***
Acordo no final do dia, me espreguiçando com a dor de cabeça ainda latejante.
Pego um analgésico e vou até a cozinha.
Não encontro ninguém. Nem Otto, nem minha mãe.
Agradeço mentalmente e pegando um copo de água, engulo o remédio.
Não querendo voltar para cama, resolvo sair de casa.
Tomo um longo banho. Coloco uma calça jeans, uma camisa preta, bota de cano curto e vejo o casaco do Filipe sobre a minha cama.
Sorrio e o levo comigo para o Sun.
Minutos depois chego em Monte Belo e estaciono o carro na praça.
Pego o casaco do Filipe e bato na porta do Padre Giovanni, que logo atende.
— Oi — digo, forçando um sorriso sobre a surpresa estampada na cara do padre.
— Oi, Aurora. O que devo a honra?
Honra?
Quase reviro meus olhos, mas me controlo.
— O Filipe está? — pergunto sem delongas.
— Padre Filipe? Hum... não. Ele saiu, acho que foi correr por aí.
— Ah. Tudo bem. Depois eu falo com ele, então. Obrigada.
Seguro o casaco com força nas mãos e começo a caminhar.
— Ei, guria! — Ele me chama e me viro.
Ele torce a boca que fica ainda mais franzida sobre sua pele e barba branca.
— Agora é amiga do padre?
— Acho que sim, por quê?
— Ele sabe que você é ateia?
O quê? Eu ouvi direito?
— Ateia? — pergunto, sem acreditar na pergunta.
— É. Que não acredita em Deus.
— Eu sei o que significa ateia, padre.
— Você não vem à igreja, não fez catequese e nunca pagou o dízimo. — Ele enruga ainda mais a sua testa. — Acredito que seu envolvimento com Deus seja nulo.
Sinto meu sangue subir à cabeça.
Cerro os meus olhos em sua direção e o fuzilo apenas com o olhar.
— Não. Filipe não sabe. — Mostro-lhe um sorriso cínico com a carga certa de deboche.
Ele ergue as sobrancelhas brancas sob os grandes óculos.
— Com certeza ele pedirá outra pessoa para levá-lo para conhecer o lugar quando souber.
— Ah é? Você contará ou eu? — Coloco uma das mãos na cintura. Pronta para atacar com mil palavras.
— Eu já dei umas dicas, mas acho que precisarei ser mais claro.
O que esse homem está falando?
— Que assim seja, padre Giovanni. Desculpe, eu tenho que ir. Tenho mais o que fazer.
Forço um sorriso mais debochado ainda.
Saio da frente da sua casa com raiva e ouço sua porta fechar.
Jogo o casaco do Filipe dentro do Sun e arfo.
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QUE ASSIM SEJA, AMOR
RomanceComo pode o mais belo amor ser proibido? Um amor impossível e duas pessoas dispostas a lutar contra o mais profundo dos sentimentos. - OBRA REGISTRADA. Plágio é crime.