Capítulo 9 - FILIPE - Parte II

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FILIPE

continua...


Ao atravessar a rua para a praça vejo um grupinho de meninas que acenam para mim. Aceno de volta e elas cochicham. No outro lado da rua vejo Pablo trabalhando em seu bar.

Aguardo por alguns minutos. Por mais que eu quisesse que isso acontecesse, eu não queria que ela fizesse isso obrigada.

Eu preciso dizer, novamente, que ela não deve se preocupar comigo.

Talvez eu devesse acrescentar na lista de tarefas que, além de encontrar uma casa para alugar, eu deveria comprar um carro. Tive que vender o meu antes de vir.

Ligo para ela, mas ninguém atende.

Quase volto para a casa, mas o repudio do padre Giovanni era algo que estava começando a me incomodar.

Eu deveria aguentar esse fardo. Afinal, eu tinha muitos propósitos ao sair do Rio.

Até que a vejo chegar em uma caminhonete amarela antiga.

Aceno sentindo um pouco dos meus músculos vibrarem.

Ela abre a porta e eu entro no carro.

— Desculpe a demora, Filipe.

Seus olhos castanhos me fitam com acalanto.

— Eu não quero atrapalhar seus afazeres. Por isso liguei. Não ficaria magoado.

Ela faz que não. Sorrindo depois de alguns segundos, como se fosse para si mesmo, ela olha para as minhas mãos.

— Casaco? — aponta.

— Não quero passar frio.

— O dia está lindo, Filipe. Não vai chover.

— Sou precavido — sorrio.

— É claro que é. — Ela sorri de volta.

Ela olha para frente, como se pensasse em algo e volta a me olhar.

— Olha, eu preciso falar uma coisa.

Franzo o cenho. A vibração dos músculos aumenta de intensidade.

No fundo eu estava disposto a entender o porquê a sua presença me causava isso.

— Tudo bem. — Ajeito-me no banco sem conseguir falar muito.

— Você é padre. Eu... como posso dizer... não sou ligada a nada da sua religião e confesso que estou bastante apreensiva com isso. Não sei como me portar, entende? Desculpe falar assim. É que diante de tanta coisa que estou na cabeça, não estou com vontade e nem paciência de testar isso aos poucos e...

— Calma, Aurora. — Peço um tempo com a mão. Ela arfa, encontrando meu olhar sereno com olhos tímidos. — Lembra quando me encontrou aqui na praça?

Ela concorda com a cabeça.

— Eu sou aquela pessoa. Não é porque sou padre que você deve me tratar diferente. Eu nem gostaria.

O nervosismo dela me dá a grande oportunidade de observá-la de novo. Ela está usando uma camiseta de uma das bandas que gosto.

— Adoro Rolling Stones — digo, querendo desfazer o seu visível desconforto.

Ela estica a blusa.

— Eu também. — Seu sorriso era menos carregado.

Ela respira fundo e coloca os cabelos para trás dos ombros.

QUE ASSIM SEJA, AMORWhere stories live. Discover now