Capítulo 13 - FILIPE - Parte II

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Sem resposta e decepcionado comigo mesmo, faço o caminho de volta andando, sem pressa.

Chego a pensar que estou perdido, mas depois de uma hora, consigo me situar e logo chego à praça principal, onde se localiza a igreja e a casa do padre Giovanni.

Como se meus pensamentos tomassem forma, vejo o Sun parado na praça e, logo avisto Aurora e Giulia dentro do carro.

Meu coração salta em um compasso acelerado como se eu recomeçasse a maratona de logo cedo e, involuntariamente, aceno com um sorriso.

Penso em ir até lá. Perguntar como ela está, mas seu gesto foi, no mínimo, simples.

O que eu queria? Que ela soltasse fogos quando avistasse um padre?

Resolvo então entrar na casa, angustiado.

Ela não iria mais querer ficar perto de mim. Na certa, colocou a cabeça no travesseiro e pensou que tudo o que fez foi uma burrice.

Eu não sou idiota. Percebi que meus olhares eram correspondidos e, muitas às vezes, podia até prever o que ela estava pensando. O que aconteceu na noite de ontem iria, com toda a certeza, reforçar sua decisão de evitar essa possível reação química que existia entre nós.

No fundo, eu torcia para que eu estivesse certo em minhas percepções.

Encontro o padre Giovanni lendo alguma coisa no sofá.

— Seu celular tocou — ele me informa, sem me olhar.

Nossa relação não estava das melhores e esse era mais um problema que eu deveria resolver.

— Obrigado, padre — agradeço o recado, vou até o quarto e pego o meu celular.

Uma ligação perdida do Bispo Túlio.

Fecho a porta do quarto devagar e retorno a ligação.

— Oh, Filipe! Como está aí no Sul, meu filho? — Sua voz é reconfortante, mais até do que eu poderia imaginar.

— Estou bem e o senhor?

— Com saudades sua. Não só eu, mas todos aqui no Rio.

— Mande meu abraço para todos.

— Mandarei sim. Mas me diga, como estão sendo os primeiros dias?

— Foram interessantes.

— Interessantes? Isso seria bom ou ruim?

— Um pouco dos dois.

Eu não queria enchê-lo com problemas. Eu deveria me virar sozinho.

— Mas não é nada que eu não consiga resolver, padre. Fique tranquilo.

— E, por acaso, já provou o famoso vinho daí?

— Já sim. Conheci uma enóloga e provei o seu vinho. Fantástico, Túlio. E eu me lembrei de você na hora.

— Oh, meu filho. É bom fazer amigos. E padre Giovanni? Esse velho não anda te perturbando, não, é?

— Ainda estou avaliando a melhor forma de lidar com ele.

— Essa é uma boa saída. Não esqueça que estou sempre aqui, tudo bem?

— Eu sei que sim.

Nós nos despedimos e eu resolvo organizar algumas coisas para ocupar a cabeça, até que encontro a pequena caixa que Milena havia me dado.

A caixa da minha mãe que trouxe na bagagem. Abro-a com cuidado, sentando-me na beirada da cama.

Podia sentir meu olhar de tristeza quando vejo alguns objetos, como o seu rosário tão querido, e fotos antigas bagunçadas na caixa.

Sinto tanto a sua falta, mãe.

Por que teve que partir tão precocemente?

Respiro fundo e pego uma das fotos.

Eu deveria ter por volta dos 10 anos de idade. Estava sentado na mesa de casa junto com Milena. Era o meu aniversário e ainda lembro o quanto minha mãe havia economizado para comprar um filme para a máquina fotográfica manual que a sua patroa tinha lhe emprestado. Acho que foi o meu primeiro registro em foto. Não me recordo de ter visto fotos de quando era mais novo do que essa.

Pego algumas fotos 3x4 da minha mãe em vários anos diferentes. Uma pose séria típica de fotos que estampam documentos de identidade e carteira de trabalho. Uma pena que ela também mantinha essa fisionomia fora da fotografia.

Remexendo, vejo também fotos que nunca havia visto. Em uma delas, bastante antiga, vejo um casal idoso e consigo perceber que é minha mãe, bem nova, no meio deles. Na parte detrás da foto, à caneta, está escrito:

1980.

Meus queridos pais.

Hermínia e Elias.

Ela sempre dizia que não tinha nenhuma recordação do seu passado.

Por que ela nunca me mostrou essa foto?

QUE ASSIM SEJA, AMORDove le storie prendono vita. Scoprilo ora