele para o lançamento do vinho.

— Farei isso.

— Bom, agora eu vou indo.

— Eu te levo para casa, Otto.

— Não. Gael falou que me levaria, assim como me trouxe. Vamos tomar um licor lá em casa. Agora tenho motivos reais para comemorar. Não se importe comigo. Vai aproveitar o dia.

Ele beija minha testa e caminha na direção do Gael.

Mal sabia Otto que eu não tinha nada para fazer.

Volto a me sentar e peço ao garçom uma taça de vinho rosé e resolvo ligar para Giulia.

Uma pontada de raiva me invade.

Será que Filipe sabia que Giulia também não ia à igreja e nem fazia questão? Será que Giovanni não lhe contou isso?

Claro que não. O padre chato ama pegar no meu pé.

Giulia não me atende.

Bebo a taça toda e me despeço do pessoal. Para seguir em frente, eu precisava fazer mais uma coisa. No fundo, acho que havia postergado demais essa atitude.

Entro no Sun e ligo para o Pablo.

— Alô — ele atende sem muita animação. Eu não estava esperando algo diferente.

— Oi, Pablo, sou eu Aurora.

— Eu sei que é você. Como está?

— Bem, quer dizer, melhor da gripe.

— Que bom.

— Você está em casa? Eu queria...

— Estou no bistrô. Cheguei cedo para organizar algumas coisas. Hoje à noite vamos comemorar o aniversário da Giulia.

Aniversário da Giu? Eu esqueci!

— Ah sim, claro. Será que eu posso ir até aí?

— Preciso responder?

Satisfeita com a resposta, despeço-me e desligo a ligação.

Alguns minutos depois chego a Monte Belo do Sul e estaciono em frente ao bistrô.

Meu coração se aperta, mas eu precisava deixar o Pablo livre para viver a vida dele. Havíamos prorrogado o nosso relacionamento por tempo demais e chegou a um ponto em que não existiam mais motivos para continuar.

Saio do carro respirando fundo. Não ensaiei nenhuma frase, não sei o que devo falar, apenas sei que devo fazer o que é certo, sem magoá-lo. Pablo era um bom homem e só merece coisas boas.

Ajeito a blusa e entro no bistrô.

Quase levando um banho de água fria, ele sorri quando me vê.

Era incrível a capacidade dele de esquecer as coisas que aconteceram.

Talvez eu quisesse que ele demostrasse alguma raiva por mim. Que tivesse algum sentimento que eu teria no seu lugar.

Seria tudo tão mais fácil.

— Oi — ele vem me beijar e, sutilmente, eu viro o rosto. O beijo fica no canto da boca.

— Sua vaca sumida! — A voz alta de Giulia me assusta, enquanto seus passos se aproximam, abraçando-me por trás.

— O que faz aqui? — pergunto, espantada. — Acabei de ligar e você não atendeu...

— Cheguei agora, mulher, nem vi meu celular.

— Aliás, feliz aniversário, Giulia.

— Você lembrou? — Ela faz um beicinho.

Olho para o Pablo que me dá uma piscadela. Ele percebeu que eu havia esquecido.

Eu a abraço apertado.

Quando abro os olhos por cima dos ombros da Giulia, vejo os olhos azuis mais belos que já havia visto na vida.

Filipe me olha de volta, com um sorriso em seus lábios e engulo em seco com o coração disparando.

QUE ASSIM SEJA, AMORWhere stories live. Discover now